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    Geyze Diniz
    Coluna

    Geyze Diniz

    Cofundadora e presidente do Conselho do Pacto Contra a Fome, economista, conselheira da Península Participações e vice-presidente do Conselho do MASP

    Filantropia: você pratica?

    Nosso mundo está em constante evolução, e eu acredito profundamente que a filantropia, quando alinhada colaborativamente com setores diversos e governos, emerge como um poderoso catalisador de mudanças positivas.

    A palavra “filantropia”, derivada das raízes gregas “philos” (amor) e “anthropos” (humanidade), literalmente significa “amor pela humanidade”. Embora muitos associem o termo a figuras como Andrew Carnegie, Elie Horn, Bill Gates, Melinda French Gates, Jeff Bezos, MacKenzie Scott, entre outros, a verdade é que a filantropia vai além das fronteiras da riqueza pessoal. É um compromisso que todos podem assumir, independentemente de seus recursos financeiros.

    No entanto, essa realidade ainda não está enraizada no Brasil. Em 2023, o país caiu para a 89ª posição no ranking do World Giving Index, um estudo realizado desde 2009 que avalia doações e identifica os países mais generosos. Este declínio foi acompanhado por quedas em todas as categorias de avaliação, após ter subido para a 18ª posição no ano anterior. É fato que o ano de 2022 ainda refletia resquícios do cenário da pandemia, com grande visibilidade na imprensa e engajamento da sociedade por meio de doações e voluntariado, mas os dados nos trazem uma situação que reforça ainda mais a necessidade de fortalecermos a filantropia estratégica e não apenas emergencial.

    Porém, mesmo diante das dificuldades do cenário socioeconômico atual, podemos observar um crescente interesse na população em contribuir por meio de doações financeiras e trabalho voluntário. Mas, ainda enfrentamos um desafio significativo em ampliar esse engajamento, pois é necessário criar uma cultura de doação em um país que enfrenta desigualdades há décadas. Muita coisa ainda precisa mudar e há um vasto espaço para melhorias.

    Aos poucos, estamos vendo uma mudança geracional na filantropia. Os Baby Boomers (nascidos entre 1946-1964), tradicionalmente os maiores doadores devido ao seu poder econômico, estão sendo gradualmente substituídos pelos Millennials (nascidos entre 1981-2000), conhecidos como a ‘geração do impacto’. O surgimento de novas tendências e sua aceitação pela população em geral são impulsionados por essa geração, que não apenas desafia os padrões tradicionais de doação, mas também demanda uma abordagem mais inclusiva e colaborativa para enfrentar os desafios do mundo. Eles são motivados pelo otimismo em relação à possibilidade de mudança.

    À medida que as gerações mais jovens assumem um papel crescente na sociedade, continuarão a moldar nossas práticas de doação e a evoluir nossas concepções sobre filantropia. Esses grupos estão ampliando o entendimento de como qualquer pessoa pode ser um agente de mudança, independentemente de sua riqueza, facilitados ainda mais por avanços tecnológicos como a revolução do Pix.

    Em um país com tantas carências como o Brasil, não podemos esperar que tudo venha ou seja feito pelo governo. Sem dúvida, é dessa força que podem vir as principais mudanças, novas leis e incentivos fiscais, mas nós, enquanto sociedade civil, devemos impulsionar e propagar a cultura filantrópica no Brasil, preferencialmente de forma estruturada e duradoura.

    Sabemos que países como Estados Unidos, Canadá, Austrália, entre outros, têm estruturas fiscais que incentivam os cidadãos a contribuírem para causas filantrópicas, facilitando o suporte financeiro contínuo para organizações sem fins lucrativos e práticas sociais. Aqui, podemos replicar modelos que funcionam em outras partes do mundo, enquanto simultaneamente exigimos do governo brasileiro políticas que promovam e apoiem iniciativas semelhantes. Não podemos nos permitir ficar confortáveis e aceitar a falta de políticas públicas robustas nesse sentido.

    Precisamos incentivar essa corrente do bem. Devemos educar nossos filhos e os jovens sobre filantropia. Essa temática também deve ser uma das prioridades do setor privado, pois somente assim poderemos fortalecer as organizações do terceiro setor e trabalhar em conjunto com os governos para implementar políticas públicas que abordem os principais problemas estruturais do nosso país. O governo também precisa atuar com incentivos fiscais.

    Não posso deixar de mencionar também a série documental “Meu, Seu, Nosso”, disponível na plataforma de streaming Aquarius. Ela aborda a cultura da doação no Brasil, mostrando, por meio de personagens reais, as motivações que transformam pessoas comuns em doadores de atos genuínos. O documentário foi idealizado por nossa família, com direção geral de Marcos Prado, direção de Prado e João Jardim, e produção de Ana Maria Diniz.

    Quando cada indivíduo se torna um agente de mudança, nosso potencial de impacto coletivo se expande.