Molica: Bolsonaro deturpou o significado do passaporte da vacina
No quadro Liberdade de Opinião desta quarta-feira (8), comentarista Fernando Molica debate as medidas adotadas pelo governo para o combate à variante Ômicron
No Liberdade de Opinião desta quarta-feira (8), Fernando Molica analisa as falas do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, sobre o pedido da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para adoção do passaporte da vacina para a entrada de estrangeiros no Brasil.
“De novo vai começar esse negócio?”, questionou Bolsonaro em um evento na terça-feira (7) pela manhã. O presidente afirmou que a Anvisa pretende fechar o espaço aéreo brasileiro e minimizou os riscos da variante Ômicron. Já Queiroga, em uma coletiva na parte da tarde em Brasília, confirmou que não vacinados precisarão respeitar quarentena de cinco dias, mas afirmou que “às vezes, é melhor perder a vida do que perder a liberdade”, parafraseando Bolsonaro.
“A vontade é de dizer ‘de novo, presidente?'”, ironizou Molica. “Mais uma vez, ele deturpou o passaporte da vacina. A Anvisa não propôs o fechamento do espaço aéreo, o que ela propôs é algo que a grande maioria dos grandes países fazem.”
Para o comentarista, as medidas solicitadas pela agência não são inesperadas. “Não é nenhuma novidade. São medidas de prevenção, de proteção da população e proteção da economia do país”, afirmou.
Molica questionou a aprovação de uma quarentena de apenas cinco dias no Brasil, enquanto países como o Reino Unido adotaram a medida por um período mais extenso. “Na verdade, o que o governo fez ontem foi instituir o passaporte da vacina que ele não ousa dizer o próprio nome”.
“Você chega para um turista ou alguém que precise vir ao Brasil para negócios e diz: ou você apresenta o comprovante da vacina ou fica cinco dias isolado. Na prática, acredito que 99% das pessoas vão preferir tomar a vacina do que ficar cinco dias trancado no hotel pagando a conta. Para não ficar feio junto ao eleitorado mais radical, o governo toma a medida disfarçada”, completou.
O comentarista também discutiu as menções de liberdade feitas por Bolsonaro e Queiroga. “É duro ficar repetindo sempre isso. A liberdade de cada um de nós é limitada pelo direito alheio. Eu tenho que respeitar os radares de velocidade, o sinal vermelho, pagar impostos… esse conceito de liberdade que o presidente tanto defende é até superior ao conceito de liberdade do que aqueles que defendem todas as drogas.”
“O ministro é cardiologista. Se um paciente está internado no hospital, duvido que ele vá permitir que o paciente coma linguiça, picanha, coração de galinha. Estamos falando de doença contagiosa [a Covid-19]. Não dá para falar de liberdade individual. É a segurança de cada um de nós que está em jogo. Essa frase [melhor perder a vida do que a liberdade], ele tinha que perguntar se os parentes das pessoas que morreram concordam com ela”, concluiu.
O Liberdade de Opinião teve a participação de Fernando Molica e Ricardo Baronovsky. O quadro vai ao ar diariamente na CNN.
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