Chefe do tráfico preso no Rio teve festa com bolo, salgadinhos e refrigerante
A entrada de itens proibidos foi autorizada por integrantes da cúpula da Secretaria de Administração Penitenciária aponta documento obtido pela CNN
A decisão judicial do desembargador Paulo Cesar Morais Espírito Santo, relator da Operação Simonia, aponta que chefes do tráfico recebiam vantagens indevidas dentro da cadeia na gestão do então secretário de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro, Raphael Montenegro.
No documento, o desembargador diz que o traficante
Wilton Carlos Rabello Quintanilha, conhecido como “Abelha”, recebeu visitas de cortesia do então secretário, agora preso, mas também teve uma festa com alimentos que são vetados na prisão. O magistrado afirma que Montenegro e outros integrantes da cúpula da Seap “autorizaram a entrada de itens proibidos (bolo, refrigerante, salgados) no dia 24/07 para a comemoração do aniversário do detento”.
Além dos privilégios concedidos, Quintanilha ainda foi solto mesmo tendo tido mandado de prisão expedido pela 3ª Vara Criminal, no dia 14 de julho de 2021. O alerta foi ignorado pela Seap segundo o documento obtido pela CNN.
A soltura do criminoso foi a última escala de favorecimentos que o então secretário teria alcançado ao longo dos seis meses no cargo. “Numa primeira rodada, esses atos irregulares se traduziram em entrevistas, em aproximações pouco comuns em relação a essas lideranças. Já numa segunda rodada, num intervalo bastante curto, elaboração de pareceres beatificando criminosos de altíssima periculosidade e até culminando, numa terceira rodada, na soltura irregular de detento”, afirmou o delegado Heziel Martins, que coordenou a operação.
Montenegro ainda é acusado de ter ido até a
, no interior do Paraná, onde teria atuado para favorecer traficantes. Segundo o documento, a visita que seria para negociar a transferência de presos, acabou por incentivar a continuidade dos crimes – inclusive produzindo relatórios elogiosos aos detentos de mais alta periculosidade.
“Todos esses elementos postos pela Autoridade Policial e pelo Ministério Público Federal demonstram uma postura imoral, ilegal, conivente e até fraternal do Secretário de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro, com presos perigosíssimos que estão cumprindo pena na Penitenciária Federal de segurança máxima de Catanduvas/PR”, afirma o desembargador.
“Pela leitura das conversas, e demais fatos praticados pelo Secretário, percebe-se que Raphael, na qualidade de Secretário de Administração Penitenciária do Estado, não está nem um pouco preocupado em coibir o tráfico de drogas e demais ilícitos gravíssimos dele derivados. Ao contrário, seu intento é incentivar e facilitar a continuidade dos crimes em larga escala”, completa.
Montenegro foi exonerado cerca de duas horas depois da prisão. No lugar dele assume o delegado federal Victor Hugo Poubel. O governo do Rio de Janeiro emitiu nota sobre o assunto. Eles dizem que ‘a substituição já havia sido decidida na semana passada e aguardava os trâmites da cessão do servidor público federal’ e que ‘nesta manhã, o governador falou com o ministro da Justiça, Anderson Torres, colocando o Estado à disposição e reforçando que o governo é o maior interessado no esclarecimento dos fatos’.
A CNN não conseguiu contato com os advogados de Montenegro.