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    Crianças são retiradas da lama após enchentes mortais no Afeganistão

    Ao menos 300 pessoas morreram e áreas ficaram devastadas

    Hilary WhitemanAnna CorenAbdul Basir Binada CNN

    Três crianças assustadas estão sentadas no telhado de uma mesquita na província de Baghlan, no norte do Afeganistão, piscando os olhos para afastar a lama que cobre todo o seu corpo.

    Ao lado deles, um socorrista baixa o irmão mais novo das criaças, Arian, de 2 anos, com um lençol amarrado na cintura, que foi usado para puxá-lo das águas furiosas abaixo.

    “Traga a mãe dele para segurá-lo e aquecê-lo”, diz o socorrista no vídeo.

    Nos últimos dias, ao menos 300 pessoas morreram em inundações em 18 distritos de ao menos três províncias do norte do Afeganistão, de acordo com o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PAM). Outras 200 pessoas ficaram feridas.

    Vídeos mostram fluxos de água e lama arrastando casas de barro e pessoas, que se debatiam tentando sobreviver, enquanto outros observam, sem ter o que fazer, de um terreno mais alto.

    As crianças resgatadas, de 3, 5 e 6 anos, estavam entre os oito irmãos que estavam em casa com os pais em Folo, no distrito de Bulka, em Baghlan, quando as enchentes aconteceram.

    O tio delas, Barakatullah, que é filho do diretor da escola local, disse à CNN que algo sinistro parecia estar se formando no final da semana passada, quando um vento forte varreu o distrito e áreas vizinhas, envolvendo tudo na escuridão.

    “A visibilidade era tão baixa que nem conseguíamos nos ver”, relatou.

    Depois, a chuva começou a cair suavemente durante a sexta-feira (10), algo incomum para os habitantes da área, que dizem que não chove com tanta frequência nessa região montanhosa, onde vivem cerca de 10 mil pessoas.

    À medida que a chuva ficou mais forte, de repente a situação “ficou terrível”.

    Inundações no Afeganistão
    Inundações no Afeganistão / Reuters

    “As pessoas fugiram para locais mais elevados, procurando refúgio nas montanhas e colinas. Infelizmente, algumas que não conseguiram sair de suas casas foram vítimas das enchentes”, ponderou.

    Fotos aéreas mostram pertences empilhados em sacos plásticos nos telhados. Além disso, é possível ver mulheres obrigadas a cobrir todo o corpo mesmo em tempos de desastre.

    “As mulheres que foram resgatadas são forçadas a usar roupas encharcadas de lama, e até crianças de 2 a 3 meses de idade são vestidas com roupas igualmente sujas”, ressaltou Barakatullah.

    Em Folo, acredita-se que mais de 100 pessoas tenham morrido, acrescentou, a maioria mulheres e crianças.

    Alguns enterros começaram a ser realizados no fim de semana.

    Da seca e fome às inundações

    O fluxo de água e lama levou animais e destruiu terras agrícolas numa área que já enfrenta grave escassez de alimentos, segundo Timothy Anderson, chefe do Programa Alimentar Mundial no Afeganistão.

    Ele ressaltou que as áreas atingidas pelas inundações já foram classificadas como vulneráveis à fome depois de um verão difícil, quando o calor escaldante trouxe a seca.

    “Já era bastante sombrio. E agora é catastrófico”, disse ele à CNN.

    Inundações repentinas acontecem anualmente, mas neste ano foi muito pior, alerta Anderson.

    O especialista alerta ainda que a perda das casas e das terras é devastadora para os sobreviventes, que já estavam entre algumas das pessoas mais empobrecidas do país.

    “Quando as pessoas perdem um pouco de gado, isso é na verdade [a perda do] seu sustento”, ressalta.

    Além disso, o acesso às zonas mais afetadas por rodovias foi afetado pelas cheias, forçando o PAM a utilizar burros para enviar mantimentos.

    Rios de lama em Baglan, no Afeganistão
    Rios de lama em Baglan, no Afeganistão, onde enchentes já mataram mais de 300 pessoas / Programa Mundial de Saúde

    No início, o órgão distribuiu biscoitos e alimentos com alto teor energético para as crianças. Eles também estão apoiando padarias locais no fornecimento de pão grátis.

    Nos próximos dias, as equipes começarão a distribuir às famílias comida suficiente para um mês.

    Anderson comentou que 17 equipes conjuntas de avaliação estão sendo enviadas para a área, juntamente com outros parceiros da ONU.

    Ele observou que serão necessários quatro ou cinco dias para que as equipes examinem adequadamente o impacto das inundações nas pessoas, nas suas habitações e infraestruturas.

    ‘Suportando o peso’ da crise climática

    Essa catástrofe natural acontece após um período de seca no Afeganistão, sendo vista como um exemplo de uma crise climática — que atinge mesmo os países que não são os maiores poluidores.

    “Eles não são emissores líquidos de carbono. Esta é uma comunidade e sociedade de agricultura de subsistência. Então, eles estão arcando com o peso disso, sem necessariamente terem contribuído muito para [piorar] a questão [da crise climática]”, alerta Anderson, do PAM.

    Ele diz ainda que durante os últimos meses de seca houve esforços para ajudar a comunidade a captar água das chuvas em barragens e canais de irrigação para sustentar as colheitas. Agora, esses esforços foram anulados, o que representa outro desafio.

    “A necessidade é enorme, não apenas no Afeganistão. O mundo está vendo os impactos de eventos muito maiores e mais graves, sejam secas ou ciclones de chuvas”, pontua Anderson.

    Richard Bennett, relator especial da ONU para os direitos humanos no Afeganistão, destaca que as recentes inundações “são um lembrete claro da vulnerabilidade do Afeganistão à crise climática”.

    E, em comunicado no domingo, Teresa Anderson, líder global de justiça climática da ActionAid International, afirmou: “Com o último incidente, o Afeganistão se junta a uma longa lista de países do Sul Global que enfrentam inundações este ano”.

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