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    Comunicado do Copom tem tom mais duro e reflete desvalorização do câmbio, analisam economistas

    Especialistas ouvidos pela CNN apontam ainda que Copom vai adotar “maior vigilância” daqui para frente

    Carol Raciunascolaboração para a CNNJoão Nakamurada CNN , São Paulo

    O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, nesta quarta-feira (31), manter o patamar da taxa básica de juros em 10,5% ao ano.

    Essa é a segunda vez consecutiva que o Copom decide pela manutenção.

    Na última reunião, em junho, o Comitê havia optado por manter o percentual da taxa e interromper o ciclo de cortes que se iniciou em agosto do ano passado

    Em comunicado sobre a decisão, o Copom explica que votou pela manutenção “destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam acompanhamento diligente e ainda maior cautela”.

    À CNN, Igor Rocha, economista-chefe da Fiesp, destacou que o comunicado desta quarta-feira está em tom mais duro. Ele aponta que o Copom busca “um cenário mais restritivo para desacelerar a economia”, em meio a riscos inflacionários como o mercado de trabalho aquecido.

    No comunicado, o comitê destaca que, “em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo maior do que o esperado”.

    Rocha chama atenção para a abertura de vagas formais de emprego no Brasil, que acelerou para 201,7 mil em junho, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados na última terça-feira (30) pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

    Em maio, o número havia sido de 139,3 mil postos formais.

    Rocha analisou ainda que o texto coloca “muito explicitamente o impacto do câmbio na inflação. Ele teve desvalorização bem forte no último mês, o que gera um repasse na inflação”.

    Na mesma linha, o economista-chefe do Banco Master e professor na FGV, Paulo Gala, aponta que os motivos de os juros não terem caído refletem o momento delicado em que “a inflação está indo acima de 4%, a expectativa também acima de 4%, e a taxa de câmbio, em desvalorização”.

    Para o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Felipe Tavares, a decisão do Copom focou a perspectiva inflacionária brasileira, que vem se deteriorando mês após mês com os indicadores sempre acima das expectativas de mercado.

    Ele afirma que a manutenção da taxa é motivo de forte preocupação, tendo em vista que a política econômica está desbalanceada principalmente no que diz respeito à política fiscal.

    “Dado o desequilíbrio fiscal brasileiro crônico e as pressões para cada vez mais aumentar o gasto público, a inflação está respondendo de forma negativa, aumentando puxada pelo desequilíbrio fiscal”, destaca o economista da CNC.

    Volta do ciclo de altas

    Outra nova sinalização do comunicado apontada pelos especialistas ouvidos pela CNN é a de que o Copom vai adotar “maior vigilância” daqui para frente.

    Esse é um termo-chave para quando os bancos centrais avaliam a possibilidade de se aumentar os juros, segundo Gala, do Banco Master, e Rocha, da Fiesp.

    Apesar de o presidente do BC, Roberto Campos Neto, já ter sinalizado que uma nova alta dos juros não faz parte do cenário-base da autarquia, ronda um temor de que a Selic possa voltar a subir.

    O economista-chefe da Fiesp reforça que o “comunicado mais duro” busca puxar a economia brasileira para um cenário mais restritivo, no qual a contínua abertura da curva de juros e eventual piora na deterioração do real frente ao dólar possam levar a um novo aumento de juros.

    Paulo Gala reforça que o aumento de vigilância do Banco Central se volta principalmente para o estresse com os juros nos EUA.

    “A princípio, o cenário é de manutenção com a situação inflacionária delicada. Mas [os diretores do BC] podem ficar ainda mais vigilantes caso o câmbio continue se desvalorizando e as expectativas de inflação continuem subindo”, reforça o economista-chefe do Banco Master.

    Gala avalia que a autarquia vai “pagar para ver” como o cenário econômico se desenvolve ao longo do segundo semestre.

    Em um cenário com manutenção dos juros nos EUA e deterioração das expectativas, a “chance razoável” apontada por ele de que a Selic volte a subir pode se concretizar.

    Nesse caso, os primeiros comunicados indicando o aumento podem começar a aparecer entre o final deste ano e o começo do próximo, com os aumentos vindo mais ao final de 2025.

    No entanto, caso o Federal Reserve (Fed) corte suas taxas, o professor da FGV aponta que a principal “ameaça inflacionária se dissipa”.

    Rocha ainda chama atenção para um sinal positivo vindo do exterior. Nesta quarta, o Fed também votou pela manutenção de suas taxas básicas de juros.

    Contudo, o presidente do banco central norte-americano, Jerome Powell, sinalizou que um eventual corte pode estar na mesa da próxima reunião.

    “[Um corte nos juros dos EUA] deve distensionar a pressão sobre o câmbio. Isso tornaria o juro menos convidativo nos Estados Unidos, começando a ajudar o Brasil”, explica o economista-chefe da Fiesp.

    Por outro lado, na avaliação de Leda Maria Paulani, professora titular de Economia da USP, tanto a manutenção da taxa quanto eventuais aumentos não passam de “mera especulação”.

    “A decisão é a esperada, o que não quer dizer que, de fato, haja qualquer fundamentação objetiva para qualquer piora de expectativas a não ser a mera especulação, o mero interesse de quem se beneficia com esse tipo de especulação e decisão”, argumenta Paulani.

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