Jovem CEO que ajudou a popularizar o TikTok é mais um a abandonar o mercado
Líderes de tecnologia que mantêm laços estreitos com suas empresas correm o risco de serem pegos na recente onda de repressão ao setor na China
Zhang Yiming transformou o ByteDance em um dos maiores nomes da tecnologia chinesa. Agora ele está deixando o cargo de CEO da empresa com apenas 38 anos, tornando-se o mais recente jovem empreendedor de tecnologia na China a sair enquanto lidera uma companhia em ascensão.
O executivo, que fundou a empresa proprietária da Tiktok, ByteDance, em Pequim há nove anos, anunciou na quarta-feira (19) que faria transição para uma nova função na empresa no final deste ano e “se concentraria na estratégia de longo prazo”.
“Desde o início deste ano, passei muito tempo pensando em como melhor conduzir avanços reais de longo prazo”, escreveu Zhang em uma carta aos funcionários que a empresa postou publicamente. Ele acrescentou que tomou a decisão após vários meses de reflexão e decidiu que deixar as “responsabilidades do dia-a-dia” para trás lhe permitiria ter “maior impacto nas iniciativas de longo prazo”.
“A verdade é que não tenho algumas das habilidades que tornam um gerente ideal”, disse ele. “Não sou muito sociável, prefiro atividades solitárias como estar online, ler, ouvir música e sonhar acordado com o que pode ser possível.”
Liang Rubo, co-fundador e chefe de recursos humanos da ByteDance, sucederá Zhang como CEO.
A decisão pode parecer estranha, especialmente se comparada aos caminhos seguidos por seus colegas em empresas de tecnologia ocidentais. Ainda mais que a ByteDance experimentou uma ascensão meteórica nos últimos dois anos.
Zhang supervisionou um punhado de grandes aquisições que ajudaram a empresa a se tornar um nome global, incluindo um acordo em 2017 para comprar o Musical.ly, aplicativo de compartilhamento de vídeos que a ByteDance fundiu com o TikTok. A popularidade de seu aplicativo principal explodiu, tornando-se um dos únicos apps de fabricação chinesa a ganhar força significativa fora de seu país de origem.
Mesmo depois que o TikTok se envolveu em uma batalha dramática nos Estados Unidos no ano passado por preocupações de que o aplicativo representasse um risco à segurança nacional, ele conseguiu evitar a proibição e continua popular. Possui cerca de 100 milhões de usuários apenas nos Estados Unidos. (TikTok considerou as alegações de segurança nacional infundadas.)
A ByteDance também está considerando um IPO massivo, de acordo com vários meios de comunicação. A Bloomberg informou que a empresa foi avaliada em US$ 250 bilhões em negócios privados.
“Zhang era um jovem engenheiro de software sem experiência significativa em negócios quando de repente se viu dirigindo uma grande empresa em mercados em rápida transformação, enquanto operava em um ambiente regulatório e político extremamente complexo”, disse Brock Silvers, analista de investimentos da Kaiyuan Capital, com sede em Hong Kong.
Embora a nomeação de Liang como CEO indique que a empresa não está mudando a estratégia, é uma notícia indesejável antes de um possível IPO. “Os fundadores que abandonam repentinamente seus poleiros celestiais podem muito bem sinalizar uma bandeira vermelha significativa para os mercados públicos”, acrescentou Silvers.
A mudança de Zhang, no entanto, segue decisões semelhantes de alguns de seus colegas. Colin Huang Zheng, o fundador de 41 anos da empresa de comércio eletrônico Pinduoduo (PDD), anunciou em março que deixaria o cargo de presidente para buscar outros objetivos, incluindo seu sonho de infância de se tornar um cientista ou pesquisador. Ele havia levado a empresa do nada para uma plataforma capaz de competir com o Alibaba em menos de uma década.
Estes altos executivos de tecnologia têm muito com que se preocupar agora, enquanto Pequim trabalha para intervir no setor.
O presidente chinês, Xi Jinping, tem pedido restrições ao setor de internet para “manter a estabilidade social”. Reguladores impuseram multas recordes ao Alibaba, ordenaram uma revisão de sua afiliada financeira Ant Group e iniciaram investigações antitruste em Tencent e Meituan.
Os líderes de tecnologia que mantêm laços estreitos com suas empresas correm o risco de serem pegos na repressão. O co-fundador do Alibaba, Jack Ma, que renunciou ao cargo de presidente executivo em 2019, foi sujeito a intenso escrutínio depois de criticar os reguladores financeiros no outono passado, e assistiu o governo travar a oferta pública inicial do Ant Group no último minuto. Ma, que era famoso por ser uma celebridade empreendedora, desde então tem se esquivado dos holofotes.
Outros se viram envolvidos em controvérsias, mesmo que não intencionalmente. No início deste mês, a Meituan perdeu bilhões em valor de mercado depois que o fundador e CEO Wang Xing postou um poema de 1.100 anos nas redes sociais que muitas pessoas online interpretaram como um tiro velado contra o governo. Wang explicou mais tarde que estava se referindo aos concorrentes da indústria da Meituan, mas as ações ainda estavam abaladas.
“O ambiente agora é tão opaco e difícil que até mesmo o icônico mestre-operador Jack Ma pagou um preço muito alto por erros cometidos”, disse Silvers. “Zhang Yiming e Colin Huang estão intensamente cientes desse exemplo, e seu desejo de não seguir os passos mais recentes de Ma provavelmente desempenhou algum papel em suas respectivas decisões de renúncia.”
Embora “isso possa ser benéfico ou necessário do ponto de vista de Pequim”, acrescentou ele, “a longo prazo não é um bom presságio para o ecossistema de tecnologia da China”.
*Texto traduzido, clique aqui para ler o original