Entenda as diferenças entre Líbano e Hezbollah, o “Partido de Deus”
Grupo militante xiita tem braços político, social e paramilitar, mas não governa o país
O grupo militante xiita Hezbollah, em conflito com as Forças de Defesa de Israel, é muitas vezes chamado de “um Estado dentro do Estado” no Líbano.
Isso porque a organização tem tentáculos em praticamente todas as esferas de poder no país e atua como um verdadeiro governo paralelo em várias áreas.
Apesar disso, não deve ser confundido com o próprio governo ou com a entidade que é a República do Líbano.
O Hezbollah, que significa “Partido de Deus”, tem pelo menos quatro braços muito importantes na sociedade libanesa:
- É um partido político;
- Atua como um movimento social muito ativo;
- Possui vários veículos de mídia, inclusive uma importante TV, a Al-Manar (O Farol);
- É um dos grupos paramilitares mais fortes do Oriente Médio.
Como partido, participa das eleições desde 1992, tem ministros no governo e vários deputados no Parlamento. Ao longo dos anos, foi se consolidando como uma das maiores forças políticas do país.
Sua principal base de apoio está entre os muçulmanos xiitas, que representam cerca de 35% da população –segundo estimativas, já que a questão da composição religiosa no Líbano é tão sensível que não são realizados censos demográficos há mais de 80 anos no país.
Como grupo social, o Hezbollah ocupa muitos espaços críticos deixados pelo falido governo libanês.
O grupo mantém escolas, hospitais, serviços de assistência social e distribuição de alimentos, o que aumenta significativamente a sua popularidade, inclusive entre parte dos cristãos e muçulmanos sunitas.
Mas o braço paramilitar é que de fato dá poder ao movimento, criado na metade dos anos 1980 para resistir à então invasão israelense no país.
Apoiado pelo Irã, de quem recebe financiamento, treinamento, armamentos e apoio político, o Hezbollah se transformou numa das maiores forças paramilitares do Oriente Médio nas últimas décadas
O grupo, considerado terrorista pelos Estados Unidos, União Europeia e muitos outros países, inclusive alguns árabes, tem quase cem mil combatentes e milhares de mísseis e outros tipos de armas.
Muitos de seus militantes lutaram na guerra civil da Síria, ao lado do regime do ditador Bashar Al-Assad, dando ao grupo ainda mais experiência bélica.
A maior parte do arsenal é mantido justamente para atacar Israel, inimigo que o Hezbollah diz querer destruir.
Com tudo isso, o grupo é mais forte até do que o próprio exército libanês –impotente para intervir na atual guerra dentro de suas fronteiras.
Essa impotência também é sentida pelo governo do país, que enfrenta uma enorme crise financeira e, agora, também humanitária.
Por determinação da constituição, os diversos grupos etnorreligiosos dividem vários postos no governo e no Parlamento, para dar equilíbrio político entre eles.
Por isso, a importante distinção entre o Hezbollah e o Estado de fato. Afinal, apenas o primeiro grupo está em guerra com Israel –apesar de civis libaneses de todos os grupos estarem sofrendo com o conflito, assim como os civis israelenses do outro lado da fronteira.