CEO da Apple, Tim Cook aposta seu legado em realidade aumentada
Empresa apresentou o Vision Pro, óculos de realidade mista que dará início à nova era de "computação espacial" e à gestão de Cook, uma inovação empolgante como fez Jobs com o iPhone
Quando Tim Cook assumiu o cargo de CEO da Apple no lugar de Steve Jobs, há quase 12 anos, alguns pensaram que a empresa já estava no auge.
Sob o comando de Cook, no entanto, o valor de mercado da Apple aumentou mais de 700%, para quase US$ 3 trilhões. O iPhone continuou a ser um rolo compressor, alimentado por novos recursos e estratégias de preços sob sua supervisão.
E a Apple construiu um robusto negócio de serviços, incluindo produtos pagos de música, TV e jogos, dando à empresa um fluxo constante de receita não dependente da natureza cíclica das vendas de hardware.
Mas o que faltou na Apple na gestão de Cook foi o tipo de inovação de produto massiva e empolgante, vista durante os anos de Jobs, que poderia mudar a forma como as pessoas interagem com a tecnologia. Até agora.
Na semana passada, a Apple apresentou o Vision Pro, os óculos de realidade mista que, segundo a empresa, dará início a uma nova era de “computação espacial”. O headset combina realidade virtual e realidade aumentada, uma tecnologia que sobrepõe imagens virtuais em vídeo ao vivo do mundo real. É o maior e mais arriscado lançamento de produto da Apple em anos.
Há anos, Cook exalta a promessa da realidade aumentada, divulgando seu potencial para ajudar as pessoas a se comunicarem e colaborarem umas com as outras. Em seu evento na semana passada, Cook chamou o headset de “produto revolucionário” e “o primeiro produto que você olha através dele, não para ele”.
Mas Cook também é mais conhecido como um mentor de operações do que um visionário do produto. Os dois maiores lançamentos de produtos de Cook antes do Vision Pro foram o Apple Watch em 2015 e os AirPods no ano seguinte. Esses produtos provaram ser geradores de dinheiro bem-sucedidos, mas não criaram exatamente um novo paradigma para a empresa ou o setor da mesma forma que o iPhone fez com Jobs.
O Vision Pro, que estará à venda no início do ano que vem, pode acabar sendo o produto que define o legado de Cook, seja com sucesso ou com fracasso. E seu sucesso é tudo menos garantido.
A realidade virtual e aumentada continua sendo um mercado a se desenvolver com pouca adoção pelo consumidor convencional.
A Apple planeja cobrar altos US$ 3.499 pelos óculos, que atualmente tem aplicativos e experiências limitadas e exige que os usuários permaneçam conectados a uma bateria do tamanho de um iPhone. E isso sem falar nos desafios de convencer os usuários a usar regularmente um computador atrelado a seus rostos.
“O mundo dos headset é um verdadeiro desafio […] provou ser um desafio criar um mercado de massa para isso”, disse Margaret O’Mara, historiadora de tecnologia e professora da Universidade de Washington.
“O iPhone surgiu depois de muitos anos de empresas, Apple e outras, tentando criar uma espécie de supercomputador no seu bolso, houve um longo histórico de tentativas. E chegou ao mercado quando muita gente já tinha algum tipo de celular”.
Os seguidores da empresa estão divididos sobre o que o headset pode significar para Cook. Nunca é sábio apostar contra a Apple quando se trata de hardware, mas mesmo que a empresa seja bem-sucedida, provavelmente não dará a Cook e à Apple uma história de sucesso no nível do iPhone, dizem alguns.
“É extremamente improvável que saia algo próximo ao [sucesso do] iPhone”, disse Mike Bailey, diretor de pesquisa da FBB Capital Partners. “As duas últimas oportunidades – o relógio era bom, os AirPods eram bons e esta é provavelmente a terceira coisa que é legal. Há um histórico agora em que é extremamente difícil mostrar qualquer tipo de crescimento massivo que se compare ao iPhone”.
Mas Tim Bajarin, analista de longa data da Apple e presidente da empresa de pesquisa de tecnologia de consumo Creative Strategies, sugere que o produto mostra o histórico de inovação da Apple e de Cook. “O que a Apple fez [com o Vision Pro] foi reinventar o computador pessoal”, disse ele. “Acabamos de ver o futuro da computação”.
“Acho que, do ponto de vista de Tim, ele faz isso com uma mentalidade que diz: quando eles vierem até mim dizendo: ‘Isso não pode ser feito’, a gente faz isso acontecer”, disse Bajarin.
Bajarin acrescentou que o Vision Pro reflete o trabalho de Cook para crescer e melhorar o ecossistema da Apple durante seu tempo como CEO. O headset provavelmente não seria possível sem os pequenos e poderosos chips fabricados internamente durante sua gestão.
O pacote de serviços da Apple também deixa mais claro para os consumidores algumas das maneiras pelas quais eles poderão usar o dispositivo, como meditação ou assistir a filmes, mesmo antes que o exército de desenvolvedores terceirizados da empresa crie experiências adicionais para o dispositivo, ele disse.
Por esse argumento, o headset pode servir como ponto culminante para anos de iniciativas de produtos sob o comando de Cook e para seu longo período na empresa.
O legado de Cook já está definido como alguém que criou valor de mercado com sucesso. Com o headset, ele tem a chance de também ser conhecido como alguém que presidiu a criação de um novo produto de abalar a terra. Isso realmente o colocaria na liga de Jobs.