Do imposto ao pneu: confira as despesas para manter um carro
Muitos consumidores focam na parcela do financiamento quando considera ter um carro, mas a lista de custos vai muito além, como combustível, seguro e imprevistos
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O carro é quase um integrante da família para os brasileiros. Não só pelos cuidados e atenção que o bem recebe, mas o ‘status’ também pode ser sentido nos custos para se manter um veículo, seja para o dia a dia ou apenas nos finais de semana.
Assim como os gastos com saúde, educação, alimentação e lazer, o consumidor deve colocar no papel o quanto desembolsa para manter seu veículo e, principalmente, ficar atento para não transformar o bem em um déficit orçamentário.
A lista de despesas que com o automóvel deve considerar não contém só as parcelas do financiamento. Especialistas em finanças pessoais apontam que a lista de débitos deve incluir gastos sazonais e contínuos.
Para auxiliar na tarefa de calcular o custo do veículo no bolso, o CNN Brasil Business ouviu orientações de especialistas do setor automotivo, do mercado de seguros e de finanças pessoais e levantou dados com órgãos do governo federal.
Sazonais
O primeiro grupo traz o IPVA (Imposto Sobre Propriedades de Veículos Automotores) e o Licenciamento. Cada estado possui um cronograma de pagamento e uma tabela de valores para ambos os impostos.
O licenciamento só pode ser feito se o veículo não tiver registro de multas de trânsito. Caso contrário, a multa deverá ser paga antes. Quem for flagrado circulando sem licenciamento será multado em R$ 293,47 e receberá sete pontos na CNH, segundo o CTB (Código de Trânsito Brasileiro).
Lembrando que em 2022 há uma despesa a menos com o veículo. Pelo segundo ano consecutivo, o seguro DPVAT não será cobrado.
Contínuas e que pesam no bolso
O segundo conjunto de despesas, aquelas contínuas, inclui, principalmente, combustíveis, manutenção, seguro e estacionamento. Para algumas pessoas, o custo com pedágios também deve fazer parte do planejamento.
Com relação aos combustíveis, a referência é a tabela de preços divulgada pela ANP (Agência Nacional de Petróleo). No último lavamento, válido para o período de 2 a 8 de janeiro, o custo médio era de R$ 6,5 (gasolina comum), de R$ 6,7 (gasolina aditivada), de R$ 5,05 (etanol), de R$ 5,3(diesel) e de R$ 5,4 (diesel S10).
Para quem tem um carro flex na garagem, a dúvida é se o álcool é a melhor escolha para o bolso e, consequentemente, para o meio ambiente. Segundo o engenheiro Cassio Pagliarini, da Bright Consulting, a opção pelo etanol é indicada quando o custo do litro equivale a 75% (3/4) do litro da gasolina.
Se a porcentagem ficar acima dos 80%, o caminho é abastecer com gasolina. “Até 78%, mais pela questão ambiental, ainda é viável optar pelo etanol. Temos que lembrar que o álcool tem, aproximadamente, 75% da energia do litro de gasolina. Do outro lado, ele é menos agressivo para o meio ambiente”.
Já os gastos com manutenção, Pedro Luiz Scopino, diretor do Sindirepa-SP (Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado de São Paulo) e professor de mecânica de automóveis, diz que uma revisão anual completa, incluindo a parte mecânica, custará até 4% do valor do veículo. “Esse percentual vale para veículos com mais de cinco anos de vida ou 50 mil quilômetros rodados. Um carro mais novo terá um custo menor”, explica.
A chamada manutenção preventiva, que envolve a substituição de filtros, troca de óleo e pastilhas, deve ser realizada a cada seis meses ou 10 mil quilômetros. Com relação ao custo, Scopino diz que o proprietário de um veículo 1.0 deve desembolsar, em média, de R$ 700.
No caso de modelos superiores, esse valor médio ficará em R$ 2 mil. “Deixar para o momento em que o problema aparecer elevará esse gasto para R$ 4,5 mil”. Já a troca de pneus deve ser feita entre 40 mil e 60 mil quilômetros rodados. Essa diferença leva em consideração a marca e o peso do veículo.
Sobre o custo das peças automotivas, Pedro explica que a soma de dois fatores, alta do dólar e a paralisação da cadeia produtiva devido à pandemia da Covid-19, resultou em uma elevação de cerca de 15% no preço dos produtos nas prateleiras.
Seguro
Na lista de despesas para quem tem um carro, a contratação de um seguro está, provavelmente, no topo. O valor a ser pago pelo contratante é formado por uma série de fatores. Marcelo Sebastião, presidente da Comissão de Automóvel da FenSeg (Federação Nacional de Seguros Gerais), diz que os principais são: dados do proponente e do condutor (idade, sexo, endereço, entre outros), perfil de utilização do veículo, região de circulação, CEP de pernoite, a marca, o tipo e o ano do veículo.
A proposta pode sofrer reajustes dependendo da frequência de colisões, parcial ou integral, roubos e furtos, custo de peças e mão de obra de reparo, além das alíquotas dos impostos federais, estaduais e municipais. Hoje, o país conta com 19,7 milhões de veículos segurados, de acordo com os dados da FenSeg.
Realizado pela insurtech TEx, o IPSA (Índice de Preços do Seguro de Automóvel) aponta que, em novembro de 2021, o valor de um seguro representava, em média, 5,1% do preço de tabela do automóvel. Ou seja, no caso de um carro avaliado em R$ 50 mil, o desembolso foi de R$ 2,5 mil.
Realizado a partir de informações de corretores localizados em 4 mil cidades do Brasil, o levantamento aponta que, quando dividido por gênero, o percentual ficou em 5,3% para os homens e de 4,9% para as mulheres. No caso da faixa etária, o mais elevado, 8,8%, foi cobrado daqueles com idade entre 18 e 25 anos, e o mais baixo, 4%, dos condutores com 56 anos ou mais.
Emir Zanatto, CEO da TEx, diz que o ano de 2021 foi totalmente atípico para a indústria do seguro. O valor dos contratos foi diretamente impactado pela alta dos veículos seminovos, uma valorização em média de 20%, pela falta de carros novos para pronta-entrega e pela escassez de peças e componentes de reposição. “São fatores pouco usuais e que resultaram nessa situação dos preços dos seguros. Em 2022, no período pós-pandemia, a tendência é de uma acomodação das tabelas de valores”.
Zanatto conta que, de janeiro a dezembro de 2021, o consumidor buscou alternativas para seguir com o veículo segurado, principalmente a escolha por apólices com franquia reduzida em 50% e o parcelamento do serviço em 10 parcelas.
Conhecido por seu conservadorismo, o setor também passou a avaliar novas formas de atuar e enfrentar os efeitos da pandemia. Emir informa que já são realizados testes com contratos que usam como referência a forma de condução do veículo e o período de uso.
No primeiro caso, um dispositivo faz, por meio de um aplicativo, um relatório com velocidade média, destreza nas curvas e outros fatores. No segundo, o valor é definido pelos dias de circulação. Um motorista que só roda aos finais de semana não pagará um seguro igual ao daquele que tira o carro da garagem todos os dias.
Você precisa ter um carro?
Hoje, a decisão de adquirir um carro é motivada mais por comodidade do que por necessidade. Essa é a avaliação feita por Fabrizio Gueratto, professor de finanças na Faculdade Trevisan e na Unisinos. “O carro perdeu o status de símbolo de sucesso, algo comum há 10 anos. Hoje, os jovens não têm essa busca pela liberdade por meio da compra de um veículo. O celular, muito mais barato, cumpre esse papel. Você vai para qualquer lugar utilizando os aplicativos de mobilidade”.
Antes de ir a uma concessionária e fechar uma compra, Gueratto sugere que o consumidor coloque no papel todos os custos que ele terá, do montante investido até os já citados acima, e compare o quanto esse dinheiro pode render uma aplicação conservadora, um investimento em renda fixa, por exemplo.
“Essa valorização dos seminovos do ano passado não irá se repetir, a tendência é de uma desvalorização do veículo com o passar dos anos. O gasto com a aquisição e manutenção de um veículo só vale se o uso for acima de 2 mil quilômetros por mês”, explica.
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