Quem estava se familiarizando com Wagner e Prigozhin deve se preparar para aprender novos nomes
Há outros grupos mercenários na Rússia que podem ocupar o espaço deixado pelo Wagner
A morte de Yevgeny Prigozhin, anunciada pelas autoridades russas e pelo Wagner, pode selar o fim do grupo mercenário. Mas não desse tipo de atividade por parte da Rússia.
Ela é importante demais, tanto do ponto de vista econômico quanto geopolítico.
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Há outros grupos mercenários na Rússia que podem ocupar o espaço deixado pelo Wagner — mas não com a mesma visibilidade. A lei russa — como a de outros países — proíbe a existência de grupos mercenários.
O Wagner foi criado em 2014, quando o presidente Vladimir Putin decidiu invadir o leste da Ucrânia e a Península da Crimeia para impedir o país de ingressar na União Europeia. Putin não quis assumir a invasão e recorreu a Prigozhin para formar esse exército privado secreto.
Logo vislumbraram que havia ali uma oportunidade de a Rússia projetar seu poder em outros países com a menor reação possível da comunidade internacional e ainda cobrar pelos serviços. O grupo foi usado na Síria, para apoiar a ditadura de Bashar Assad, e depois estendeu sua atuação na África: Líbia, Mali, Burkina Faso, República Centro-Africana (RCA), Sudão, Moçambique e, depois do recente golpe militar, Níger.
Em troca, os regimes africanos deram ao grupo acesso à exploração de suas riquezas naturais. Só na RCA, estima-se que o Wagner tenha extraído 45 toneladas de ouro, no valor de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões), segundo o United States Institute of Peace, centro de estudos apartidário do Congresso americano.
Depois do golpe militar de 2021 no Mali, a nova junta no poder expulsou as tropas francesas, que ajudavam o país a combater os jihadistas, e contrataram o Wagner. A nova junta militar do Níger, que há um mês derrubou o primeiro presidente democraticamente eleito do país, Mohamed Bazoum, também ordenou a saída de militares franceses e americanos e promoveu manifestações em favor do Wagner.
Os ditadores militares africanos preferem o Wagner à ajuda ocidental e às próprias Forças Armadas nacionais porque os russos representam oportunidades de negócios lucrativos não só para si mesmos, mas para quem está no poder. E ainda usam um discurso contra o colonialismo ocidental, que ainda é alvo de ressentimento em seus países, embora a Rússia esteja reeditando esse colonialismo.
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Apesar das inúmeras evidências, Prigozhin só assumiu publicamente a existência do Wagner em setembro, no calor da guerra na Ucrânia, na qual os mercenários tiveram um papel importante, diante das inúmeras deficiências das forças regulares russas. O grupo divulgou vídeos de Prigozhin, ele próprio um ex-criminoso condenado e preso por 13 anos, recrutando mercenários nos presídios russos para lutar na Ucrânia.
Prigozhin demonstrou ter mais poder que a Justiça russa: ele soltou milhares de presos em troca de lutarem por seis meses. Depois desse período, seriam absolvidos.
Muitos morreram. Outros voltaram, livres, alguns para suas atividades criminosas. Considerados heróis, e protegidos pela lei, que condena ataques a tudo o que se refere à guerra na Ucrânia, a polícia russa reluta em persegui-los.
Quem só agora estava se familiarizando com os nomes Wagner e Yevgeny Prigozhin deve se preparar para aprender novos nomes.
O mais poderoso grupo mercenário depois do Wagner é o Akhmat, do líder checheno Ramzan Kadyrov, colocado no poder na Chechênia por Putin, depois de destruir a república muçulmana, em uma segunda guerra, e assim esmagar suas aspirações por mais autonomia.
Foi essa guerra, lançada por Putin em 1999, quando era primeiro-ministro, que o tornou conhecido e apreciado pelos russos.
Mas Putin, um ex-espião, gosta de atuar nas sombras. O desejo de Prigozhin de se tornar popular certamente o levou a cair em desgraça. As Forças Armadas regulares negaram armas e munições ao Wagner em pleno combate na Ucrânia. Isso levou ao motim e ao fim do próprio grupo.