Caso Henry Borel: Entenda as suspeitas e os últimos desdobramentos
Laudo do IML apontou pelo menos 23 lesões no dia da morte de criança de 4 anos; mãe e padrasto estão presos preventivamente
O novo depoimento da babá Thayná de Oliveira lançou novas suspeitas nas investigações do caso do menino Henry Borel, morto aos 4 anos, no dia 8 de março, no Rio de Janeiro. O padrasto do menino, o médico e vereador Dr. Jairinho, e a mãe, Monique Medeiros, foram presos preventivamente na última quinta-feira (8).
No dia da morte, a criança estava no apartamento onde Monique Medeiros morava com Jairinho. Segundo o casal, Henry foi encontrado desacordado em seu quarto após um acidente doméstico. De acordo com o laudo de reprodução simulada produzido pela perícia da Polícia Civil, o menino sofreu 23 lesões externas provocadas por ações violentas no dia de sua morte.
Monique e Jairinho estão presos preventivamente, suspeitos de “homicídio duplamente qualificado com emprego de tortura”. Nesta segunda-feira (12), o casal teve o pedido habeas corpus negado. Os dois também são suspeitos, segundo a Polícia atrapalhar as investigações, coagindo testemunhas — ambos negam todas as acusações.
Entenda o caso:
Morte de Henry
O garoto morreu no Hospital Barra D’Or, na Barra da Tijuca, no dia 8 de março. Ele foi levado para lá pelo casal, que alegava tê-lo encontrado desmaiado no quarto onde dormia. Henry estaria com olhos revirados, pés e mãos geladas e dificuldades para respirar. Segundo os médicos, o garoto chegou ao estabelecimento com parada cardiorrespiratória.
À polícia, o casal afirmou suspeitar que o menino tenha se ferido em uma queda. No início das investigações, o caso foi tratado como um acidente. No entanto, uma perícia realizada no corpo do menino apontou que a vítima havia sido vítima de agressões.
No Instituto Médico Legal (IML), a necropsia constatou múltiplos sinais de trauma, como equimoses, hemorragia interna e ferimentos no fígado, típicos de agressão. O laudo de reprodução simulada, produzido pela perícia da Polícia Civil, aponta que o menino de quatro anos sofreu 23 lesões externas provocadas por ações violentas no dia de sua morte.
Investigações e depoimentos
Dr. Jairinho e Monique prestaram depoimento, separadamente, para a Polícia Civil do Rio de Janeiro em 17 de março. Na ocasião, eles foram ouvidos como testemunhas – e não como investigados. O casal deixou a 16ª DP (Barra da Tijuca) depois de 12 horas e não quis dar entrevistas. Segundo a polícia, os depoimentos só ocorreram nove dias após a morte porque até então Monique estava em estado de choque.
Monique afirmou à polícia acreditar que o filho pode ter acordado, ficado em pé em cima da cama e se desequilibrado, fazendo com que ele caísse no chão. Ela teria relatado ainda que por volta de 3h30 acordou e, ao dirigir-se ao quarto, encontrou o filho no chão já desacordado.
Mudança de advogados
Na noite desta segunda-feira (12), o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro negou o pedido de habeas corpus feito pela defesa do vereador e da mãe do menino. Logo após a decisão, Monique Medeiros mudou a equipe de advogados que a defendia. Até então, ela e o padrasto eram defendidos pelos mesmos profissionais.
Thiago Minagé, o novo disse à CNN que considera levar a cliente para um novo depoimento à polícia. Minagé está estudando o inquérito penal antes de decidir qual será a estratégia. Em nota enviada à imprensa, o novo escritório da professora diz que “o momento é de estudo e análise do inquérito policial”, que a única estratégia da defesa é “atuar com a verdade” e que eles irão trabalhar “com os fatos conforme ocorreram”.
Babá e funcionária do lar
Em depoimentos realizados à Polícia Civil após a morte Henry, a babá da criança e a funcionária do lar que trabalha na casa da mãe de Henry afirmaram que foram orientadas a concederem entrevistas a uma rede de televisão local, antes de prestarem seus depoimentos à polícia. Leila Rosangela, funcionária do lar que trabalha na casa de Monique, afirmou que as perguntas que a repórter fez foram as mesmas que o advogado havia feito momentos antes da entrevista.
Em novo depoimento nesta segunda feira (12), a babá Thayná de Oliveira admitiu ter mentido quando relatou não ter percebido nada de anormal com a criança. A CNN teve acesso ao Termo de Declaração no qual a babá diz ter sido orientada pela mãe de Henry, Monique Medeiros, a mentir no depoimento. A babá também admitiu a veracidade das trocas de mensagens com Monique, na qual alertava para um episódio, em fevereiro, em que Jairinho se trancou no quarto do casal com o menino, que depois deixou cômodo alegando dores e mancando.
Apreensão de celulares e computadores
Dias depois dos primeiros depoimentos, a polícia apreendeu onze celulares e dois computadores que pertencem aos pais e ao padrasto de Henry. Após a morte de Henrym, o casal saiu do imóvel onde morava. Antes de ser presa, Monique foi para a casa dos pais, em Bangu, na zona oeste do Rio. Jairinho foi para a residência do pai, o ex-deputado estadual e policial militar Coronel Jairo, também em Bangu.
A polícia esteve nesses endereços e no do pai de Henry, o engenheiro Leniel Borel de Almeida, no Recreio dos Bandeirantes, também na zona oeste. Com Jairinho, apreendeu cinco celulares e um computador. Monique teve apreendidos quatro celulares, e Leniel, dois celulares e um computador.
A polícia considera pouco provável a hipótese de o pai ter responsabilidade sobre a morte de Henry. Ele esteve com o filho no fim de semana antes da morte do garoto, mas o entregou à mãe, às 19h, aparentemente em boas condições de saúde. Apesar disso, Almeida também foi alvo da busca e apreensão.
Política
No dia da morte de Henry, o vereador ligou para o governador em exercício do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PSC) e para outras pessoas do meio político. O objetivo das ligações, segundo o delegado Henrique Damasceno, responsável pelo caso, era “se garantir” e acelerar burocracias no Instituto Médico Legal da cidade.
A reportagem da CNN também teve acesso a mensagens enviadas por Dr. Jairinho a vereadores da Câmara Municipal do Rio de Janeiro para tentar se defender das acusações.
Nas mensagens enviadas no dia 23 de março, duas semanas após a morte do menino, ele diz que o caso se trata de uma ‘’loucura sem tamanho’’ e que sua vida estava sendo ‘‘destruída gratuitamente’’. Ele reclama de ‘‘pré-julgamentos’’ e diz que é uma ‘‘testemunha’’.
Expulsão do partido
Após a prisão do casal, o vereador foi expulso do Solidariedade, partido pelo qual se elegeu. A Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro também o afastou do Conselho de Ética da Casa.
Apesar disso, a Mesa Diretora da Câmara Municipal desistiu de pedir o afastamento do Dr. Jairinho da Comissão Permanente de Redação e Justiça, considerada a mais importante do parlamento carioca.
Existe também a possibilidade do Legislativo municipal votar pela cassação do mandato de Jairo. Neste caso.
Outros inquéritos
Uma das ex-namoradas do vereador e médico Dr. Jairinho declarou em depoimento à polícia que sua filha se queixava de agressões e intimidações por parte do político. Entre os episódios relatados pela menina de apenas três anos à mãe, há situações como uma suposta tentativa de afogamento e vômitos que estariam relacionados a crises de ansiedade ou nervosismo.
Após o depoimento, fotos íntimas da ex-namorada do vereador começaram a circular nas redes. A Polícia Civil do Rio de Janeiro apura se o vazamento foi feito por Dr. Jairinho se tinha o objetivo de constranger a mulher.
Ex-mulher Dr. Jairinho, com quem teve dois filhos, um menino de quatro anos e uma menina de 14, a dentista Ana Carolina Ferreira Netto relatou à Polícia Civil que foi agredida pelo vereador poucos dias após o casamento, no momento em que preparava as bagagens para a viagem em lua de mel.
Na ocasião, Ana registrou um boletim de ocorrência contra Jairinho. O relacionamento dos dois acabou, mas foi retomado seis meses depois. Com a retomada, a dentista decidiu retirar a queixa contra o companheiro.