Corretoras conquistam novos investidores com desafio de manter retornos
Em busca de ganhos fora da poupança, clientes engrossam a clientela de casas de investimento; saiba o que fazer — e o que evitar — para se dar bem
Os desafios econômicos impostos pela Covid-19 somados ao patamar de juros na mínima histórica têm impulsionado investidores a buscar oportunidades de ampliar rendimentos fora da poupança. Com a taxa Selic a 2,25%, com perspectiva de queda, a Bolsa brasileira registrou o melhor trimestre desde 1997, com alta acumulada superior a 30%.
Para além da cautela, adequada em tempos de crise, alternativas de investimentos atraem a atenção e a preferência de novos investidores e redobram o compromisso de corretoras de assessorá-los para obterem os melhores resultados.
Na RB Investimentos, o crescimento passou de 2,5 mil para 13 mil contas ativas neste ano. O perfil dos novos clientes é composto por 70% de jovens adultos, de 25 a 40 anos, e 80% do sexo masculino. Entre os investimentos mais buscados estão fundos multimercado e fundo de investimento em ações (FIA).
“Há muitos investidores que sempre tiveram apetite a risco, mas não tinham ferramentas ou informações para acessar esses mercados. Há uma maior democratização atualmente”, diz o CEO da RB, Adalbero Cavalcanti, ao citar ativos como ações (inclusive com a compra fracionada) e fundos de investimentos.
Na B3 são mais de 2 milhões de investidores pessoa física, segundo dados de maio, muitos deles iniciantes e alvo de disputa de casas de investimento. E, com o acesso facilitado, aumentou também a concorrência e, consequentemente, o desafio das corretoras de oferecer a maior rentabilidade, as menores taxas e o melhor serviço – tudo ao mesmo tempo.
Não raro, clientes possuem contas em corretoras, bancos e fintechs, simultaneamente, para aproveitar as vantagens e isenções de cada uma. De acordo com um levantamento da Yubb, buscador de investimentos com mais de 8 milhões de buscas por mês, na lista de instituições financeiras mais bem avaliadas pelos brasileiros constam duas corretoras (Órama e Mirae), uma fintech (Nubank) e um banco médio (Banco Inter).
No caso da corretora CM Capital, que estruturou no começo de 2019 as operações voltadas à pessoa física, o aumento de clientes foi de 150%, para atuais 50 mil usuários ativos neste ano. Em volume de operações, também de janeiro a junho, houve avanço nos principais produtos, tanto na renda variável (66,4%), como na renda fixa (394%).
“A taxa de juros atual impulsionou os brasileiros a procurar rentabilizar seu dinheiro de forma real [acima da inflação]. (…) E o caminho mais natural é a Bolsa”, justifica Vitor Baldi, diretor da corretora. “É importante que o investidor tenha uma primeira experiência positiva. Em Bolsa, se for ‘traumático’, ele pode nunca mais voltar a investir”, acrescenta.
A Toro, que não abre número absolutos, reportou um avanço na clientela de mais de 40% no acumulado do ano, e de 110% em 12 meses até junho. André Barbosa, sócio da empresa, atribui parte do avanço ao “senso de oportunidade” gerado pelo susto com a Covid-19, em março, e que precedeu níveis recordes da Bolsa, que havia atingido os 120 mil pontos dois meses antes. “Muita gente pensou: ‘opa, agora vou aproveitar essa oportunidade’.”
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Gestora, a Valora Investimentos seguiu a tendência das corretoras, passando de 25 mil clientes para 35 mil, entre dezembro do ano passado e maio deste ano, uma alta de 40% no período, puxado pelo bom desempenho de fundos imobiliários.
“Facilidade, publicidade e possibilidades de ganho fizeram com que o investidor tivesse acesso a esse tipo de produto de forma mais tranquila”, cita Harion Camargo, responsável pela área de relações com investidores.
Na pandemia, dizem os assessores, uma pergunta recorrente tem sido sobre garantia e segurança do capital — mais do que só a rentabilidade. Entre os tipos de ativos mais procurados, reforçam a opção por fundos imobiliários, produto que cresceu com força também na B3 — de menos de 200 mil investidores em 2018 para mais de um milhão atualmente. Por fim, citam a busca por opções mais “sofisticadas”, ou seja, diversificadas e com maior exposição ao risco.
Aos investidores que dão os primeiros passos, algumas recomendações são essenciais, sobretudo em tempos de volatilidade, para maximizar a chance de ganhos. Confira algumas das principais recomendações e contraindicações de especialistas em investimentos ouvidos pelo CNN Brasil Business.
O que fazer
Planejar e analisar
Planejamento é o ponto de partida do bom investidor. Planilhar ganhos e gastos e identificar o percentual do orçamento a ser dedicado a investimentos é o primeiro passo. O segundo é conhecer o seu perfil de investidor, por meio de uma análise detalhada e com a ajuda de um profissional certificado. É por meio dessa avaliação que é constatado o grau de tolerância a risco, bem como os produtos mais apropriados.
“O preenchimento do formulário dá o perfil da propensão a risco”, diz Cavalcanti, da RB. Segundo ele, a escolha de produtos deve ser coerente com a propensão à volatilidade — se mais arrojado, maior, se mais conservador, menor. “Com pandemia ou sem pandemia — isso é uma filosofia de trabalho permanente”, agrega.
Como gestora, a Valora, diz Camargo, se preocupa em deixar tudo muito claro, em todos os canais, incluindo lâminas, relatórios e redes sociais, dados sobre os produtos, como descrição, prazos e público-alvo. Dessa forma, expectativas são alinhadas e os investidores podem tomar a melhor decisão.
Diversificar e diluir
Apostar em vários produtos e distribuir o volume a ser investido amortece os impactos de eventuais turbulências nos mercados — sobretudo em tempos de pandemia. Por isso, os profissionais reforçam a regra de ouro de “não colocar todos os ovos na mesma cesta”, e também de distribuir, gradualmente, o montante investido ao longo do tempo.
“Não adianta ter só um tipo de ativo, de um mesmo setor, ou uma única empresa. Devem ter várias classes de ativos, alguns com melhor desempenho do que o outro, mas é o equilíbrio da carteira que trará os melhores resultados no longo prazo”, recomenda Barbosa. “E não fazer os aportes de uma única vez, pois o mercado oscila e uma maneira de diminuir o risco é fazer (aportes) de maneira recorrente.”
Monitorar e remanejar
Acompanhar periodicamente a evolução dos rendimentos, com ou sem a intermediação de um profissional, é parte importante do processo. O monitoramento possibilita reavaliações de estratégia, que podem resultar em rendimentos ainda maiores, ou minimizar perdas, quando for o caso.
A recomendação se aplica principalmente a investimentos com prazo de liquidez menor. Por outro lado, se o tipo de investimento tiver um horizonte longo, a necessidade de seguir, com lupa, o comportamento dos ativos é menor. Ainda assim, dizem os assessores, é importante estar a par.
O que evitar
Imediatismo e pressa
Ter horizontes de médio e longo prazos amplia a chance de resultados melhores em relação a quem tem uma visão imediatista (e utópica) de ganhos substanciais fáceis e imediatos. “Não adianta ter uma visão imediatista, focados no mês, semana ou dia, pois você acaba tomando decisões que podem trazer pior performance no longo prazo”, diz Barbosa.
“Vejo pessoas físicas tentando fazer day trade (operações de dia, em tradução livre) em bolsa, juros e dólar. Discordo fundamentalmente disso. Há traders profissionais, com décadas de mercado, sem ser vencedores em operações desse tipo”, diz Cavalcanti. E taxas maiores de retorno, recorrentemente, demandam prazos maiores de fidelização, lembra Baldi.
Falta de foco e indisciplina
Agir por impulso, sem disciplina, é o caminho para o insucesso. Em períodos de turbulência é preciso naturalizar um certo nível de risco, e tomar cuidado para não se precipitar em escolhas impetuosas. Aos disciplinados, o “prejuízo” de hoje pode ser o “lucro” de amanhã.
Como guia, recorra sempre ao plano traçado no início da jornada, e que deve ser o mesmo dos profissionais que assessoram os clientes. É importante, portanto, ter uma corretora alinhada às suas metas, que quanto mais claras, mais factíveis de se alcançar.
Fontes duvidosas e oportunistas
Recorra a instituições e profissionais qualificados e reconhecidos. Informar-se é imperativo, e em meio à profusão de dados sobre investimentos, é necessário filtrar. Fuja de corretoras que querem vender o produto que é mais conveniente a elas do que ao próprio cliente. “Há corretoras que buscam vender o produto que querem vender, e não o que o cliente precisa, pensando em seu perfil”, diz Baldi.
“É preciso conhecer a fundo quem presta o serviço e ir além da assessoria. Buscar informações dos fundos, por exemplo, lâminas, histórico, equipe, etc.”, recomenda Cavalcanti. Para Barbosa, da Toro, o coronavírus contribuiu com que as pessoas se informassem melhor, já que estão dentro de casa, com mais tempo disponível para aprender.
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