Oposição na Alesp tenta obstruir tramitação da privatização da Sabesp; base governista diz estar tranquila com votação
Votação do projeto está marcada para segunda-feira (4); base do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) precisa da maioria simples de 48 deputados para proposta avançar
Deputados de oposição ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), começaram a traçar estratégias na tentativa de barrar a tramitação do projeto de lei (PL) que trata da privatização da Sabesp, empresa de saneamento do estado de São Paulo, na Assembleia Legislativa paulista (Alesp).
O início das discussões no plenário da Alesp está marcado para esta segunda-feira (4), após a base governista conseguir antecipar a votação da proposta em um dia. O acordo foi feito em reunião do Colégio de Líderes na última quarta-feira (29).
Para avançar em plenário, a matéria precisa da maioria simples de 48 votos do total de 94 deputados estaduais. Segundo apuração do analista Caio Junqueira, o Palácio dos Bandeirantes aposta em uma aprovação relativamente tranquila da proposta, com algo entre 50 e 60.
“Nós temos a base [do governo] tranquila para votar e votaremos de forma democrática a partir do momento que esgotar a discussão, que esgotar o encaminhamento, dando total e plena oportunidade para que todos os deputados tenham o direito de debater, de discutir e votar,” afirma o deputado estadual Jorge Wilson (Republicanos), líder do governo Tarcísio.
Com 18 cadeiras na Assembleia Legislativa, o Partido dos Trabalhadores (PT), com apoio de outras legendas da oposição, como o PSOL, pretende obstruir ao máximo o processo de votação. Para isso, os partidos devem se utilizar de regras previstas no regimento interno da Casa para ampliar a discussão.
“Faremos um amplo debate com a participação de todos os deputados e deputadas. Pelo menos 30 falarão. Com isso, podemos esclarecer a sociedade e as 375 cidades [atendidas pela Sabesp] o que significa privatizar a empresa. Uma companhia lucrativa e que presta um serviço essencial para a população”, diz o deputado estadual Paulo Fiorilo, líder do PT no legislativo paulista.
Em sessão na quinta-feira (30), a Alesp oficializou a convocação de duas sessões extraordinárias para segunda-feira. A primeira está marcada para as 16h30.
“Nós vamos utilizar todos os instrumentos disponíveis para obstruir totalmente a votação deste projeto. O futuro da saúde pública e da gestão dos nossos recursos hídricos não podem ser negociados dessa forma”, acrescenta o deputado estadual Guilherme Cortez (PSOL).
Devido ao curto prazo para votação de projetos até o final do ano — a Alesp deve encerrar os trabalhos no dia 14 de dezembro —, o texto tramita em caráter de urgência. O rito de análise da matéria é mais um ponto criticado pela oposição.
A venda da Sabesp é uma questão de interesse público e está sendo conduzida sem tempo hábil para um debate qualificado com a população de São Paulo. É incontestável que o governo Tarcísio evita prolongar o debate da privatização da empresa para o período eleitoral e prevenir que aconteçam eventos, como os ocorridos nos serviços privatizados: o apagão protagonizado pela Enel e as constantes falhas das linhas de trem operadas pela ViaMobilidade
Guilherme Cortez
É jogo de narrativa. A oposição está questionando aquilo que não existe. Basta a oposição ler o regimento. O rito está sendo cumprido de forma muito democrática. Tanto é prova disso que fizemos audiência pública, em que a população e os deputados tiveram a oportunidade de fazerem suas críticas. Também tivemos dois congressos de comissões — dispositivo usado para acelerar a tramitação de projetos prioritários –, em que os deputados discutiram, encaminharam e votaram. Não tem nada de errado. Agora, no plenário, iniciaremos mais uma etapa das discussões de forma regimental. Todo o direito de debater e de obstruir está sendo respeitado
Jorge Wilson
A oposição ainda tenta, na Justiça, barrar a tramitação do projeto. Até aqui, sem sucesso. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) já rejeitou três pedidos de liminares para suspender o atual rito de análise do texto de autoria do Executivo.
O vice-líder do governo, deputado Guto Zacarias (União Brasil), refuta a ideia de que faltou debate. “O projeto está seguindo exatamente o rito legislativo previsto no regimento interno da Alesp, tanto é assim que deputados da oposição ajuizaram medidas judiciais para tentar impedir e suspender a tramitação do projeto na Casa, e todos esses processos foram indeferidos pelos juízes, o que mostra a legalidade dos ritos adotados para a votação do PL. A base do governo não cometeria o erro de não seguir o regimento, pois ficaria suscetível a uma possível intervenção do Poder Judiciário, o que certamente atrasaria a aprovação do projeto e traria prejuízos para a população.”
Apesar do esforço, a liderança do PT avalia com pessimismo a possibilidade de frear a tramitação. “Vai depender de quantos deputados e deputadas foram convencidos pelo argumento técnico e econômico do governador. Isso só saberemos no decorrer do processo”, explica Fiorilo, que conclui: “A privatização da companhia vai aumentar a tarifa, piorar a qualidade do atendimento presencial, dar fim às ações sociais da empresa, além de acarretar na perda do ativo da estatal para a iniciativa privada”.
“A oposição precisa entender que o projeto é bom para o estado de São Paulo. Para se ter uma ideia, a Sabesp, para atingir a universalização do saneamento, precisaria aumentar a tarifa ao consumidor, e chegaria em 2033 com um investimento de R$ 56 bilhões. Com a aprovação do projeto, nós teremos um investimento de R$ 66 bilhões, a universalização antecipada em quatro anos, em 2029, e uma tarifa menor”, finaliza o líder do governo.