‘A melhor vacina é a que vai chegar no braço do cidadão’, diz epidemiologista
A especialista Carla Domingues explica que o Brasil tem uma estrutura de logística capaz de distribuir as doses entre 1 e 3 semanas, após a liberação da Anvisa
Neste domingo (27), a União Europeia começou a vacinar sua população contra a Covid-19. Com isso, 30 países do mundo já começaram o processo de combate à pandemia.
A epidemiologista e ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações, Carla Domingues, conversou com a CNN sobre a vacinação no mundo e a demora para a liberação no Brasil. Ela afirmou que os brasileiros não devem querer escolher e ideologizar os laboratórios. “Vacina boa é a que foi liberada pela Anvisa e a que estará disponível na sua localidade. A melhor vacina é a que vai chegar no braço do cidadão”.
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Domingues explicou que a principal diferença que está trazendo morosidade ao processo de liberação no Brasil, em relação ao resto do mundo, é o fato de o governo brasileiro só ter fechado um acordo, enquanto outros países apostaram em diversos laboratórios.
“Lá em julho, quando começou-se a trabalhar na perspectiva de termos vacinas, num momento em que tínhamos dez laboratórios que estavam saindo da fase 2 e indo para a fase 3 nos estudos de eficácia, nós não sabíamos quais vacinas estariam prontas no final do ano. Então, quem está começando a vacinar agora? São países que apostaram em mais de uma vacina. Eles botaram vários ovos na sua cesta, o Brasil não, ele apostou em um único caminho. E hoje, nós temos, efetivamente, um acordo com a vacina AstraZeneca junto com Bio-Manguinhos. Como essa vacina ainda não tem registro em nosso país, nós não podemos começar a vacinação. Essa é a diferença do Brasil para os outros países”.
Domingues falou sobre a ação dos estados que já estão em busca de insumos, como seringas, para a aplicação das vacinas, porém de maneira desorganizada, já que o Ministério da Saúde ainda não “sentou” com os governadores para coordenar o número de equipamentos necessários nas salas de vacina que o próprio Governo Federal irá disponibilizar por região. “Um plano nacional precisa ter uma organização nacional, para cada um saber efetivamente qual vai ser o seu papel”.
A epidemiologista chamou a atenção para o fato da vacina contra a Covid-19 requerer a aplicação de duas doses para que o indivíduo esteja, de fato, protegido. Para isso, o governo precisará criar um mecanismo nominal capaz de saber filtrar quem já tomou a primeira dose e precisará, portanto, ser reconvocado para a segunda aplicação. “Nós precisamos de velocidade nisso. Nós estamos falando aí de 50 a 80 milhões de brasileiros que vão precisar ser cadastrados. Se isso não começar logo, possivelmente a gente vai ter dificuldade de fazer esse cadastramento na hora da vacinação, diz. O software, até o momento, não está pronto.
Com relação às vacinas da Pfizer/BioNTech e da Moderna, que foram as primeiras aprovadas em outros países do mundo, Carla Domingues explica que houve uma negociação entre agosto e setembro. “Estes laboratórios procuraram o Ministério da Saúde (no Brasil) e não houve um andamento desta proposta de aquisição. Nós estamos falando de acordos comerciais”, diz.
Carla Domingues explica ainda que, apesar do Ministério da Saúde definir a política das campanhas de vacinação, quem organiza, executa e leva o imunizante para o cidadão são os estados e municípios. “A grande questão hoje é que não temos este cronograma. Estamos dependendo da AstraZeneca e da Coronavac para elas terem um registro na Anvisa. À medida que essas vacinas forem registradas, elas poderão ser entregues ao PNI (Plano Nacional de Imunização) que irá distribuir aos estados e municípios”.
Sobre a liberação, ela diz que a Anvisa tem trabalhado na aceleração dos processos de registro, que é chamado de “Avaliação contínua”. A agência regulatória já recebeu os dados das fases 1 e 2 e analisou, e está guardando os resultados de eficácia da fase 3 para a liberação do registro emergencial ou definitivo.
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Carla Domingues enfatiza que a pandemia do novo coronavírus inverteu os processos de compra de vacina. Já que geralmente elas chegavam nas redes privadas e depois eram disponibilizadas no Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, desta vez, será o oposto, porque os acordos estão sendo feitos entre as empresas e os governos. “Eu não acredito que em curto prazo de tempo teremos clínicas privadas recebendo vacinas”.
Ela ressalta também que o Brasil tem uma capacidade muito grande de logística para os imunizantes. As vacinas chegam na central nacional, em São Paulo e, rapidamente, por caminhões ou aviões, a distribuição acontece nos estados. “Geralmente este processo demora de 1 a 3 semanas. Em algumas localidades na região amazônica, o Ministério [da Saúde] tem parceria com a aeronáutica e as vacinas são levadas de helicóptero, ou com a marinha, de barco. Essa estrutura já existe no país e é rápida. O que a gente precisa é ter as vacinas liberadas”.
(Publicado por: André Rigue)