Produção industrial automobilística cresceu 3,2% no mês de fevereiro, diz IBGE
Demanda reprimida, dólar alto e falta de matérias-primas ainda impactam negativamente o setor
Após registrar uma perda de 17,4% de dezembro a janeiro deste ano, o setor automobilístico, que corresponde aos veículos automotores, reboques e carrocerias, apresentou um saldo positivo de 3,2%. Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada nesta sexta-feira (1º).
De acordo com o gerente de análise econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marcelo Azevedo, apesar de ser um passo positivo para a indústria, este leve crescimento não significa uma recuperação total no setor.
“A indústria encontra-se abaixo do que era antes da pandemia. É possível que os próximos meses sejam positivos, mas não podemos negar que ainda há diversos fatores que prejudicam esse crescimento que não será forte”, destaca o gerente.
O coordenador dos cursos automotivos da FGV, Antônio Jorge Martins, concorda que ainda é cedo para dizer que este número seja um reflexo positivo das produções automobilísticas.
Ele explica que esse aumento pode ter diversos significados, como a demanda reprimida nos meses anteriores.
“Acredito que essa recuperação seja muito pontual. Não acho que isso possa ser considerado como uma melhora nessas produções. Não estou falando que não terá uma melhora no mercado eventualmente, mas não vai ser imediato. Esse crescimento pode ter sido fruto de uma perspectiva do consumo da sociedade, que teve que deixar de comprar durante um certo período”, explica o engenheiro.
Martins analisa que o dólar alto foi uma das causas da diminuição da produção de automóveis no mercado. Segundo ele, esse fator serviu como um efeito dominó, que impactou a inflação e, consequentemente, os preços dos veículos.
“O aumento do dólar exigiu uma atualização nos preços, porque muitas peças e componentes utilizados nesses veículos são importados. Então, como os preços das montadoras subiram, nos deparamos com um crescimento nos valores desses produtos”, observa.
Falta de insumos
Além do dólar, o engenheiro ressalta que as fábricas foram impactadas pela falta de matéria-prima, por conta da pandemia, e pela alta demanda do mercado.
“Outro fator que ainda não foi resolvido foi a falta de semicondutores. A partir da pandemia, as empresas caminharam para uma transformação digital. A demanda desses semicondutores se elevou de forma significativa”, explica.
Ainda vamos enfrentar isso, porque a pandemia não acabou e essa peça depende de outros países. Antes de 2023 vamos continuar com problemas no setor. Seja em termos de fabricantes de veículos e caminhões. A tendência é que se normalize a partir do ano que vem”.
Para o gerente de análise econômica da CNI, as dificuldades não ocorrem apenas nesse setor. Ele lembra que a guerra e a pandemia também culminaram para o atraso nos insumos.
“Estamos com uma demanda alta e vemos que a indústria exige diversos materiais. Não dá para dizer que esses problemas de insumos foram superados porque não foram. A pandemia e a guerra certamente atrasaram esse ajuste e colocaram mais pressão sobre esses arranjos”, diz Azevedo.
*Sob supervisão de Helena Vieira