Caminho para que redução dos juros seja permanente ainda é longo, avalia economista
Banco Central decidiu, pela primeira vez em três anos, reduzir a taxa de juros em 0,5 ponto percentual e Selic vai a 13,25% ao ano
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou nesta quarta-feira (2) o corte de 0,5 ponto percentual na taxa de juros. Em entrevista à CNN, a professora de economia do Insper, Juliana Inhasz, avaliou que o caminho para certificar que a redução dos juros seja permanente ainda é longo.
“Temos um caminho longo a percorrer, não só no ajuste dos juros, mas também nas implementações de reformas que vão certificar ainda mais esse ambiente macroeconômico para que essa redução dos juros seja permanente, efetiva e positiva para a sociedade”, afirma a especialista.
Com a decisão, a taxa Selic cai, agora, de 13,75% ao ano para 13,25%, representando o primeiro desconto da taxa em três anos. A última vez que o Copom decidiu por reduzir os juros foi em agosto de 2020, quando a taxa passou de 2,25% para 2% ao ano — o menor patamar da história.
Para a economista, a tendência nas próximas reuniões do Copom é de mais cortes na taxa, tendo em vista que a última ata já dava sinais que o ciclo de quedas estava próximo, muito embora com um pouco de reticência quanto ao seu ritmo.
“Começa hoje um ciclo de queda que deve se estender para as próximas reuniões, levando em consideração o caráter técnico do ajuste da taxa de juros, que olha para o mapeamento do mercado e como o mercado está reagido, não só na mudança da taxa Selic, mas a tantas outras variáveis que interferem nas taxas que chegam ao consumidor”, disse Juliana Inhasz.
Segundo a economista, um ciclo de educação da taxa Selic é sustentável a medida que economia cresce, o mercado de crédito para população é restabelecido, as pessoas voltem a consumir e a produção seja retomada, sem que gere pressões inflacionárias.
“Temos espaço para fazer isso [ciclo de redução sustentável], só que para fazer isso a gente não pode esquecer que existe uma outro lado importantíssimo que tem que remar junto com política monetária, que é o lado fiscal. Então, a gente precisa ver a efetividade de reformas, como a tributária e o marco fiscal, para que realmente os resultados sejam permanentes e sustentáveis”, destaca a especialista.
Efeitos da redução
Na avaliação da professora de economia do Insper, os efeitos iniciais da redução da taxa Selic devem ser muito discretos.
“Para que as taxas caiam para os consumidores, para termos uma taxa de um cartão e de empréstimo mais barato a gente também precisa ter melhorias em vários outros indicadores, que vão acontecendo ao logo do tempo, conforme a economia vai reagindo a esse ciclo de queda”, explica.
Considerando que tudo será feito do jeito que deve ser feito, a especialista destaca que os efeitos significativos devem acontecer em alguns meses, com redução de taxas de financiamento, acesso de crédito mais barato e economia crescendo.
“De imediato, os efeitos que vamos sentir, provavelmente, de uma forma mais profunda são só nos investimentos. Os investimentos em renda fixa devem recuar a partir de agora, dando um pouco mais de espaço a renda variável”, afirma a economista.
Por outro lado, Juliana Inhasz destaca que a taxa ainda é alta, o que pode levar muitas pessoas a se sentirem mais atraídas pelos investimentos na renda fixa.
*Sob supervisão de Ana Nunes