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    Litoral de SP: governo monitora risco de contaminação por frutos do mar que pode causar amnésia

    Prefeitura de Caraguatatuba recomendou a suspensão da venda e consumo de moluscos

    Guilherme Gamada CNN

    O litoral norte de São Paulo está sob risco de contaminação de moluscos, como ostras e mexilhões, por microalgas marinhas de uma espécie do gênero Pseudo-nitzschia, que produzem substâncias tóxicas que podem causar de sintomas gastrointestinais a neurológicos, como amnésia e convulsões.

    Até a última quarta-feira (20), não foi encontrada nos moluscos a presença das toxinas prejudiciais à saúde da população, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (SES).

    O resultado das análises dos mexilhões do litoral de Caraguatatuba ainda não foi liberado.

    A Prefeitura de Caraguatatuba recebeu na sexta-feira (15) um laudo da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (SAA) que alerta o município para aumento na presença das microalgas marinhas na água do mar e aguarda o resultado do novo teste.

    A Secretaria de Meio Ambiente, Agricultura e Pesca e a pasta da Vigilância Sanitária orientam os maricultores e comerciantes da cidade a suspender provisoriamente a venda e consumo dos moluscos para evitar o quadro conhecido como “envenenamento amnésico”.

    A SAA e a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), juntas a SES, elaboraram um o Plano de Contingência para possível contaminação.

    Por meio do Instituto de Pesca, ligado à  SAA, foram retirados os mexilhões dos locais onde foi detectada a presença das microalgas potencialmente tóxicas na água. As amostras dos mexilhões passaram por análises laboratoriais.

    A SES orienta os municípios do litoral norte quanto à importância da vigilância e notificação destes casos, mesmo que suspeitos, para acompanhamento. Até o momento, a Prefeitura de Caraguatatuba não registra notificação dos sintomas de contaminação nas unidades de saúde.

    O município emitiu alerta às Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Unidades Básicas de Saúde (UBS) para que fiquem atentas aos pacientes que apresentarem os sintomas citados e investiguem se houve consumo recente de molusco.

    Contaminação da cadeia alimentar

    As microalgas do gênero Pseudo-nitzschia são comuns no ambiente costeiro e fazem parte da cadeia alimentar dos ecossistemas marinhos — servindo principalmente como alimento dos organismos consumidores primários, como moluscos bivalves e peixes filtradores, como as sardinhas, que filtram a água do mar em busca de alimentos microscópicos.

    “Elas são como plantas no ambiente terrestre: fazem fotossíntese e servem como primeira fonte de energia para outros seres vivos”, explica Luiz Laureno Mafra Jr, oceanógrafo doutor em Biologia e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em entrevista à CNN.

    Algumas espécies dessas microalgas podem produzir o aminoácido neurotóxico chamado Ácido Domóico (AD). O especialista esclarece que nem todas as espécies dessa microalga produzem essa substância EM quantidades suficientes para causar prejuízos.

    O risco é maior quando ocorre o fenômeno conhecido como Floração de Algas Nocivas (FAN), quando há um crescimento e domínio das algas produtoras de AD na água do mar.

    O professor destaca que ações antrópicas como o aquecimento global, com aumento das temperaturas dos oceanos, e despejo do esgoto no litoral, relacionado a eutrofização, podem levar o ambiente marinho a um estado de desequilíbrio, possivelmente relacionado à maior proliferação desses microrganismos.

    Envenenamento Amnésico

    Com a multiplicação rápida das microalgas que produzem AD, há maior disponibilidade de alimento contendo toxina no ecossistema e pode ocorrer a contaminação dos moluscos filtradores, como mexilhões, ostras e vieiras, além de peixes como sardinhas (que também filtram a água do mar), retendo as toxinas em seus tecidos.

    Esses animais podem acumular as substâncias nocivas e levá-las para outros organismos que os ingerem. Em aves e mamíferos marinhos, por exemplo, a toxina age no sistema nervoso central, mais especificamente se ligando aos receptores para o neurotransmissor glutamato.

    “Por ter uma estrutura molecular parecida, essa toxina engana nossos receptores e desencadeia reações que podem levar à morte dos neurônios quando presentes concentrações excepcionalmente elevadas”, afirma

    Em casos graves, o consumo em altas contrações dessa substância leva à perda de neurônios, principalmente na região do hipocampo, região do cérebro responsável pelo aprendizado e pela memória — o que gera sintomas semelhantes ao quadro de amnésia.

    A contaminação em humanos causa sintomas gastrointestinais nas primeiras 24h, como diarreia, dores abdominais, vômitos e, em casos mais graves, sintomas neurológicos, como dores de cabeça, confusão mental, convulsões e amnésia após 48h da contaminação.

    (Com informações de Felipe Souza)

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