Fatos Primeiro: Brasil não tem “uma das gasolinas mais baratas”, como diz Bolsonaro, mas a 89ª
Segundo consultoria, preço do combustível no país está acima do valor médio vendido ao redor do mundo, que ficou em US$ 1,29
Quem tem frequentado postos de gasolina nos últimos meses constata: o combustível tem aumentado de preço.
A inflação da gasolina não atinge apenas o Brasil, mas é um movimento global provocado pelo aumento do barril do petróleo no mercado internacional, a disparada do dólar, entre outros fatores.
Quando comparado com o preço da bomba em outros países, o Brasil está longe de ter “uma das gasolinas mais baratas do mundo”, como afirmou o presidente Jair Bolsonaro (PL) em entrevista publicada pelo canal Foco do Brasil, na última quarta-feira (16).
O que disse Bolsonaro
“Os problemas que temos no momento: temos inflação, sim; aumento dos combustíveis (…) Quem pesquisa e vê sabe que uma das gasolinas mais baratas do mundo é a nossa. Nós também estamos sofrendo, mas não tanto quanto os povos aí fora.”
Jair Bolsonaro
Comparação com 170 países
Levantamento da Global Petrol Prices, uma das mais renomadas consultorias do mundo no setor de combustível e energia, mostrava que, em 7 de março de 2022, o Brasil negociava a 89ª gasolina mais barata do mundo — em um universo de 170 países analisados.
A Global Petrol Prices divulga periodicamente preços de gasolina ao redor do mundo e já prestou consultorias a instituições como Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial.
O combustível brasileiro, negociado a US$ 1,287 por litro, está abaixo da mediana da tabela.
Por outro lado, está acima do preço médio do combustível vendido ao redor do mundo, que ficou em US$ 1,29.
Enquanto o topo do ranking é ocupado pela Venezuela — que negocia a gasolina por US$ 0,025 dólares —, na última colocação está Hong Kong, que o vende a US$ 2,831. O Brasil aparece no ranking empatado com o Senegal.
A Global Petrol Prices é considerada uma das mais confiáveis consultorias quando o assunto é preços relacionados ao setor de energia e combustíveis. Os números da empresa têm base em bancos de dados governamentais e do setor privado. São incluídos no ranking somente países dos quais é possível obter números de fontes diversas e confiáveis.
A consultoria observa que, em geral, países ricos negociam o combustível a valores mais elevados, enquanto países mais pobres e aqueles que produzem e exportam petróleo o vendem a menores cifras.
De acordo com o advogado tributarista André Felix Ricotta, países desenvolvidos tendem a negociar a gasolina a valores mais elevados pois aplicam maior carga tributária a este tipo de produto.
“Se você pegar os países desenvolvidos, a média de tributação sobre o combustível fóssil é de 55%, 56%. A do Brasil é muito menor que isso. Mas lá eles têm outra política, de tributar alto os combustíveis fósseis para forçar a usar outro combustível mais ecológico”, explica.
O principal motivo para a inclusão do Brasil no ranking, segundo Ricotta, é a política de preços da Petrobras. O especialista pontua que a recente desvalorização do real em relação ao dólar, moeda por meio da qual o combustível é negociado, agrava a situação. A alta nos preços da gasolina tem repercussão direta na vida do consumidor, acrescenta, o advogado. E o impacto — ele completa — vai além daquele percebido no momento de abastecer um automóvel:
“O Brasil é totalmente dependente do transporte rodoviário, de cargas. Então isso afeta toda a cadeia produtiva de consumo, que é para levar a mercadoria, levar o alimento, tudo. Por isso tem esse reflexo em toda a economia brasileira”, conclui Ricotta.
Eleições 2022
A CNN realizará o primeiro debate presidencial de 2022. O confronto entre os candidatos será transmitido ao vivo em 6 de agosto, pela TV e por nossas plataformas digitais.
*Com supervisão de Evelyne Lorenzetti