Satisfação salarial entre professores no Brasil é menor do que na América Latina
De acordo com relatório da OCDE, piso salarial brasileiro é um dos mais baixos do mundo
Menos de 20% dos professores brasileiros estão satisfeitos com os salários que ganham. O índice é menor do que as médias da América Latina e dos quase 40 membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O perfil profissional da categoria consta no último relatório divulgado neste mês pela OCDE em parceria com a Todos Pela Educação.
De acordo com o relatório “A educação no Brasil: uma perspectiva internacional”, a média de professores satisfeitos com os salários em países da OCDE chega a quase 40% – praticamente o dobro do índice brasileiro.
Na América Latina, o percentual é de 30%. A insatisfação é resultado de outro apontamento do documento: o piso salarial dos professores, que está entre os mais baixos quando comparado com os parceiros da OCDE e outros países latino-americanos.
“As carreiras são muito mal desenhadas. Pagam salário inicial muito baixo, o professor demora muito tempo para conseguir valorização e tem toda questão da aposentadoria a ser resolvida. Em resumo, precisamos de um novo desenho das carreiras do professor, que busque valorização, seja fiscalmente responsável e permita que eles possam se desenvolver”, afirma Gabriel Corrêa, líder de políticas educacionais da Todos Pela Educação.
O documento também afirma que os professores recebem menos do que outros trabalhadores com formação superior no Brasil, especialmente na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Fato que contrasta com as tendências de outros países emergentes da América Latina, onde os salários dos professores são iguais ou superiores aos de outros trabalhadores de nível superior.
Volume de trabalho
A partir de bases de dados e pesquisas nacionais e internacionais, a OCDE também aponta que um em cada cinco professores brasileiros trabalha em duas ou mais escolas. E cerca de um terço deles tem emprego adicional para complementar a renda.
“A rotina dos professores brasileiros é muito desgastante. Mesmo os que dão aula em uma única escola, têm muitas turmas, têm pouco tempo para se preparar para uma aula, de como se desenvolver melhor para dar aulas”, observa Corrêa.
Representatividade
Para o deputado Professor Israel Batista (PV-DF), presidente da Frente Parlamentar Mista da Educação (que reúne deputados e senadores envolvidos com o tema), aumentar a representatividade dos profissionais de ensino no Congresso também pode colaborar para avançar com pautas ligadas à causa.
Ele relembra a pressão do grupo para aprovação do novo Fundeb, do projeto que amplia acesso à internet a estudantes e professores e também para frear o debate sobre homeschooling no legislativo.
“Precisamos avançar em questões como mudança no currículo da formação do docente.
Se não houvesse uma frente articulada, não seria possível pressionar o Congresso para colocarmos esses projetos em pauta. Quanto mais o tema tem representatividade, mais a pauta se fortalece”, avalia o deputado.
O líder da Todos Pela Educação ainda reflete sobre certa “romantização” com o papel do professor na sociedade e cobra um olhar mais realista para a categoria.
Se quisermos ter um país desenvolvido, precisamos valorizar mais a profissão docente. Precisamos sair do discurso de que o professor é coitado ou que é herói. É uma profissão, que precisa ser vista como uma profissão. O professor deve ser valorizado como qualquer outro profissional.
Gabriel Corrêa, líder da Todos Pela Educação