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    Américo Martins
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    Américo Martins

    Especialista em jornalismo internacional e fascinado pelo mundo desde sempre, foi diretor da BBC de Londres e VP de Conteúdo da CNN; já visitou mais de 70 países

    Aparente ataque contra Trump evidencia cultura da violência política nos EUA

    Polarização extrema e livre acesso a armas são elementos que tornam o problema mais intenso num país que já teve quatro presidentes assassinados durante seus mandatos

    O segundo atentado contra o ex-presidente Donald Trump em apenas dois meses evidencia de forma explícita a violência como uma forte marca da política nos Estados Unidos.

    A atual polarização extrema entre democratas e republicanos, o uso desenfreado de informações falsas (especialmente nas redes sociais) e o livre acesso a armas de praticamente todos os calibres são fatores que tornam o problema ainda mais sério.

    O país tem uma longa lista de líderes políticos assassinados por seus inimigos ou por pessoas desequilibradas – classificadas assim segundo as próprias investigações oficiais.

    Entre os mortos, estão nada menos do que quatro presidentes no meio de seus mandatos: Abraham Lincoln (1865), James Garfield (1881), William McKinley (1901) e John F. Kennedy (1963).

    Além deles, Ronald Reagan conseguiu sobreviver a um atentado contra ele em 1981. Em todos esses casos, os responsáveis pelos ataques eram homens usando armas de fogo –compradas em qualquer esquina nos Estados Unidos.

    Ainda é cedo para saber exatamente como este segundo atentado contra o ex-presidente Trump vai influenciar a votação daqui a apenas 50 dias. Mas é certo que os dois lados vão explorar o incidente.

    Aliados do candidato republicano já estão afirmando que ele sobreviveu apenas pela intervenção da providência divina e dizem que isso é uma mensagem para que os eleitores ajudem a mudar o país.

    O próprio Trump já se colocou, mais uma vez, como uma vítima do sistema, afirmando que “nada vai me deter e não vou me render” –usando, ele próprio, uma retórica belicista.

    A candidata democrata, Kamala Harris, e outros membros de seu partido devem invocar a necessidade de um controle maior do acesso às armas para impedir não apenas a violência política mas também os tristes episódios de tiroteios que deixam milhares de mortos todos os anos no país.

    Harris e seus aliados disseram ainda que “não existe espaço para a violência política” nos EUA.

    A história, no entanto, mostra o contrário. E será preciso que todos os líderes políticos façam muito mais para mudar essa realidade, inclusive trabalhando muito mais duro para reduzir a polarização e dar um ar mais civilizado para a política.

    Pelas primeiras reações ao segundo atentado, isto não acontecerá tão cedo.

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