Estamos agindo para preservar a Amazônia, diz Tereza Cristina
No programa Brasil Pós-Pandemia, ministra da Agricultura diz que cobranças também têm interesses comerciais
O governo reconhece a necessidade de combater o desmatamento na Amazônia e está trabalhando com esse objetivo, mas é preciso fazer a ressalva de que parte da cobrança estrangeira tem a ver com a força competitiva do agronegócio brasileiro. O diagnóstico foi feito pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, em entrevista à CNN Brasil no programa especial Brasil Pós-Pandemia: A Retomada.
“É claro que temos que preservar a Amazônia. Tem coisas que nós podemos corrigir e estamos trabalhando para isso”, disse Cristina aos âncoras William Waack e Rafael Colombo.
Segundo ela, um exemplo é o processo de regularização fundiária, algo que vai permitir que o governo faça um acompanhamento da situação e uma fiscalização mais efetiva de eventuais ilegalidades no que diz respeito ao desmatamento. Além disso, os títulos de posse poderão ser retirados caso, em um período de dez anos, seja detectado qualquer ilegalidade ambiental ou trabalhista.
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A chefe da Agricultura negou que o governo tenha subestimado a relevância do desenvolvimento sustentável. “Estamos ouvindo que essas cobranças viriam desde o ano passado, em visitas que fizemos à Europa e aos Estados Unidos”, afirmou a ministra, citando o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, no início deste ano, como uma das ocasiões em que isso aconteceu.
Mas a ministra também fez questão de marcar posição sobre a forma como o governo enxerga parte das críticas direcionadas ao país no tema ambiental: ela relacionou algumas das cobranças à assinatura do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia no ano passado.
“O acordo deixou os produtores rurais da Europa preocupados com o potencial que a agricultura brasileira em, que essa concorrência poderia ser nociva a eles”, afirmou.
A cobrança de fundos internacionais parece mirar apenas o Brasil e a Amazônia, deixando de lado queimadas na Europa e na Austrália, exemplificou a ministra.
Oportunidade na crise
Tereza Cristina disse que a pandemia serve como oportunidade para que o agronegócio possa melhorar sua imagem, reconhecendo que ela não era boa e estava “deteriorada”. Segundo a ministra, a crise provocada pela pandemia mostrou para a população a importância do abastecimento de alimentos, cuja normalidade ajuda até a trazer tranquilidade em um momento de tanta incerteza.
“A população brasileira começa a ver o agronegócio com outros olhos.”
‘Desinformação’
A ministra da Agricultura também foi questionada e se posicionou sobre o uso dos defensivos agrícolas. “Existem assuntos que são demonizados, como o dos pesticidas. Existe aí uma desinformação”, disse Cristina, argumentando que, utilizados em doses adequadas, não causam mal à saúde humana. Cristina ressaltou que os alimentos brasileiros são exportados para mais de 160 países.
A ministra negou que tenha havido qualquer decisão para afrouxar a análise de defensivos agrícolas no governo do presidente Jair Bolsonaro. A decisão foi a de buscar zerar a fila de análise, mas sem abrir mão da tramitação necessária pela legislação.
Ela afirmou que novos produtos precisam passar pela análise de três órgãos, a Anvisa, o Ministério do Meio Ambiente e o da Agricultura, antes que recebam o sinal verde para que sejam comercializados. “É uma decisão técnica, eu nem fico sabendo quais são liberados e quais não são”, afirmou.
(Edição de Marcelo Sakate)
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