Crianças de 5 anos são retiradas do grupo prioritário para vacinação contra gripe
Ministério da Saúde informou à CNN que ficará a cargo dos estados e municípios a inclusão dessa faixa etária após a vacinação do público elegível na campanha
O Ministério da Saúde decidiu excluir as crianças menores de 5 anos do grupo prioritário da campanha de vacinação contra a Influenza deste ano, que começa no dia 4 de abril.
Questionado pela CNN sobre o motivo da decisão, a pasta respondeu apenas que “após a imunização do grupo prioritário, os estados e municípios poderão dar continuidade à campanha com a inclusão das crianças acima de 5 anos, assim como da população em geral”.
Além disso, o órgão destacou que a “decisão de retirar as crianças com 5 anos incompletos foi acertada com estados e municípios”.
A estimativa da Saúde é vacinar aproximadamente 76,5 milhões de pessoas, incluindo idosos, gestantes, trabalhadores da saúde, além de crianças de seis meses a menores de 5 anos (4 anos, 11 meses e 29 dias).
O número de doses oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) não foi reajustado em relação ao ano passado. Ao todo, serão distribuídas aos estados e municípios 80 milhões de doses da vacina contra a gripe.
Segundo o Ministério, no caso das crianças de seis meses a menores de 5 anos que já receberam ao menos uma dose da vacina Influenza ao longo da vida em anos anteriores, deve-se considerar o esquema vacinal com a apenas uma dose em 2022. Já para as crianças que serão vacinadas pela primeira vez, a orientação é agendar a segunda dose de reforço da vacina contra gripe para 30 dias após a primeira.
Especialistas ouvidos pela CNN criticaram a exclusão deste público da vacinação prioritária contra a influenza. Para a doutora Carla Domingues, ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI) a medida não faz nenhum sentido, uma vez que as crianças e idosos possuem maior risco de contrair a doença.
“Em vez de aumentar (a faixa etária) a gente está diminuindo e deixando basicamente 3 milhões de crianças expostas. Não tem o menor sentido adotar isso neste momento” – ressalta a especialista.
Carla Domingues afirma também que um dos motivos alegados pela pasta seria uma questão operacional, já que a campanha contra a gripe será realizada simultaneamente à vacinação de crianças contra o sarampo. A especialista defende que o Ministério amplie a faixa etária da imunização contra o sarampo, passando a contemplar crianças de 5 anos. Segundo Domingues, a medida não causaria nenhum prejuízo às crianças.
Para o médico e presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, Marco Aurélio Sáfadi, o fato da pasta diminuir a faixa etária das crianças do grupo prioritário para imunização contra a Influenza representa um retrocesso.
“A ideia é sempre expandir e não recuar. Não tem cabimento, ainda mais em ano de flexibilização de máscaras, um cenário favorável para a propagação de vírus respiratórios”, destacou o médico.
Para o Pediatra Infectologista e Presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, Renato Kfouri, a mudança causa confusão na população, já que a adesão das crianças de cinco anos foi feita há alguns anos. Ele afirma que um dos motivos para a pasta reduzir a faixa etária seria a falta de insumos como agulhas e seringas.
“O que chegou para gente foi isso. Que com a vacinação da Covid-19, a gripe e o sarampo, não ia ter seringa e agulha suficiente. Espero que consigam ampliar depois”, destacou Kfouri.
Público prioritário e novas cepas da vacina
De acordo com a nota técnica publicada pelo Ministério da Saúde, o objetivo da campanha de vacinação contra a gripe é atingir pelo menos 90% de cada um dos grupos prioritários: crianças, gestantes, puérperas, idosos com 60 anos e mais, povos indígenas, professores e trabalhadores da saúde.
Esse ano, a vacina de Influenza trivalente utilizada pelo SUS será eficaz contra as cepas H1N1, H3N2 e tipo B. O imunizante, produzido pelo Instituto Butantan, tem a formulação constantemente atualizada, para que a dose seja efetiva na proteção contra as novas cepas do vírus.
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Clínicas particulares temem falta de doses
A Associação Brasileira das Cínicas de Vacinas (ABCVAC) demonstrou preocupação com o fato de o Ministério da Saúde ter excluído as crianças de cinco anos dos grupos prioritários da campanha.
A entidade diz que a baixa quantidade de doses da vacina contra a Influenza disponibilizada pela indústria para atender o mercado acende um alerta. Segundo a ABCVAC, depois do surto de casos de influenza registrado no final do ano passado e no início de 2022, há uma expectativa de maior procura nas clínicas particulares.
O presidente da ABCVAC, Geraldo Barbosa, explica que a preocupação com a campanha contra a gripe é maior por se tratar do carro-chefe do mercado privado de vacinação, no entanto, esse cenário de escassez de imunizantes ocorre também com outras vacinas.
“O setor privado de vacinas potencial é de 7% a 10% da população brasileira para todas as vacinas. No entanto, a indústria disponibiliza doses para atender aproximadamente 3% dessa população, deixando o mercado desassistido, em especial pela política de trabalhar a risco zero. Além disso, 90% do que é oferecido à rede privada fica concentrada em um grupo pequeno de grandes empresas”, ressalta Barbosa.
A rede privada inicia por volta da última semana de março a campanha anual de vacinação contra a Influenza. Em 2021, as clínicas foram responsáveis por aplicar cerca de 8,5 milhões de doses, ante mais de 7 milhões em 2020. Esse ano é que venham cerca de 8 milhões. O valor das doses varia entre R$120 e R$160 em todo o Brasil.