Metade dos motoristas que passam 16h nas estradas usam drogas, diz levantamento
Quanto menor o tempo de sono, maior também é a tendência de abuso de substância entre condutores no Brasil
Quanto maior a jornada de trabalho, maior é a tendência ao uso de drogas entre os motoristas que trabalham nas estradas brasileiras. A estimativa acompanha dados levantados pelo Ministério Público do Trabalho (MPT).
Entre os condutores que trabalham de 4 e 8 horas por dia, apenas 17,39% afirmaram recorrer a substâncias químicas. Já entre os condutores que assumem jornadas superiores a 16 horas esse número chega a 50%.
A pesquisa “Operação Jornada Legal 2023” foi feita pela Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho (Codemat) e Coordenadoria Nacional de Promoção da Liberdade Sindical (Conalis), em parceria com a Fiscalização do Trabalho e a Polícia Rodoviária Federal (PRF). O estudo foi realizado ao final de 2023, em todas as regiões do Brasil.
A relação é direta entre o uso de drogas com a carga de trabalho e o uso dessas drogas é imposto pelo modelo de exploração da mão de obra, de acordo com Paulo Douglas Almeida de Moraes, coordenador do grupo de Trabalho do Transporte Rodoviário do MPT.
O estudo mostra que 60% dos condutores que dormem menos de 4 horas usam drogas contra apenas 23% dos que descansam mais de 8 horas diárias. Entre os usuários, 50% usam cocaína, seguido por anfetamina e anfetamina e metanfetamina.
Cerca de 77,2% utiliza substâncias químicas para não dormir e, durante as análises, 13,45% dos motoristas tiveram exame toxicológico positivo para a doença.
Brasil é pioneiro no exame toxicológico
O uso do exame toxicológico começou há duas décadas no Brasil na polícia. Em 2001, o teste passou a ser usado para identificar pessoas que recorrem a substâncias psicoativas em profissões submetidas a situações adversas e que podem expor a sociedade a riscos.
“O Brasil é o primeiro país do mundo com o exame em larga janela de exposição com os agentes de segurança pública, todas as polícias”, afirma Renato Fernandes, head de negócios da toxicologia do Grupo Fleury.
Em 2007, o teste passou a ser usado nas Forças Armadas Municipais, quando observaram que os agentes que tinham problemas com a corregedoria, resultaram positivo para uso de drogas. Ao longo dos anos, Polícias Militares e Civis, Bombeiros e todas as Forças Armadas passaram a incluir nos editais de concurso a exigência de negativa para uso de drogas.
Para Fernandes, o Brasil foi o primeiro país com reconhecimento internacional com referência técnica numa política antidrogas, pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em 2023, 75 mil profissionais de saúde estarão envolvidos em exames e 800 mil admissões ocorreram no ano com uso do teste.
*(Sob supervisão de Felipe Andrade)