Papa expressa tristeza por crianças mortas em escola católica no Canadá
O país descobriu restos mortais de 215 crianças indígenas na Kamloops Indian Residential School; durante a prece, Francisco pediu 'cura e reconciliação'
O papa Francisco disse no domingo que ficou triste com a descoberta dos restos mortais de 215 crianças em uma antiga escola católica para estudantes indígenas no Canadá e pediu o respeito pelos direitos e pela cultura dos povos nativos.
No entanto, Francisco não fez o pedido de desculpas direto que alguns canadenses haviam exigido. Há dois dias, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, disse que a Igreja Católica deve assumir a responsabilidade por seu papel na administração de muitas escolas.
Falando aos peregrinos e turistas na Praça de São Pedro para sua bênção semanal, Francisco exortou os líderes religiosos católicos e políticos canadenses a “cooperar com determinação” para lançar luz sobre a descoberta e buscar reconciliação e cura. Francisco disse que se sentiu próximo “do povo canadense, que ficou traumatizado com a notícia chocante”.
As escolas residenciais operaram entre 1831 e 1996 e eram administradas por várias denominações cristãs em nome do governo. A maioria era dirigida pela Igreja Católica.
A descoberta no mês passado dos restos mortais das crianças na Kamloops Indian Residential School, na Colúmbia Britânica, que fechou em 1978, reabriu velhas feridas e está alimentando a indignação no Canadá sobre a falta de informação e responsabilidade.
“A triste descoberta aumenta ainda mais a compreensão da dor e do sofrimento do passado”, disse Francisco.
“Estes momentos difíceis representam um forte lembrete para todos nós de nos distanciarmos do modelo de colonizador (…) e de caminharmos lado a lado no diálogo e no respeito mútuo no reconhecimento dos direitos e valores culturais de todos os filhos e filhas do Canadá”, disse ele.
O sistema de escolas residenciais separou à força cerca de 150 mil crianças de suas casas. Muitos foram submetidos a abusos, estupro e desnutrição no que a Comissão da Verdade e Reconciliação em 2015 chamou de “genocídio cultural”.
“Recomendemos ao Senhor as almas de todas as crianças mortas nas escolas residenciais do Canadá e oremos pelas famílias e comunidades nativas do Canadá destruídas pela dor”, disse ele, antes de pedir à multidão que se juntasse em silêncio para uma oração.
Francisco, que foi eleito papa 17 anos após o fechamento das últimas escolas, já se desculpou pelo papel da Igreja no colonialismo nas Américas. Mas ele preferiu pedir desculpas diretas ao visitar países e conversar com os povos nativos. Nenhuma visita papal ao Canadá está programada. Visitando a Bolívia em 2015, Francisco se desculpou pelos “muitos pecados graves cometidos contra o povo nativo da América em nome de Deus”.
(Reportagem de Philip Pullella; com edição de Hugh Lawson e Raissa Kasolowsky)