Depoimento de Freire Gomes é “delação premiada” particular, avaliam militares
General confirmou aos investigadores que presenciou reuniões que discutiram termos de minutas golpistas
Integrantes da cúpula militar ouvidos pela CNN consideram que a postura colaborativa do ex-comandante do Exército Freire Gomes é uma espécie de “delação premiada” particular do general. O prêmio seria reparar danos à própria imagem e também da instituição.
Freire Gomes prestou depoimento à Polícia Federal, na última sexta-feira (1º), na condição de testemunha. Como mostrou a CNN, o general confirmou aos investigadores ter presenciado reuniões para discutir termos de minutas golpistas.
A avaliação é de que essa versão coloca Freire Gomes entre os que agiram para evitar o golpe no país, apesar de o ex-comandante não ter, por exemplo, determinado a retirada dos acampamentos de manifestantes nos primeiros meses de ocupação em frente aos quartéis do Exército, principalmente em Brasília.
A postura adotada, ainda segundo os militares, poderia minimizar a possibilidade de Freire Gomes ser acusado de prevaricação por não ter revelado a história da minuta do golpe antes das investigações.
Isso, no entanto, vai depender de a PF encarar o depoimento da mesma forma.
Na visão de militares que ostentam a mesma patente do general, ao abrir o jogo, ele incentiva que outros oficiais tomem coragem de falar. Se o ex-comandante passar ileso, ex-subordinados poderiam se sentir confortáveis para contar suas versões.
Consequentemente, o depoimento também fortalece a defesa de que o alto comando do Exército não compactua com a suposta proposta de ruptura da democracia, ainda que, pessoalmente, alguns militares tenham ficado insatisfeitos com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Alguns colegas de farda chegam a falar que essa pode ser a última “grande missão” do general de reserva.