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    Enfermeira relata remoções de útero e negligência em centro de imigração nos EUA

    Delatora alega alta taxa de cirurgias para remoção do útero em estabelecimento no estado da Geórgia

    da CNN*

    Uma ex-funcionária de um centro de detenção da Agência de Imigração e Fiscalização Aduaneira dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês) no estado norte-americano da Geórgia acusa o local de submeter as detentas a esterilizações e outros procedimentos ginecológicos impróprios. A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, requereu que a direção do Departamento de Segurança Nacional (DHS) investigue as acusações.

    Os casos teriam ocorrido no Centro de Detenção do Condado de Irwin, administrado por uma instituição privada. A queixa foi protocolada ao inspetor-geral do Departamento de Segurança Nacional (DHS, na sigla em inglês) na última segunda-feira (14). 

    A denúncia partiu da enfermeira licenciada Dawn Wooten, que declarou que, enquanto algumas mulheres podem ter pedido pela histerectomia – cirurgia de remoção do útero –, “o útero de todas não pode estar assim tão ruim”. 

    “Todas que ele [o médico] vê passaram por histerectomias — quase todas. Ele tirou o ovário errado de uma jovem mulher [uma imigrante detida]. Ela deveria remover o ovário esquerdo por causa de um cisto; ele tirou o direito. Ela ficou irritada, teve que voltar para tirar o outro e acabou com uma histerectomia total”, relata. 

    “Ela ainda queria ter filhos e agora tem de voltar para casa e dizer ao marido que não pode mais engravidar. Ela disse que não estava totalmente anestesiada [durante o procedimento] e o ouviu [o médico] dizendo à enfermeira que havia retirado o ovário errado”, continua.

    A queixa não revela o nome do ginecologista ou o número de mulheres que teriam sido forçadas a se submeter ao procedimento, nem quando isso ocorreu.

    Wooten descreve conversas com detentas que não entendiam por completo por que haviam passado pelo procedimento. “Essas mulheres imigrantes, eu não acho que elas realmente, totalmente entendiam o que ia acontecer, dependendo de quem explicava a elas”, disse.

    À Reuters, a denunciante disse que mulheres que reclamavam de menstruações com fluxo muito intenso ou que pediam por controle de natalidade eram enviadas a ginecologistas externos e, às vezes, recebiam histerectomias. 

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    A enfermeira não detalhou os relatos sobre histerectomias durante entrevista coletiva à imprensa na terça-feira (15).

    Priyanka Bhatt, advogada do Project South, uma organização por justiça social que está representando Wooten, disse que, ao longo dos anos, “nosso grupo ouviu de várias mulheres que passaram por histerectomias ou que conversaram com outras imigrantes que passaram por histerectomias”. 

    Uma imigrante detida disse ao Project South que havia falado com cinco mulheres diferentes no Centro de Detenção do Condado de Irwin, entre outubro e dezembro de 2019, que haviam passado pelo procedimento. 

    “Quando conheci todas essas mulheres que tinham passado por cirurgias, eu pensei que esse era um campo de concentração experimental. Era como se eles estivessem fazendo experiências com os nossos corpos”, disse a imigrante, cujo nome não foi divulgado pela organização.

    O ICE nega todas as alegações e, em nota, disse que “um procedimento médico como uma histerectomia jamais seria realizado contra a vontade de uma detenta”. 

    Registros oficiais

    Desde 2018, só duas pessoas no Centro de Detenção do Condado de Irwin foram referenciadas a médicos credenciados para receberem histerectomias, de acordo com Ada Rivera, diretora-médica do departamento de Saúde do ICE, citando dados da agência.

    “Baseados em avaliações, especialistas recomendaram essas histerectomias. Essas recomendações foram revisadas pela autoridade clínica do local e aprovadas”, disse ela em nota. 

    O centro deve seguir as práticas médicas estabelecidas pelo ICE em 2011, que dizem que “detentas devem receber cuidados médicos ginecológicos e obstétricos adequados a suas idades, consistentes com as diretrizes reconhecidas pela comunidade para atendimentos de saúde feminina”. 

    De acordo com esses padrões, atendimentos de saúde devem ser providenciados por profissionais “licenciados, certificados, credenciados e/ou registrados de acordo com os requerimentos estaduais e federais”. 

    O centro escolhe profissionais de saúde na comunidade local que aceitem detentas da ICE como pacientes, disse um funcionário da agência, acrescentando que em alguns casos, os centros têm contatos com quem trabalham rotineiramente.

    A LaSalle Corrections, que opera o centro na Geórgia, não respondeu ao contato da CNN para comentar. À Reuters, a empresa negou veementemente as alegações e “qualquer implicação de má conduta”. 

    Repercussão entre parlamentares

    A queixa, que também inclui uma série de preocupações sobre como o centro está lidando com a pandemia do novo coronavírus, imediatamente recebeu manifestações de legisladores democratas.

    “As alegações divulgadas na queixa desta informante apontam para um padrão alarmante de condições inseguras e falta de supervisão em centros da ICE que são geridos por instituições privadas”, disse o deputado Bennie Thompson, do Mississipi, presidente do Comitê de Segurança Nacional na Câmara, em nota.

    Ele acrescentou que a acusação de que histerectomias estejam sendo realizadas sem o consentimento dessas mulheres é “incrivelmente perturbadora”. 

    O comitê de Thompson está investigando as condições de centros da ICE geridos por contratos. A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, democrata da Califórnia, requereu que o inspetor-geral do DHS investigue as acusações de Wooten.

    (Com informações de Priscilla Alvarez, da CNN Internacional, e da Reuters)

     

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