Cientistas encontram aranha que faz vaga-lume macho piscar como fêmea; entenda
Estratégia de espécie que muda comportamento de inseto luminoso para capturar outros ainda não foi compreendida pelos pesquisadores
Nos campos de arroz e ao redor dos lagos da China central, uma espécie comum de aranha tecelã constrói novas teias todas as noites ao pôr do sol, permitindo que capture vaga-lumes que começam a piscar, cintilar e brilhar ao mesmo tempo.
Não contente em depender apenas do acaso, a aranha, Araneus ventricosus, encontrou uma maneira de hackear os sinais bioluminescentes dos vaga-lumes para atrair mais deles para sua teia, segundo uma nova pesquisa.
Ela faz com que os vaga-lumes machos capturados emitam sinais de acasalamento de pulso único, típicos dos vagalumes fêmeas, de acordo com um estudo publicado na última segunda-feira (19) na revista Current Biology. No entanto, ainda não está claro exatamente como o aracnídeo consegue esse feito.
“A aranha manipula os sinais luminosos dos vagalumes machos presos em sua teia para imitar os flashes típicos de uma vagalume fêmea, atraindo assim outros machos em busca de parceiras”, disse o autor do estudo, Daiqin Li, um ecologista comportamental da Universidade de Hubei, na China.
Vaga-lumes fêmeas geralmente permanecem parados, explicou Li, por isso apenas os machos tendem a ficar presos nas teias das aranhas — e são mais propensos a serem atraídos por elas.
Revelações na teia
Os vaga-lumes têm mais chances de estar no cardápio da aranha durante a temporada de acasalamento deles, geralmente um período de duas semanas entre meados de maio e meados de junho, quando eles estão particularmente ativos. Em seus abdomens, esses insetos luminosos possuem lanternas — pequenos órgãos que emitem luz por meio de uma reação bioquímica.
Os vaga-lumes machos da espécie estudada na nova pesquisa, Abscondita terminalis, atraem as fêmeas usando duas lanternas para criar padrões de flashes múltiplos, enquanto as fêmeas sedentárias atraem os machos emitindo sinais de pulso único com uma luz.
Xinhua Fu, coautor do estudo e especialista em vaga-lumes da Universidade Agrícola de Huazhong, na China, observou pela primeira vez aglomerados de vaga-lumes compostos apenas por machos nas teias de aranhas tecelãs há 20 anos. Fu também notou que alguns desses insetos luminosos machos estavam emitindo sinais de piscar típicos das fêmeas naquele momento.
Li, Fu e seus colegas decidiram investigar mais a fundo, conduzindo experimentos envolvendo 161 teias. Durante a temporada de acasalamento dos vaga-lumes em terras agrícolas em uma vila próxima à cidade de Wuhan, os pesquisadores localizaram e mediram as teias a cada noite, dividindo-as em quatro grupos diferentes e registrando a temperatura, umidade relativa e outros fatores.
Com uma rede, eles capturaram vaga-lumes machos e usaram uma caneta para escurecer as lanternas de alguns deles, impedindo-os de piscar, antes de colocá-los nas teias usando pinças e removendo as aranhas em alguns casos, dependendo das variáveis que estavam investigando.
Uma câmera de vídeo observou o que aconteceu com os insetos machos que voavam livremente e que ficaram presos nas teias em quatro cenários diferentes, envolvendo duas variáveis: se havia ou não uma aranha na teia e se os vaga-lumes machos capturados adicionados às teias pelos pesquisadores estavam emitindo sinais de piscar semelhantes aos das fêmeas (ou não, porque suas lanternas haviam sido escurecidas).
“Durante os testes, monitoramos as teias a cada cinco a dez minutos para contar o número de vaga-lumes adicionais que ficavam presos”, disse Li em um e-mail. “Cada experimento durou duas horas, proporcionando tempo suficiente para observar e registrar as interações e comportamentos.”
Os experimentos mostraram que as teias das aranhas capturavam vaga-lumes machos com mais frequência quando a aranha estava presente do que quando estava ausente. Eles também confirmaram que os sinais emitidos pelos insetos luminosos machos nas teias com aranhas eram muito mais parecidos com os sinais dos vaga-lumes fêmeas: os machos presos emitiam sinais de pulso único usando apenas uma de suas lanternas, e não ambas, como seria esperado.
Engano no sinal dos vaga-lumes: teorias
Os achados, de acordo com o estudo, sugerem que os machos não estavam alterando seus flashes como um sinal de angústia, pois o número de vaga-lumes voando livremente que ficaram presos nas teias contendo uma aranha e vaga-lumes machos piscando foi significativamente maior do que quando não havia um aracnídeo presente, indicando que a mudança não era resultado de estar preso.
Com base em suas observações, os pesquisadores acreditam que as aranhas alteram o sinal dos vaga-lumes de alguma forma, provavelmente como resultado de mordidas repetidas aplicadas pela aranha assim que detecta o macho em sua teia. No entanto, não está claro se o veneno da aranha ou a própria mordida levariam às mudanças no padrão de piscar dos insetos presos.
“Os mecanismos precisos pelos quais a aranha altera o comportamento bioluminescente dos vaga-lumes machos permanecem inexplorados”, disse Li.
“Quando removemos os insetos da teia e permitimos um curto período de recuperação, os vaga-lumes machos frequentemente retomavam seu padrão normal de flashes de múltiplos pulsos,” acrescentou. “Talvez o veneno da aranha interrompa o comportamento normal de piscar.”
Dinesh Rao, pesquisador do Laboratório de Aranhas Rao na Universidad Veracruzana, no México, que não participou do estudo, concordou que a capacidade da aranha de manipular o show de luzes do vaga-lume pode ser impulsionada pelo veneno. O comportamento do aracnídeo foi “surpreendente”, mas não inteiramente novo, acrescentou, observando que algumas espécies de aranhas-bolas atraem mariposas machos produzindo substâncias químicas que imitam os feromônios das fêmeas.
“Nesse caso, há uma manipulação de um sinal visual, o que é muito interessante”, disse Rao em um e-mail. “No entanto, o mecanismo por trás da mudança no comportamento de piscar ainda precisa ser compreendido.”
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