Pensar demais dói? Novo estudo indica que sim
Pesquisadores mostraram que atividades que levam ao esforço mental podem ser desgastantes e causar sentimentos negativos
O esforço mental por trás dos pensamentos pode ser realmente desagradável, segundo um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade Radboud de Nimega, nos Países Baixos. O trabalho mostrou que, mesmo nos casos em que o trabalho cerebral é voluntário (ou seja, quando é algo que as pessoas se propõem a fazer), ele pode se tornar um grande fardo mental.
O estudo foi publicado neste mês no periódico Psychological Bulletin. “Já sabemos que, em princípio, as pessoas não gostam de trabalho físico”, explica o psicólogo Erik Bijleveld, em comunicado. “Devido à nossa história evolutiva, tendemos a evitar o máximo possível o esforço físico desnecessário”, completa. Porém, os cientistas ainda não sabiam se esse desconforto também poderia acontecer com o esforço mental.
Para responder a essa dúvida, os pesquisadores estudaram dados sobre o nível de irritação e frustração que as pessoas sentem ao realizar tarefas cognitivas, como aprender a usar uma nova tecnologia, jogar um jogo de realidade virtual, encontrar o caminho em um ambiente desconhecido, entre outras.
No total, foram 170 estudos publicados entre 2019 e 2020 analisados pela equipe, envolvendo 4.670 participantes que exerciam diferentes cargos, como funcionários da saúde, militares, atletas amadores, estudantes universitários, entre outros.
Em todos os casos, o esforço mental desencadeou sentimentos negativos, segundo o estudo. Mesmo nos casos em que as pessoas se sentiam recompensadas ao conseguir realizar as tarefas cognitivas ou quando realizam trabalhos e atividades voluntárias, pensar muito pode causar desgaste mental. Segundo pesquisadores, os sentimentos são tão negativos quanto aqueles vivenciados por pessoas que realizam trabalho repetitivo.
“Nós principalmente fazemos quebra-cabeças de Sudoku ou jogamos xadrez, ou Candy Crush por causa da recompensa, não porque gostamos muito disso”, argumenta Bijleveld. Em outras palavras, isso significa que, intrinsecamente, não somos motivados a pensar muito, mas a sensação agradável que temos quando finalizamos uma tarefa ou desafio cognitivo atrai algumas pessoas a realizar essas atividades.
Para os pesquisadores, as descobertas podem ajudar a levar insights para desenvolvedores de material educacional ou novos softwares e jogos virtuais. “Se as pessoas têm que dominar um novo aplicativo ou método matemático, isso requer esforço mental. Se você quer que isso dê certo, seria bom recompensar os usuários”, sugere Bijleveld. Essa recompensa poderia ser novos elementos em um jogo, por exemplo, como efeitos visuais e sonoros.
A inteligência artificial generativa — como o ChatGPT, da OpenAI, e o Gemini, do Google — também pode poupar as pessoas do sentimento desagradável de realizar tarefas mentais. No entanto, essas ferramentas podem tirar a sensação de recompensa que as tarefas cognitivas oferecem ao serem concluídas.
“Podemos não experimentar esses sentimentos negativos com tanta frequência enquanto trabalhamos, mas os resultados do nosso trabalho também não serão tão gratificantes, pois não terão exigido tanto esforço. Se você trabalha duro em algo, ele se torna mais significativo. A IA pode tirar isso de nós às vezes”, afirma o pesquisador.