Os números da economia real do Rio em 2023 e o copo meio cheio
Todos conhecem a anedota de se enxergar um copo meio cheio, ou meio vazio, como forma de ilustrar uma visão otimista ou pessimista de um determinado fato. E, quando falamos do Rio de Janeiro, essa máxima fica ainda mais complexa. Há aqueles, com inúmeros argumentos, que veem no Estado um grande problema sem solução, assim como aqueles que, também com inúmeros argumentos, veem no Rio um potencial enorme.
O fato objetivo, ao olharmos os números, mostra que, sim, o atual momento é do copo meio cheio. Não se trata de uma ingenuidade ou de euforia desmedida como tivemos no passado. Os indicativos são inegavelmente bons. E estamos falando de um elemento relevante: são números relacionados à economia real, aquela que mexe no bolso das pessoas, e não a uma análise da macroeconomia e suas conjecturas.
Os últimos levantamentos mensais do IFec RJ (Instituto Fecomércio de Pesquisas e Análises) captaram uma sinalização peculiar de empresários e consumidores em relação a expectativas em relação ao futuro. Os números coletados são um ótimo exemplo de uma dinâmica que, no nosso entender, pode ajudar o Rio a acelerar a retomada de seu voo econômico em 2024.
Segundo as pesquisas Visão do Consumidor e Visão do Empresário, os consumidores apresentam, nos últimos meses, um nível de otimismo maior do que a confiança indicada pelos empresários da área de comércio e serviços. Isso pode parecer trivial, mas denota a dinâmica que deveria ser considerada por empresários: “confiem na confiança” dos seus consumidores. Se existe ânimo e perspectiva de um cenário melhor por parte de quem consome, então é precisamente esse ponto que deve servir de otimismo para os empresários.
Esse dado, no contexto do Rio de Janeiro, só vem a somar com outros sinais que já vêm sendo observados há algum tempo – seja em estatísticas oficiais, seja em movimentos concretos no mercado e mesmo em avanços institucionais importantes, que são sementes que certamente resultarão em colheitas generosas no futuro próximo.
O emprego é um bom exemplo. Segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o Rio teve uma alta de 36% no saldo de vagas formais em setembro, na comparação com o mesmo mês de 2022. Em termos comparativos, nosso estado registrou o terceiro maior saldo em todo o país, atrás apenas de São Paulo e Pernambuco. Detalhe importante é que esses números foram puxados, principalmente, pelo setor de serviços.
No comércio, os dados coletados mensalmente pelo IBGE também respaldam o otimismo: o volume de vendas no comércio fluminense, em setembro, aumentou 3,1% em relação a agosto – o maior crescimento em todo o Brasil. Na comparação com setembro de 2022, a alta também foi significativa (7,1%). Mas um dado quiçá mais importante seja o fato de que, pela primeira vez desde novembro de 2021, a variação acumulada no ano atingiu valor positivo. Ou seja, há uma clara tendência de crescimento nas vendas do comércio varejista.
No campo institucional, não há como não ressaltar a aprovação, em setembro, pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), do programa Tax Free. Trata-se de um sistema presente com sucesso em mais de 60 países e que vai garantir o reembolso de impostos a visitantes estrangeiros em suas compras no Rio de Janeiro. O potencial para o comércio é enorme, com uma estimativa de R$ 1 bilhão a mais circulando na economia fluminense a cada ano.
Há sinais, também, que podem ser observados quase toda semana no Rio: a normalização do nosso calendário de eventos, eliminando os resquícios de todas as restrições necessárias que tivemos de lidar durante a pandemia. São grandes shows internacionais, eventos esportivos de grande porte, feiras e congressos setoriais de alta relevância, como o retorno da Abav, maior feira do setor de turismo, para o Rio de Janeiro. Isso tudo forma uma equação vencedora, resultando em emprego e renda.
Portanto, é mais do que natural a alta confiança dos consumidores expressa nos números coletados pelo IFec RJ, em relação às suas perspectivas futuras de emprego e renda. Do mesmo modo, é também compreensível a visão ainda um pouco mais cautelosa de empresários, escaldados pelos desafios da pandemia e dessa retomada igualmente desafiadora. Mas acreditamos que, aqui, os consumidores têm os elementos para servir de guia para os comerciantes e prestadores de serviços e para o setor produtivo de modo geral. O recado da economia real em 2023 mostra que, em 2024, estaremos pelo menos cada vez mais distantes do copo meio vazio.
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