À CNN, Doria cobra ‘senso de urgência’ da Anvisa para aprovação da Butanvac
Governador espera que Anvisa dê aval para uso da vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan em até 90 dias
Em entrevista exclusiva à CNN nesta quarta-feira (28), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse esperar que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorize o uso da Butanvac, candidata a vacina produzida pelo Instituto Butantan, em até 90 dias, e pediu “senso de urgência” à agência.
O governador explicou que a Butanvac tem a mesma tecnologia de vírus inativado que é utilizada nas vacinas contra a gripe, produzidas há décadas pelo Butantan, o que deve acelerar a autorização da agência do governo.
O estado de São Paulo anunciou que o Instituto Butantan começa nesta quarta-feira a produzir a Butanvac. Segundo Doria, serão produzidas 40 milhões de doses até o fim do segundo semestre de 2021, sendo que 18 milhões de doses estarão disponíveis até a primeira quinzena de julho.
De acordo com o governador, é possível que a produção em 2021 passe das 100 milhões de doses.
No entanto, na terça-feira (27), a Anvisa informou que os documentos enviados na sexta-feira (23) pelo Butantan não foram suficientes para a autorização do início dos testes clínicos em humanos. Até o momento, a Butanvac só foi testada em animais.
Em resposta à Anvisa, o Instituto Butantan disse esperar que a agência sanitária brasileira “tenha o devido senso de urgência e aprove o quanto antes o início dos testes”, frase repetida pelo governador João Doria no anúncio desta quarta-feira.
Doria disse ver “com normalidade” a resposta da Anvisa e informou à CNN que o Butantan está trabalhando para entregar até quinta-feira (29) todos os documentos demandados pela agência.
Críticas a Guedes
À CNN, João Doria (PSDB) criticou o ministro da Economia, Paulo Guedes, por afirmar que o novo coronavírus foi “inventado” na China. Para Doria, “não cabe a um ministro da Economia falar sobre ciência, sobre saúde e sobre vacinas, e, principalmente, falar equivocadamente”.
Doria lembrou que a China é o maior provedor de insumos necessários para a fabricação das vacinas Coronavac, feita pelo Instituto Butantan, e Oxford/AstraZeneca, fabricada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
“Ele foi ofensivo, infelizmente. Eu não sei se o ministro Paulo Guedes tem convivido em excesso com o presidente da República, porque pode ficar doente como ele. Sempre respeitei o ministro Paulo Guedes, mas falar uma asnice dessas é lamentável”, afirmou o tucano.
A fala de Guedes aconteceu na terça-feira (27), em reunião do Conselho de Saúde Suplementar, que, sem que o ministro soubesse, estava sendo transmitida pela internet. Horas depois, Guedes pediu desculpas à China e disse ter usado “uma imagem infeliz”.
Após a fala do ministro, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, usou as redes sociais para falar da importância do país na vacinação no Brasil.
“Até o momento a China é o principal fornecedor das vacinas e os insumos ao Brasil, que respondem por 95% do total recebido pelo Brasil e são suficientes para cobrir 60% dos grupos prioritários na fase emergencial. A Coronavac representa 84% das vacinas aplicadas no Brasil”, escreveu no Twitter, sem citar diretamente a fala do ministro.
Na opinião de João Doria, episódios como esse podem trazer preocupação, porque podem comprometer o fluxo de insumos para as vacinas que vêm da China. O governador de São Paulo afirmou que meses atrás “manifestações desairosas” feitas pelo então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, dificultaram a obtenção de insumos pelo Brasil.
Citando também o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e “os filhos do presidente”, sem especificar quais, Doria pediu que aliados de Bolsonaro “fiquem em silêncio”. “Vocês já nos ajudarão muito ficando quietos”, pontuou.
Sobre a Butanvac
A Butanvac foi anunciada no dia 26 de março pelo Instituto Butantan, que já fabrica a Coronavac no Brasil. Na ocasião, Doria disse que iria entregar 40 milhões de doses da vacina já a partir de julho de 2021.
A tecnologia da Butanvac é parecida com a que o Butantan já utiliza na fabricação de imunizantes contra a gripe. A candidata a vacina é desenvolvida também para combater a variante P.1 do novo coronavírus, identificada pela primeira vez em Manaus e que se tornou dominante em várias partes do Brasil.
A Butanvac usa o vetor viral da proteína Spike do novo coronavírus, que foi modificado geneticamente. Apesar da diferença em relação ao vírus da gripe, a produção será feita com os mesmos métodos utilizados pelo Butantan na vacina contra a Influenza.
O provável baixo custo de produção também é um fator positivo da Butanvac, já que os insumos necessários para sua fabricação não são feitos fora do país, como é o caso da Coronavac e da vacina de Oxford/AstraZeneca, produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).