Sustentabilidade e tecnologia no agro: as apostas da SLC, nova queridinha da B3
O BTG Pactual reforçou a recomendação de compra do papel e ajustou o preço-alvo das ações para R$ 51 (hoje estão em R$ 42)
Poucas empresas listadas na B3 estão em posição tão confortável quanto a SLC Agrícola no início de 2021. Primeiro, porque o setor em que a empresa está inserida (commodities agrícolas) vive um aumento considerável na sua demanda –graças à China– e a penetração do segmento no mercado financeiro ainda é baixíssima.
E, além do cenário como um todo ajudar, a companhia também aumentou seu potencial produtivo substancialmente no ano passado. Isso porque a SLC anunciou, em novembro, a intenção de comprar, por R$ 550 milhões, os negócios da Terra Santa, o que fará com que a sua área de plantio cresça pelo menos 130 hectares.
Resultado: as ações da companhia já sobem mais de 50% este ano e, segundo especialistas, devem continuar neste caminho. Em relatório produzido no início de fevereiro, o BTG Pactual reforçou a recomendação de compra do papel e ajustou o preço-alvo das ações para R$ 51 (hoje estão em R$ 42).
“Os preços da soja subiram 97% nos últimos 12 meses em termos reais. O milho subiu 83%. E o algodão expandiu 55%”, afirmam os analistas Thiago Duarte e Pedro Soares no documento. Os números são utilizados para justificar uma projeção de aumento no EBITDA da empresa em 2021.
Mas, apesar das perspectivas boas, o CEO da empresa, Aurélio Pavinato, diz querer mais. “A agricultura está vivendo uma revolução. Queremos avançar cada vez mais para ter um sistema de produção sustentável e eficiente. Os resultados serão consequência”, afirmou o executivo em entrevista ao CNN Brasil Business.
No papo, ele também comentou a entrada na bolsa de novas empresas do agribusiness, como Jalles Machado e BrasilAgro, e a posição do Brasil em relação ao comércio internacional de commodities. Confira abaixo os principais pontos da conversa.
Como você enxerga a performance do agro em 2020? A crise atrapalhou?
Temos que analisar 2020 sob duas perspectivas. Primeiramente, e de forma geral, todos os países tiveram um grande desafio, que foi administrar a crise de saúde. Por outro lado, a crise econômica que se temia para o nosso setor foi só um susto inicial.
Os preços das commodities caíram logo no início do isolamento, o que criou incertezas em relação à demanda. Mas, no final das contas, a procura pelos produtos se manteve. Como produzimos alimentos, temos certa resiliência, e isso garantiu bons resultados.
Dentro da evolução geral da demanda, a China vem se fortalecendo cada vez mais como um grande importador de todos os produtos agrícolas. Era um grande importador de soja, depois também passou a comprar carne no exterior. Em 2020, começou ainda a ser grande importadora de milho.
O Brasil está bem posicionado para competir no mercado internacional?
O sucesso do agro brasileiro está fundamentado na eficiência e na inovação. Hoje estamos integrados na cadeia mundial de suprimentos, temos as máquinas e os insumos mais modernos do mundo, investimos em qualificação de mão de obra.
Hoje somos competitivos porque investimos em pessoas e tecnologia, além de contar com suprimentos de fornecedores de padrão internacional. Quando olhamos as perspectivas para os próximos anos, a tendência é que isso se fortaleça cada vez mais.
Mas também há problemas. A competitividade do brasil tem solavancos por conta de dificuldades logísticas, que elevam os custos. No entanto, o movimento de privatizações pensado pelo governo pode ajudar a melhorar essa questão.
Como enxerga esse movimento de abertura de capital por empresas do setor?
O movimento é positivo e tende a ser cada vez maior. Existem mais de 5 milhões de produtores no país, mas apenas 12% operam em áreas superiores a 3.800 hectares. Dentro deste grupo, ainda temos uma porcentagem considerável de plantações geridas por pessoas físicas.
Mas o mercado também não conhecia o agro, a estrutura do sistema produtivo. Quando abrimos capital em 2007, participei do roadshow. Foram 123 reuniões em vários países para apresentar o negócio, e os investidores não conheciam como funcionava a produção agrícola.
Hoje já compreendem o papel do agro na economia, no fornecimento de alimentos. E, ao mesmo tempo, o setor se profissionaliza cada vez mais. Muitas empresas, por questão de sucessão, estão profissionalizando os seus negócios e criando a possibilidade de ir buscar recursos na bolsa.
Quais os próximos passos do setor? E da SLC?
No pós-segunda guerra, o desafio era produzir alimentos para alimentar toda a população mundial. O Brasil foi importante nesse movimento, avançando em irrigação, fertilização e defensivos agrícolas.
A demanda de curto prazo foi cumprida, mas, obviamente, tivemos efeitos adversos no solo e na qualidade dos produtos. Ao longo do tempo, no entanto, os processos foram evoluindo e criamos uma série de soluções para avançar.
Hoje, o setor aposta na aplicação local de defensivos com produtos mais evoluídos, além do controle biológico estar avançando. A agricultura está passando por revolução para produzir de forma sustentável.
Nessa linha, a SLC avança em duas frentes. Primeiramente, de forma orgânica, com a compra dos negócios da Terra Santa, que está por detalhes. Assim conseguimos ampliar nossa área de plantio em 130 hectares.
Na parte de tecnologia, podemos sair na frente do restante do mundo em agricultura digital. A companhia está colocando conectividade nas fazendas, disponibilizando sinal de 4G em cada canto das nossas terras.
Formamos, ainda, uma equipe de inovação para conectar com startups e abrir perspectivas de investimento nessas empresas. O produto final não muda, mas todo manejo, suporte agronômico e suporte comercial têm espaço para se tornar digital.
Quais são as expectativas para a safra de 2021? O câmbio desvalorizado atrapalha?
2021 vai ser outra safra forte. A seca no Mato Grosso atrapalhou um pouco, mas, como estamos presentes em vários estados, não fomos tão afetados. Além disso, tivemos uma recuperação fantástica nos preços da soja, do milho e do algodão, nossas principais culturas.
Para o setor, o câmbio enfraquecido também ajuda, já que metade dos nossos custos são em reais e nosso retorno é praticamente todo na moeda americana. Outra variável que ajudou, diferentemente de outras crises, foi a taxa de juros, que se manteve em um patamar historicamente baixo.
A agricultura tem ciclo longo. Planta, faz o manejo e, depois, colhe. Precisamos de capital para fazer isso, sempre temos dívida. E o juro baixo ajuda nesse aspecto. Por outro lado, se a dívida do produtor estiver em dólar, a depreciação do câmbio prejudica as contas.
Mas, no geral, 2021 e até 2022 são muito promissores para o setor. O produtor está conseguindo se capitalizar com taxas baixas e aumentando sua produção, aproveitando o apetite externo.