Governo comemora recuperação da indústria, mas quadro fiscal pode abortar festa
Apesar desse otimismo do governo, economistas são mais cautelosos e dizem que a recuperação rápida não é prova de crescimento consistente e sustentável
A indústria do Brasil emite sinais de recuperação mais rápida que em outros países. O fato é apontado por uma pesquisa internacional e que tem sido comemorada pela equipe econômica. Apesar desse otimismo do governo, economistas são mais cautelosos e dizem que a recuperação rápida não é prova de crescimento consistente e sustentável à frente.
Ao contrário, há consenso de que o Brasil carrega mais incertezas que outras nações, principalmente na área fiscal, o que pode abortar esse movimento.
No início do mês, a pesquisa PMI – sigla em inglês para Índice Gerente de Compras e que mede a movimentação entre as empresas – sobre a indústria do Brasil revelou “expansão em níveis quase recordes em novas encomendas e na produção industrial, além de um retorno ao crescimento das exportações”.
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O relatório cita que setembro “assinalou a mais acentuada melhora do setor desde o início da coleta de dados, em fevereiro de 2006”.
Essa pesquisa mede a atividade econômica em uma escala que vai de 0 a 100. Medições acima de 50 indicam expansão e abaixo, contração da atividade. Em setembro, o PMI industrial do Brasil ficou em 64,9. Nesse período, o país ficou muito à frente de outras grandes economias. A Índia registrou 56,8, a Alemanha ficou logo atrás com 56,4 e a China marcou 53 no mês passado, conforme a pesquisa da consultoria IHS Markit.
Esse desempenho tem sido destacado pelos brasileiros em reuniões com autoridades internacionais, como no encontro de vários países latino-americanos com o diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional, Alejandro Werner, realizado mais cedo por videoconferência.
Quando a pesquisa foi divulgada, a diretora da consultoria IHS Markit, Pollyanna De Lima, comentou que a indústria brasileira tem sido beneficiada pela reabertura da economia e pelo aumento das exportações incentivadas pelo real fraco. Ela destacou, porém, que essa rápida reação tem gerado distorções.
Em setembro, houve recorde de pedidos em atraso, o que mostra que a cadeia produtiva está sob pressão, especialmente pela escassez de mão de obra e matéria-prima disponível. Isso tem gerado aumento de custos, destacou.
Todo esse quadro pode gerar comemoração, mas também tem despertado atenção do outro lado do balcão. A grande preocupação é que pode faltar combustível para a indústria seguir na quinta marcha.
Uma amostra dessa cautela veio mais cedo com o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) da Fundação Getúlio Vargas. O indicador caiu em outubro e interrompeu as altas seguidas vistas desde maio. A pesquisa destaca que consumidores de todas as faixas de renda estão mais reticentes sobre a pandemia e como será a retomada, especialmente quando acabarem os programas federais de renda e emprego. Confiança menor do consumidor gera menos consumo, o que afeta negativamente a indústria.
As exportações brasileiras que subiram rapidamente nos últimos meses também ganharam um ponto de interrogação com o temor de segunda onda da Covid-19 na Europa e Estados Unidos, dois grandes compradores da indústria nacional.
O problema maior, porém, parece vir do mercado financeiro. A equipe de economistas do Bradesco BBI, por exemplo, teve conversas recentes com uma série de 35 investidores internacionais sobre o Brasil. No geral, o grupo adotou o modo “aguardar para ver” porque, apesar das oportunidades, os riscos são grandes no país. “Todos os olhos estão nos políticos e na política fiscal.
O presidente Jair Bolsonaro e os membros do Congresso precisam decidir a política fiscal de 2021”, resume o relatório assinado pela equipe liderada pelo economista André Carvalho. Para esses estrangeiros, só a clareza sobre o futuro das contas públicas fará com que voltem a investir no Brasil.
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