Expectativa é de que Ômicron se comporte como a Delta no Brasil, diz diretora do Butantan
Sandra Coccuzzo avalia que nova cepa pode ter resposta imunológica da população brasileira diferente da vista no exterior, mas afirma que testes in vitro precisam ser conduzidos
O comportamento da nova variante do coronavírus, a Ômicron, ainda está sob análise de pesquisadores ao redor do mundo, apesar de análises iniciais apontarem uma maior capacidade de disseminação da nova cepa.
No Brasil, que ainda não registra nenhum caso da Ômicron, a expectativa inicial é que exista um cenário semelhante à variante Delta: ela foi apontada como a responsável por uma onda de Covid-19 na Europa, mas não chegou a prevalecer em território nacional.
A análise é de Sandra Coccuzzo, diretora do Centro de Desenvolvimento Científico do Instituto Butantan, e foi realizada em entrevista à CNN nesta terça-feira (30). “Temos expectativa de um quadro semelhante à Delta: mesmo que ela se estabeleça, que possamos responder imunologicamente de forma diferente”, disse a biomédica.
Segundo Coccuzzo, quando a Delta chegou ao Brasil, o país se encontrava entre a aplicação da 1ª e 2ª dose das vacinas de forma mais ampla. Os dados analisados dão conta de um comportamento diferente do que foi avaliado no exterior.
“Muito claramente, o que a gente notou naquela época é que, conforme a população ia sendo vacinada, o estabelecimento da Delta não acarretava no aumento de internações, óbitos ou mesmo na gravidade do caso”, disse.
O mesmo teria acontecido anteriormente com a variante Beta, identificada primeiramente na África do Sul em dezembro de 2020.
Para Coccuzzo, é preciso reunir material suficiente para “investigar se o plasma das pessoas vacinadas é capaz de neutralizar essa variante”, disse, e também para realizar uma análise no cenário de maior vacinação no Brasil do que em comparação aos países do sul da África.
“É importante sempre colocar como questão é o que significa essa variante lá fora – estamos falando de um país infelizmente com vacinação muito pífia – comparado ao estado de São Paulo, que tem um número muito grande de pessoas vacinadas”.
“Vamos acompanhar e investigar in vitro para que possamos dizer o que significa a nossa vacinação frente a nova cepa”, afirmou Coccuzzo.
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Eficácia das vacinas
Questionada sobre a celeridade em testar as vacinas disponíveis para verificar sua resposta à infecções causadas pela Ômicron, a diretora afirmou que, após todo o período pandêmico, há uma condição de realizar tais análises de forma mais rápida.
“Estaríamos prontos para, no [tempo] mais breve possível, pensar na reformulação [das vacinas]”, disse.
Sandra Coccuzzo também afirmou que o desenvolvimento da vacina Butanvac, imunizante brasileiro de autoria do Instituto Butantan, está dentro dos cronogramas previstos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e que, caso a variante Ômicron se mostre capaz de “tomar conta do cenário”, ela também será inclusa no rol de testes da Butanvac.
“A nova cepa vai conseguir se estabelecer ou vamos encontrar alguns casos e não vai acontecer mais?
Nosso gatilho para testar novas cepas parte da premissa do comportamento das novas cepas. Se nos chamar atenção, [a Ômicron] entra nesse quadro de testes, sem dúvida nenhuma”, afirmou.