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    Ucranianos que fogem das tropas russas deixam maridos, filhos e irmãos para trás

    Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky assinou lei que proíbe homens de 18 a 60 anos de deixarem o país, ordenando mobilização militar geral

    Tamara QiblawiMohammed TawfeeqSofiya Harbuziukda CNN

    Na estação ferroviária de Lviv, cidade no canto mais ocidental da Ucrânia, próxima da fronteira polonesa, centenas de pessoas estão saindo dos trens, desembarcando enquanto as sirenes soam.

    O terminal, uma das estruturas Art Nouveau mais históricas da Europa, é agora um ponto de passagem para os desalojados pela guerra, que tentam colocar centenas de quilômetros entre eles e uma Rússia invasora, enquanto se aproximam da linha de frente da Otan.

    Era impensável para muitos que o centro cultural histórico pudesse se tornar um alvo para Moscou – incluindo para os diplomatas e organizações internacionais que fugiram da capital ucraniana, Kiev, para Lviv nas últimas semanas. Acompanhe a cobertura especial da CNN.

    Mas quando as sirenes soaram, foi um lembrete assustador de que nenhum lugar na Ucrânia está a salvo do ataque total de Moscou ao país.

    Havia um olhar distante nos rostos das pessoas. A maioria se movia indiferente no pátio do lado de fora da estação, mesmo quando as sirenes soavam.

    Uma família empilhou cobertores sobre seu bebê em um carrinho. Duas mulheres vestiram um suéter rosa de tricô em um buldogue francês que estava tremendo. Várias outras famílias ficaram sentadas juntas, barricadas por grandes malas e sacolas plásticas. Eles disseram que não dormiam há dias por causa do bombardeio que destruiu as regiões que deixaram.

    Eles viajaram para Lviv de cidades e vilarejos de todo o país, rapidamente arrumando mochilas e juntando alguns pertences antes de fugir de suas casas.

    Ainda sofrendo com a violência, muitos dizem que não sabem para onde ir em seguida. É uma questão que foi complicada por uma nova lei marcial ucraniana implementada. Entre outras restrições, a lei proíbe homens entre 18 e 60 anos de deixar o país.

    Famílias recolhem seus pertences do lado de fora da estação de Lviv, na Ucrânia / Mark Philips/CNN

    As famílias que pensam em cruzar a fronteira da Ucrânia precisam lidar não apenas com o trauma de se tornarem refugiadas, mas também com a perspectiva de se separarem de seus filhos, irmãos, maridos e parceiros.

    Artem Zonenko acabou de chegar em Lviv, vindo de Kiev junto com a sogra e a filha pequena. Eles passaram a noite dormindo no chão de uma estação de metrô, se protegendo dos bombardeios na capital ucraniana. Sua esposa estava em Lviv há alguns dias. A família planeja passar um dia juntos antes de decidir se avó, mãe e filha continuam o caminho para a Polônia, deixando Zonenko para trás.

    Questionado sobre como ele se sentia sobre isso, ele deu um sorriso desesperado. “Não tenho certeza do que te dizer. É o que é”, disse ele, enfiando sua família dentro um táxi.

    O Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, o ACNUR, disse que pelo menos 100 mil pessoas deixaram suas casas nas primeiras 24 horas do ataque militar na quinta-feira (24). A mídia estatal e testemunhas oculares disseram que mais de 7 mil carros fizeram fila em cruzamentos na fronteira polonesa, que divide os países se estendendo por mais de 30 quilômetros.

    Andrei, de 45 anos, olhou para longe enquanto dava uma longa tragada no cigarro. Ele acabava de chegar de sua cidade natal, Odessa, no sudeste, e estava planejando um encontro com sua esposa bielorrussa na Polônia. “Ela está grávida. Eu preciso ir até ela”, disse ele, recusando-se a divulgar seu nome completo por razões de segurança. “Esta lei não faz sentido”.

    O governo anunciou a ordem geral de mobilização – que incluía a proibição de viagens dos homens – enquanto ele estava no trem. É uma situação inesperada que pode mudar o futuro de sua família, disse ele. “E então [nós] saímos do trem e as sirenes tocaram”, conta. “Fiquei chocado, porque nem nos disseram onde nos esconder. Fiquei chocado porque este lugar deveria ser seguro”.

    “E agora nos dizem que não podemos nem sair do país, enquanto os migrantes podem”, ele gesticulou para um grupo de estrangeiros nas proximidades. “Eu te pergunto, isso é justo?”.

    Para os migrantes que chegam a Lviv, o destino é certo – Polônia ou qualquer estado vizinho que os receba.

    “Não sei onde me esconder porque nenhum lugar é seguro”, diz Mehmet, um turco residente na Ucrânia, arrastando duas malas grandes pela calçada enquanto as sirenes soavam. “Nós só vamos sair do país”.

    Um grupo de estudantes universitários argelinos vindos de Odessa discutia freneticamente seus planos. “Vamos apenas para a Polônia”, disse Takieddine, que pediu para não ser identificado por razões de segurança. “Não há como ficarmos na Ucrânia”.

    Ucranianos fogem do conflito entre o país e a Rússia / Mark Philips/CNN

    “Nós nunca pensamos que isso aconteceria na Europa. Nunca. Nem em um milhão de anos”.

    Ihor Nakonechyi, de 52 anos, está na cidade fronteiriça de Mostyska fazendo preparativos para transportar sua ex-mulher e filha para a Polônia. Ele planeja deixá-los na fronteira próxima e depois voltar, não apenas porque a lei o proíbe de deixar o país, diz ele, mas porque “mal pode esperar para pegar uma arma” e se juntar à luta contra as forças russas.

    “É difícil […] mas não me incomodo com a lei. Na verdade, acho que essa é a coisa certa a fazer”.

    O jornalista Roman Tymotsko contribuiu com esta reportagem.

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