Análise: Desistência dramática de Biden dá última chance para democratas derrotarem Trump
Presidente demorou muito para abrir caminho para um candidato mais jovem, mas decisão ainda pode dar impulso necessário para o partido vencer a eleição


A decisão dramática e tardia de Joe Biden de desistir de sua candidatura à Presidência dos Estados Unidos dá uma última chance ao Partido Democrata para derrotar o ex-presidente Donald Trump nas eleições de novembro.
Biden deveria ter tomado essa decisão semanas ou até meses atrás, sabendo que sua idade e os vários lapsos de memória eram algumas das grandes preocupações do eleitorado americano em relação à disputa contra o candidato republicano.
Além disso, a maioria das pesquisas de opinião mostrava claramente que uma enorme parte dos eleitores não queria votar nem em Biden e nem em Trump, que travaram a última corrida eleitoral nos EUA, em 2020.
Em outras palavras, um novo nome do lado democrata sempre seria uma alternativa atrativa para muitos eleitores, especialmente os moderados e independentes, cansados da polarização raivosa entre os dois líderes que ocuparam a Casa Branca nos últimos anos.
Como um líder experiente, Biden deveria ter percebido isso muito antes. Insistir em sua candidatura inevitavelmente levaria Trump de volta à Casa Branca.
Além disso, ele sempre soube que a possibilidade de um candidato diferente nunca existiu do lado republicano, já que Trump impôs sua vontade à legenda e acabou recebendo o apoio, em alguns casos tímido, até dos seus mais ferrenhos adversários internos.
Além disso, outro nome transferiria os questionamentos sobre idade para Trump, que tem 78 anos e é apenas três anos mais novo do que Biden.
Mas a decisão de Biden só aconteceu depois de muita pressão de outros políticos democratas, preocupados com a possibilidade de uma derrota de lavada para Trump – já que as pesquisas vinham indicando um crescimento dele desde o debate presidencial da CNN, em junho.
A vice-presidente Kamala Harris agora é o nome mais bem posicionado dentro do Partido Democrata para substituir Biden, e ela pode perfeitamente trazer para a campanha a energia necessária para convencer eleitores indecisos a apoiar a legenda.
Escolha rápida e decisiva
Isso, no entanto, depende de alguns passos que precisam ser tomados de forma rápida e decisiva pelos líderes democratas.
Em primeiro lugar, eles precisam definir se simplesmente vão “coroar” Harris como a candidata sem nenhuma disputa ou se vão fazer algum tipo de primária de emergência para definir o nome que estará nas cédulas de votação.
Alguma forma de primária daria mais legitimidade a ela, mesmo que não haja nenhuma oposição mais profunda dentro do partido.

Aliás, outro ponto importante é justamente o Partido Democrata se mostrar unido, todos trabalhando e apoiando Harris. Qualquer divisão mais significativa pode levar a legenda à derrota.
Depois desses passos iniciais, caso confirmada, Harris vai ter que mostrar energia nos comícios e encontros, além dos debates, explorando os pontos fracos de Trump e mostrando uma liderança que, na verdade, nunca apareceu enquanto ela ocupou a vice-Presidência.
Não será fácil, mas caso os democratas consigam fazer essas manobras, especialmente de forma rápida, terão mais chances reais de derrotar Trump.
O candidato republicano sem dúvida vai partir para o ataque contra qualquer nome escolhido pelos adversários.
Mas os democratas conseguiram pelo menos criar um fato novo, de grande impacto, que pode dar o impulso necessário para vencer uma disputa que tem tudo para ser muito dura e decidida por margens muito pequenas em poucos estados.
Quem é Kamala Harris, favorita para substituir Biden na corrida presidencial