Relator da privatização dos Correios diz que não tem pressa
O relator afirma que quer ouvir mais os funcionários da empresa e as áreas técnicas do governo antes de entregar seu parecer
Relator da proposta que abre caminho para a privatização dos Correios, o deputado Gil Cutrim afirmou à CNN que não tem pressa em apresentar o relatório, embora a Câmara tenha aprovado um requerimento de urgência da tramitação do texto nesta semana.
Na prática, o texto vai tramitar mais rapidamente do que outros, mas o relator afirma que quer ouvir mais os funcionários da empresa e as áreas técnicas do governo antes de entregar seu parecer.
“A gente não pode deixar quase 100 mil funcionários desamparados, ainda mais na pandemia. A gente não está com pressa para apresentar (o relatório). Não vamos fazer nada de forma açodada, de forma que machuque a história dos Correios”, afirmou.
O projeto foi entregue pessoalmente pelo presidente Jair Bolsonaro ao presidente da Câmara, Arthur Lira, no dia 24 de fevereiro. Se a proposta for aprovada, o governo poderá fechar parcerias com a iniciativa privada, em especial, pela via da privatização, no serviço postal.
O parlamentar acaba de ser expulso do PDT e se filiou ao Republicanos, partido do centrão. Cutrim apoiou a votação da Reforma da Previdência, contrariando seu antigo partido. Ele afirma ser sensível a causas trabalhistas mas precisava de mais autonomia na legenda. Para o parlamentar, a possível privatização dos Correios pode ser vista como uma reforma também.
“Se buscar a fundo, é uma pauta paralela à reforma administrativa. Se correr para o sentido da desestatização, ela deixará o governo com fôlego”, afirma sobre a possibilidade dos funcionários não serem mais uma responsabilidade do poder público.
Dois lados
Para o vice-presidente da Associação dos Profissionais dos Correios (Adcap), Marcos Cesar Alves Silva, há informações desencontradas sobre a real saúde financeira da estatal. A entidade foi uma das que já conversaram com o relator.
“A empresa está caminhando para registrar um dos maiores lucros, em plena pandemia. Virá um resultado favorável pelo comércio eletrônico, a receita com cartas não pode ser descartada também porque corresponde a 40% do orçamento da empresa”, diz.
Em maio, a empresa apresentará o balanço mais recente das contas.
“O governo precisava anunciar alguma privatização mas, ao meu ver, escolheu a estatal errada. Os Correios brasileiros são um exemplo de sucesso, ele é autossustentável, consegue fazer o serviço no país todo, com tarifa módica, sem depender de um centavo do Tesouro”, complementa.
Já o governo afirma que há incerteza quanto à autossuficiência da empresa e capacidade de investimentos futuros. De acordo com o ministro das Comunicações, Fábio Faria, os Correios precisariam de investimentos na ordem dos R$ 2,5 bilhões por ano para melhorar os serviços à população.
Outro texto
Na próxima semana, a Comissão de Desenvolvimento Indústria Comércio e Serviço, da Câmara, deve discutir outro projeto de lei que interfere na estatal, é o que quebra o monopólio dos Correios no transporte e entrega de cartas. O texto é de autoria do deputado federal Eduardo Bolsonaro.