Cresce boicote de muçulmanos à França após Macron defender caricaturas de Maomé
Presidente disse que França não irá "desistir" de caricaturas consideradas blasfêmias após ataques ao Charlie Hebdo e caso de professor decapitado
Crescem movimentos em países muçulmanos para boicotar produtos franceses como forma de protesto após o presidente Emmanuel Macron defender publicamente que sejam expostas charges do profeta Maomé, consideradas blasfêmias pelo Islã.
Na semana passada, Macron defendeu as charges durante homenagens ao professor de ensino médio Samuel Paty, que foi decapitado no início deste mês durante um ataque terrorista em um subúrbio ao norte de Paris.
Paty foi morto depois de mostrar caricaturas do profeta durante uma aula sobre liberdade de expressão.
Macron disse que a França não vai “desistir” das caricaturas e se comprometeu a combater o islamismo extremo no país, gerando manifestações e boicotes em países de maioria muçulmana.
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“Estou convocando o povo, não chegue perto dos produtos franceses, não os compre”, disse o presidente turco Recep Tayyip Erdogan na segunda-feira, durante um discurso na capital Ancara. “Os líderes europeus devem dizer ‘pare’ a Macron e sua campanha de ódio.”
Nesta terça, em uma transmissão pela mídia estatal, o governo da Arábia Saudita condenou as charges, embora não tenha mencionado diretamente boicotes a produtos franceses.
No Kuwait, uma rede não governamental de hipermercados disse que mais de 50 de seus estabelecimentos planejavam boicotar os produtos franceses. Uma campanha de boicote também está em andamento na Jordânia, onde alguns supermercados colocaram cartazes declarando que não estavam vendendo produtos franceses.
Várias lojas do Qatar estão fazendo o mesmo, incluindo a rede de supermercados Al Meera, que tem mais de 50 filiais no país árabe. A Universidade do Qatar também decidiu suspender a Semana da Cultura Francesa.
O assassinato de Paty reacendeu as tensões em torno do secularismo, islamismo e islamofobia na França, mas a irritação pública nos países islâmicos está relacionada também à forma como Macron lidou com o ataque, desconsiderando as ofensas a seguidores do Islã. A questão se tornou um problema diplomático e econômico para a França.
Em um comunicado divulgado no domingo, o Ministério das Relações Exteriores da França classificou os boicotes a seus produtos de “injustificados” e exigiu que eles “terminassem imediatamente”.
O ministério considerou que a reação distorceu os comentários do presidente por objetivos políticos, e que “as posições defendidas pela França [eram] a favor da liberdade de consciência, liberdade de expressão, liberdade de religião e a recusa de qualquer chamado ao ódio”.
O comunicado acrescentou que as políticas de Macron visavam “lutar contra o islamismo radical e fazê-lo com os muçulmanos da França, que são parte integrante da sociedade francesa, da história e da República”.
“Não vamos ceder, nunca”, escreveu Macron em seu Twitter no domingo. “Respeitamos todas as diferenças em um espírito de paz. Não aceitamos discursos de ódio e defendemos um debate razoável. Estaremos sempre ao lado da dignidade humana e dos valores universais.”
As caricaturas de Maomé que Paty usou em sua aula apareceram originalmente no Charlie Hebdo e foram citadas como a motivação para um ataque terrorista à revista satírica em 2015 que deixou 12 mortos. Macron defendeu ferozmente o direito de exibir esses desenhos na França no evento em memória de Paty.
Jordânia, Paquistão, Egito e Irã estão entre os países islâmicos que condenaram a França pela publicação das caricaturas e pela resposta de Macron.
“Condenamos a publicação de caricaturas satíricas retratando o profeta Maomé”, tuitou Ayman Al-Safadi, ministro das Relações Exteriores da Jordânia, no sábado.
O líder do Paquistão, Imran Khan, a mais alta autoridade religiosa do Egito, o Grande Imam de Al-Azhar e o Ministério das Relações Exteriores do Irã também criticaram a França.
Alguns líderes europeus, proém, falaram em apoio a Macron, incluindo a chanceler alemã, Angela Merkel, cujo porta-voz rapidamente condenou os comentários de Erdogan na segunda-feira.
O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, disse que Berlim se solidarizou com Paris. Os líderes da Grécia e da Áustria também expressaram apoio a Macron.