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    Brasil tem 1,5 milhão de motoristas e entregadores, aponta Ipea

    Pesquisa mostra que trabalhadores são, em maioria, homens, pretos e pardos, sem ensino superior e com ganhos entre R$ 900 e R$ 1.900

    Pauline Almeidada CNN , no Rio de Janeiro

    Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que o Brasil tem 1,5 milhão de pessoas que atuam como motoristas e entregadores de aplicativos, taxistas, mototaxistas e outras atividades por conta própria no setor de transporte.

    São integrantes da chamada Gig Economy, formada por trabalhadores sem carteira assinada, freelancers ou temporários.

    O levantamento traça o perfil de quem atua no setor e mostra que mais de 90% são homens. A maior parte deles é de pretos e pardos, chegando a 73,8% entre mototaxistas.

    O Ipea também identificou que o rendimento real dessas pessoas vem caindo e, hoje, varia entre R$ 900 e R$ 1.900, dependendo do serviço exercido.

    Os dados representam o panorama encontrado no último trimestre de 2021, levando em conta a série histórica a partir de 2016, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

    Para Geraldo Góes, pesquisador do Ipea, eles mostram uma mudança sem volta no mundo do trabalho, com funções que surgiram como temporárias, mas têm se tornado fixas.

    “Com o advento das tecnologias, houve um boom de pessoas que passaram a trabalhar para aplicativos”, colocou à CNN.

    Esse salto é visto principalmente na categoria dos entregadores de mercadorias via moto. No início de 2016, eram 25 mil, número que chegou a 322 mil, no fim do ano passado.

    Já os entregadores que utilizam outros meios, como bicicletas, chegaram a 55 mil, com crescimento contínuo desde 2019.

    Segundo Góes, os números são reflexos da pandemia e da busca por fontes de renda, diante da queda nas vagas com carteira assinada.

    Foi esse setor que ajudou a incrementar a população ocupada no país, em meio à crise provocada pela Covid-19.

    Os motoristas por aplicativo e taxistas também foram afetados pelo coronavírus, mas com uma redução do quadro, em um mercado prejudicado pela alta dos combustíveis.

    São 945 mil pessoas dentro desse grupo, 16% a menos do que no terceiro trimestre de 2019, antes da chegada da pandemia.

    Ainda são 222 mil mototaxistas, que mostram uma particularidade regional: mais da metade deles está no Nordeste. Já o Sudeste concentra 50,1% dos motoristas de aplicativo e taxistas, e 58,7% dos entregadores que usam motos.

    Os dados de escolaridade e rendimento sugerem uma relação e reproduzem desigualdades vistas na população brasileira: quanto maior o rendimento, maior a escolaridade.

    Os motoristas por aplicativo e taxistas registram os melhores ganhos. Eles chegaram a somar R$ 2.700 de renda em 2016, que caiu para R$ 1.900 no fim do ano passado, sendo que o índice com nivel superior completo supera os 10%, menos da metade da média para a população ocupada no país, que é de 22%.

    Os entregadores via moto tiveram uma queda de renda no início de 2020 e têm mantido os ganhos estáveis em R$ 1.500 mil mensais desde então. O grupo tem 5,6% dos integrantes com ensino superior completo.

    Já os mototaxistas registraram uma leve redução de R$ 1 mil para R$ 900, o único grupo abaixo do salário mínimo.

    “A distribuição de escolaridade entre os mototaxistas revela que esse subgrupo da Gig Economy do setor de transportes é aquele com o menor grau de instrução, com apenas 2,1% possuindo ensino superior completo e 60,1% não tendo concluído o nível médio”, diz a nota do Ipea.

    O pesquisador Geraldo Góes, um dos responsáveis pela análise, avalia que as estatísticas mostram os desafios futuros para o mercado de trabalho.

    Ele acredita que as novas relações de trabalho por meio de aplicativos vieram para ficar, mas exigem mudanças na legislação.

    “Quem chega ao mercado de trabalho hoje encontra um mundo muito diferente, por exemplo, em questões previdenciárias, de saúde. Há uma necessidade de se guiar políticas públicas porque existe uma certa vulnerabilidade, com a necessidade de regulamentação”, pontuou.

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