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    Idosa é resgatada em situação de escravidão em bairro nobre de São Paulo

    Ela trabalhava como empregada doméstica para a família desde 1998 e por 13 anos trabalhou sem carteira assinada, sem férias e 13º

    Giovanna Bronze e Flávia Martins, , da CNN, em São Paulo

    Uma idosa foi resgatada em situação análoga à escravidão em Alto de Pinheiros, um bairro nobre da zona oeste de São Paulo. Ela trabalhava como empregada doméstica para a família desde 1998 e por 13 anos trabalhou sem carteira assinada, sem férias e 13º. Quando foi encontrada, estava sem ter acesso sequer ao banheiro.

    Segundo apuração da CNN, ela foi resgatada em um quarto no quintal do terreno e a porta teve que ser arrombada. A idosa trabalhava para Mariah e Dora Ustundag, que deixaram a residência durante uma madrugada dias atrás e deixaram a senhora abandonada.

    Os empregadores deixaram a casa sem comunicar a vítima em 16 de junho, e a mulher continuou trancada no quintal. No dia 18 de junho, a Polícia Civil entrou na casa para o resgate, e foi até Cotia, na região metropolitana de São paulo, em busca dos responsáveis.

    A Justiça pediu o bloqueio de bens da família em cerca de R$ 1 milhão e solicitou três parcelas de seguro-desemprego para a vítima. Segundo a procuradora que atua no caso, Aline Pedrosa, a denúncia de trabalho escravo e violação de direitos humanos veio por meio do Disque 100.

    A senhora está bem e abrigada na casa de um morador da mesma rua onde foi encontrada. 

    A idosa trabalhava como empregada doméstica para a família desde 1998 e por 13 a
    A idosa trabalhava como empregada doméstica para a família desde 1998 e por 13 anos trabalhou sem carteira assinada, sem férias e 13º
    Foto: Divulgação/Ministério Público do Trabalho

    A empregadora pagou a fiança e foi liberada. A filha dela e o marido, atuais moradores da casa em Alto de Pinheiros, responderão por omissão de socorro, abandono de incapaz e por redução a condição análoga à de escravo.

    Segundo o Ministério Público do Trabalho, a empregadora confirmou em seu depoimento que a doméstica dormia desde o ano de 2017 no quintal e que “não tinha conhecimento de como ela fazia para o usar o banheiro para necessidades e banho”. Ela também disse que a vítima trabalhava como diarista, mas que nos últimos anos não fazia mais trabalhos domésticos e que chegou a morar “de favor”.

    A mulher trabalhava como doméstica para a família desde 1998, sem carteira assinada, férias ou 13º. Segundo o MPT, a mulher não morava no local em que trabalhava no começo, mas, em 2011, a casa em que ela morava foi interditada, fazendo com que a empregadora — uma executiva no ramo de cosméticos — oferecesse a casa da mãe, na qual a idosa ficou por cinco anos. 

    “De acordo com depoimentos, naquele mesmo ano a patroa passou a residir em outra cidade, mas manteve seus serviços para servir a uma das filhas que continuou na casa. A partir de então, a doméstica passou a receber cerca de R$ 400, esporadicamente, ainda que continuasse a realizar todos os serviços, exceto cozinhar”, explicou o MPT.

    Uma das filhas então se mudou para a casa de Alto de Pinheiros, ficando responsável pelo pagamento da doméstica — diminuindo o valor para R$ 250 por mês. 

    “De acordo com depoimentos, a doméstica trabalhava de segunda a sexta-feira na casa da patroa e, paralelamente, cuidava da casa da mãe da patroa, onde morava, fazia a limpeza e pagava as contas de água e luz da residência porque temia que fossem cortadas”, informou o Ministério Público do Trabalho sobre o caso. “No ano de 2017, a casa da mãe da patroa foi vendida e a doméstica passou a morar no depósito no quintal da casa onde foi encontrada.”

    Desde o início da pandemia do novo coronavírus, os patrões não permitiram mais que a mulher entrasse na casa. Eles então a trancaram no quintal, sem banheiro – para o banho, a idosa utilizava um balde e uma caneca. “Segundo consta em depoimentos, em maio a doméstica sofreu um grave acidente de trabalho e não foi socorrida, tendo passado uma semana com dores e hematomas, sem receber alimento ou cuidados”.

    Após a denúncia, a operação de resgate e prisão da empregadora foi conduzida pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa com o Ministério Público do Trabalho em São Paulo e do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo. O caso agora é investigado pela 1ª Delegacia de Repressão a Crimes Contra a Liberdade Individual.

    Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do estado de São Paulo (SSP-SP) informou que “testemunhas foram ouvidas e duas pessoas indiciadas. Uma delas chegou a ser presa em flagrante por abandono de incapaz e liberada após pagamento de fiança. O inquérito também apura os crimes de omissão de socorro e redução à condição análoga a de escravo.”

    As questões trabalhistas, disse a SSP-SP, estão sendo apuradas pelo Ministério Público do Trabalho, e a Secretaria de Justiça e Cidadania presta assistência à vítima.

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