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    Falta de dipirona afeta todos os estados do país, aponta Conasems

    Conselho dos Secretários Municipais do estado do Rio de Janeiro também alerta para desabastecimento de outros remédios

    Mulher lê bula de medicamento.
    Mulher lê bula de medicamento. Getty Images

    Pauline AlmeidaIuri Corsinida CNN no Rio de Janeiro

    Ainda sob os efeitos da pandemia de Covid-19, tanto na saúde quanto no abastecimento de mercadorias, cidades do país enfrentam falta de medicamentos.

    Segundo o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), uma ausência é comum a todos os estados: da dipirona monoidratada 500mg injetável.

    O remédio é um dos mais utilizados na rede de saúde, indicado para o tratamento de dor e febre.

    O problema foi comunicado ao Ministério da Saúde há mais de um mês e o conselho ainda aguarda uma resposta. A CNN também procurou a pasta, mas não obteve retorno até o momento.

    No Rio de Janeiro, nesta semana, o Conselho dos Secretários Municipais de Saúde (Cosems-RJ) lançou um alerta sobre a falta de remédios injetáveis e de soro fisiológico. “O drama do desabastecimento de medicamentos voltou a assombrar os gestores de saúde de todo o país”, diz a publicação.

    Em uma consulta a entidades e secretarias do país, o Cosems-RJ aponta a dificuldade em relação a vários itens.

    “A rede hospitalar já contabiliza, em muitas cidades, a ausência de até 134 itens como por exemplo, o micofenolato, para prevenir rejeição em transplante de órgãos; a alfaepoetina, que combate anemia; e o ribavirina, empregado contra a hepatite C. Mais recentemente, foi a vez das farmácias do setor privado denunciarem faltas como antibióticos, medicamentos usados, por exemplo, para tratar pneumonia, otite e amigdalite”, divulgou o órgão.

    A Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro afirmou que a falta desses remédios é um problema mundial e que realmente enfrenta dificuldades na aquisição de alguns itens, mas que, por enquanto, tem estoque, sem problemas nos atendimentos.

    A dificuldade de aquisição não afeta somente a rede pública, mas também a privada, como confirmou Graccho Alvim, diretor da Associação dos Hospitais do Estado do Rio de Janeiro.

    “Realmente, alguns estão em falta e outros muito difíceis de se conseguir, inclusive para o público em geral, até para quem precisa de alguns tipos de antibióticos e medicamentos de uso comum. Acho que a Covid, logo depois a epidemia de influenza e a Ômicron causaram uma utilização muito maior desses antibióticos do que a indústria esperava”, colocou.

    Nos hospitais, segundo Alvim, há dificuldade em se obter pré-anestésicos e antibióticos. Para uso pediátrico, há falta de amoxicilina, usada para tratamento de infecções bacterianas, inclusive em farmácias – situação relatada pelo Cosems-RJ e por Alvim.

    Já a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), que representa as grandes redes, diz não registrar o problema.

    Pessoas ouvidas pela CNN no Rio de Janeiro relataram que tiveram problemas para adquirir, em farmácias, alguns antibióticos, como o Clavulin infantil e o Novamox.

    O Clavulin é usado principalmente para o tratamento de infecções bacterianas nas vias respiratórias superiores, como ouvido, nariz e garganta (em especial sinusite, otite média e amigdalite) e infecções como bronquite crônica e broncopneumonia.

    O Novamox também é ministrado para combater infecções bacterianas.

    Enquanto o problema segue, os médicos tentam encontrar outros itens que substituam a função.

    “A indústria dá sinais que isso vai se normalizar em um, dois meses, mas é um problema muito sério para a população em geral. Além da inflação, com os medicamentos mais caros, ainda existe a falta”, colocou.

    Vale lembrar que os produtos farmacêuticos subiram 6,13% no mês de abril, segundo dados do IBGE.

    No caso da dipirona, fontes ouvidas pela CNN apontam que há uma dificuldade para compra.

    A principal empresa farmacêutica que produz o remédio, responsável por quase 60% da produção da dipirona hoje no Brasil, anunciou uma pausa nas operações por questões de mercado e parou de distribuir o remédio para as redes pública e privada.

    A Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi) aponta que o Brasil ainda sente os efeitos da pandemia na logística.

    O presidente da entidade, Norberto Prestes, destaca que o lockdown na China voltou a gerar instabilidade. “A logística está bem complicada na China para trazer qualquer insumo em geral ou medicamento”, apontou.

    Em São Paulo, desde o mês passado, o Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios, representante da rede privada, relata a falta de medicamentos, especialmente de dipirona, ocitocina, neostigmina, aminoglicosídeos e imunoglobulina.

    “O problema de abastecimento tem múltiplas causas, sendo a principal o conflito Rússia X Ucrânia, que dificultou as importações e causou aumento dos preços dos insumos. Soma-se ainda a dificuldade de liberação dos produtos nos portos e aeroportos devido a movimentos grevistas”, disse o médico Francisco Balestrin, presidente do SindHosp.

    A CNN também procurou o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). O órgão confirmou que o abastecimento de alguns itens está irregular e verificou a necessidade de cuidados em torno da questão. Segundo o Conass, o Ministério da Saúde sinalizou que já está tomando providências internas para sanar os problemas.

    Procurado, o Ministério da Saúde afirmou que “trabalha sem medir esforços, juntamente com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para verificar as causas e articular ações emergenciais para mitigar o desabastecimento dos medicamentos citados”.