Covid-19 e inflação acentuam perda do poder de compra do cartão alimentação
A partir de agosto de 2020, entretanto, o estudo constatou um recuo progressivo da relação entre os valores de recarga e cesta básica
Os benefícios recebidos pelos trabalhadores formais para alimentação tiveram perda de poder de compra durante a pandemia de Covid-19, segundo análise inédita da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), com base nos dados da Alelo dos cartões de Alimentação e Refeição entre janeiro de 2018 e maio de 2021 e no valor da cesta básica medido pelo Dieese.
Conforme o levantamento, entre abril de 2019 e março de 2020, o valor médio de recarga do benefício Alimentação correspondia a 87,7% da cesta básica, porcentual que caiu para 81,8% de abril de 2020 a março de 2021. “Em outras palavras, os créditos recebidos pelo trabalhador formal na forma do benefício alimentação passaram a comprar uma quantidade menor de produtos que compõem a cesta básica no período de análise”, diz a nota enviada com exclusividade ao Broadcast.
Na análise mensal, o ponto máximo foi alcançado em novembro de 2019 (101,7%). A partir de agosto de 2020, entretanto, o estudo constatou um recuo progressivo da relação entre os valores de recarga e cesta básica, atingindo seu menor patamar em janeiro de 2021 (72,7%) – em janeiro de 2019 e de 2020, essa razão era de 89,1% e 83,3%, respectivamente. Já no último mês disponível da série, em maio de 2021, a relação mostrou ligeira recuperação (76%) frente à mínima de janeiro.
Os pesquisadores da Fipe notam a aceleração importante do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) no último ano e destacam que os resultados apurados estão em linha com outras evidências e considerações relacionadas aos efeitos da crise sanitária sobre a renda e o emprego no Brasil.
Em resumo, dizem que os dados são compatíveis com crise enfrentada por segmentos e atividades de serviços, bem como o quadro de vulnerabilidade e incerteza dos trabalhadores, seja pela ameaça do desemprego, pelo encarecimento dos itens importantes para alimentação e sustento da casa, pelo endividamento e pela inadimplência, por exemplo.
“A análise do uso de benefícios voltados para a alimentação permite a compreensão de hábitos de consumo de fatias relevantes da população. Os vales, ou vouchers, podem contribuir de forma importante para o orçamento doméstico, aumentando a renda disponível para outros gastos, inclusive para o pagamento de contas e dívidas. Para as famílias de renda mais baixa, mais expostas ao desemprego e à queda no poder de compra motivada pelo avanço da inflação, a situação é mais dramática”, reforça Cesário Nakamura, presidente da Alelo.