Eleições nos EUA: por que o resultado provavelmente não sairá em 3 de novembro
Podemos até saber quem vai vencer, mas é muito improvável que o resultado seja divulgado pela mídia na noite da eleição por dois motivos
A grande questão conforme entramos no último fim de semana da campanha de 2020 é a seguinte: nós saberemos quem venceu a Casa Branca já na terça-feira (3)?
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A resposta é que podemos saber, mas é muito improvável que o resultado seja divulgado por qualquer canal de televisão ou veículo de mídia na noite da eleição. E há dois grandes motivos:
1) A eleição de 2016
Embora as pesquisas eleitorais nacionais estivessem, em maior parte, certas sobre a margem de voto popular de Hillary Clinton —ela tinha uma margem de 2,8 milhões no voto popular— não há dúvida que a vitória do presidente Donald Trump há quatro anos foi uma surpresa para, bem, quase todos. E isso inclui os veículos de mídia que têm modelos de previsão da eleição, na esperança de serem capazes de atribuir corretamente cada estado pêndulo aos candidatos e, no fim, declarar qual será o próximo presidente bem antes dos votos de verdade serem contados.
Por causa do choque ao sistema político há quatro anos, baseado, em maior parte, na habilidade de Trump de conclamar às urnas cidadãos que não costumavam votar tradicionalmente, haverá uma quantidade significativa de cuidado ao se fazer projeções sobre quem venceu em estados disputados e quem venceu a eleição.
O maior pesadelo para quem está tentando projetar quem será o próximo presidente aconteceu em 2000, quando a Flórida anunciou um vencedor, mas voltou atrás com a chegada de mais informações e votos.
Ninguém quer uma repetição disso, particularmente dadas as declarações repetidas de Trump, sem embasamento, de que a eleição está, de algum modo, fraudada.
2) A votação antecipada em massa
Por conta de uma combinação da pandemia do novo coronavírus e uma série de estados alterando suas leis para tornar mais fácil o voto por correspondência ou o voto antecipado presencial (por conta do vírus), os números da votação antecipada estão em nível histórico. No Texas, por exemplo, mais pessoas já votaram antecipadamente do que o total — tanto antecipado quanto no dia da eleição — em 2016.
Nós nunca vimos nada parecido com esses números de votação antecipada, principalmente porque não lidamos com uma pandemia fatal como a Covid-19 em mais de 100 anos. Por conta da natureza de “espelho invertido” do voto antecipado, fica ainda mais difícil que o normal de produzir modelos de predição nos quais os veículos baseiam suas previsões.
O aumento no voto antecipado significa que menos pessoas vão votar pessoalmente na terça-feira? Ou a participação no Dia da Eleição vai disparar, de maneira proporcional à votação antecipada? Ou um misto dos dois?
Ninguém —e eu enfatizo, ninguém — sabe a resposta dessas perguntas. E isso significa que as pessoas responsáveis por anunciar o resultado nos estados (e no país) serão especialmente cautelosos ao ler os sinais que os modelos de votação estão enviando.
Some isso tudo e você começa a entender por que ficar acordado até tarde em 3 de novembro (ou levantar bem cedo em 4 de novembro), pode não significar que você saberá quem será o vencedor.
Cautela é recomendada —sempre— ao anunciar algo tão monumental como o próximo presidente dos Estados Unidos. Mas é ainda mais importante ser cuidadoso quando está se fazendo esse tipo de projeção em meio à pandemia e com um homem na Cas Branca que anunciou sua crença (falsa) de que algo desonesto está acontecendo na votação.
É melhor estar certo do que ser o primeiro. E isso nunca foi mais verdadeiro do que nesta eleição.
(Texto traduzido, leia o original em inglês)