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    Estudo mostra eficiência da taurina na longevidade de vermes e ratos, mas falta pesquisa em humanos

    Sucesso entre praticantes de fisiculturismo por prometer retardar o envelhecimento, suplementação com o aminoácido - encontrado naturalmente no corpo - ainda não foi estudada em humanos

    Sandee LaMotteda CNN

    A taurina – um aminoácido frequentemente usado por fisiculturistas e adicionado a bebidas energéticas ou esportivas, pode ser um “elixir da vida”, de acordo com o autor de um novo estudo. Mas, por enquanto, apenas quando se trata de vermes, ratos e macacos.

    Ela seria útil ou potencialmente prejudicial para humanos? Como ainda não há estudos suficientes para comprovar a eficácia do composto, o melhor é economizar dinheiro, dizem os especialistas.

    Um estudo publicado na quinta-feira (8) na revista “Science” aponta que camundongos fêmeas de meia idade alimentados com altos níveis de taurina viveram 12% mais tempo, em média, do que camundongos que não receberam a substância.

    Já os camundongos machos viveram cerca de 10% mais, afirmou o autor do estudo principal, Vijay Yadav, professor assistente de genética e desenvolvimento na Universidade de Columbia, em Nova York.

    “O estudo sugere que a taurina pode ser um elixir da vida dentro de nós”, disse Yadav em comunicado sobre o estudo.

     

    Pronto para as manchetes?

    Considerado um aminoácido não essencial, a taurina existe no cérebro, na retina e em quase todos os tecidos musculares e órgãos do corpo. Estudos descobriram que ela pode ter efeito anti-inflamatório e neuroprotetor em cérebros mais velhos, mas é potencialmente prejudicial para o cérebro em desenvolvimento de adolescentes. As deficiências de taurina estão ligadas a danos cardíacos, renais e de retina.

    Absorvidos de alimentos como mariscos e carne e distribuídos pelo fígado, os níveis de taurina diminuem com a idade, “mas, se você voltar aos níveis mais jovens, há esse efeito entre os ratos que vivem mais saudáveis por mais tempo”, disse o coautor Henning Wackerhage, professor de biologia do exercício na Universidade Técnica de Munique, na Alemanha.

    Testes em macacos descobriram que aqueles que tomaram suplementos de taurina eram mais magros, tinham melhores níveis de açúcar no sangue, menos danos hepáticos, aumento da densidade óssea, sistema imunológico mais jovem e ganharam menos peso, de acordo com o estudo.

    “Os estudos em várias espécies mostram que a abundância de taurina diminui com a idade e a reversão desse declínio faz com que os animais vivam vidas mais longas e saudáveis”, afirmou Yadav. “Em conclusão, as descobertas devem ser relevantes para os seres humanos”.

    Mas vermes, ratos e macacos não são pessoas, e a ciência está a anos de provar o valor antienvelhecimento da taurina nos seres humanos – se ela existir, alertam especialistas.

    “Não me parece algo pronto para ir para as manchetes e pode ser prejudicial se as pessoas começarem a ingerir mais alimentos de origem animal para aumentar a ingestão de taurina”, opinou o pesquisador em nutrição Walter Willett, professor de epidemiologia e nutrição da Harvard T.H. Chan School of Public Health e de medicina na Harvard Medical School. Ele não fez parte do estudo.

    “Em nossos coortes com mais de 130 mil homens e mulheres seguidos por até 30 anos (com mais de 30 mil mortes), uma maior ingestão de proteína animal foi relacionada à maior mortalidade geral e mortalidade por maioria das principais doenças”, disse Willett. “Alguns estudos adicionais em humanos que usam suplementos de taurina seriam interessantes, mas estamos longe de sugerir o seu uso”.

    A única experiência em humanos no estudo descobriu que o exercício – que é muitas vezes chamado de chave para a longevidade – melhorou os níveis de taurina nas pessoas. No entanto, pode não ser uma relação direta, já que o exercício também reduz o colesterol; melhora o fluxo sanguíneo; reduz a pressão arterial; fortalece os músculos, incluindo o coração; aumenta a energia; melhora o sono e combate doenças crônicas.

    “Eu não gosto de alegações de extensão extrema da longevidade em humanos porque simplesmente não sabemos disso”, pontuou Gordon Lithgow, professor e vice-presidente de assuntos acadêmicos do Buck Institute em Novato, Califórnia, um instituto de pesquisa biomédica independente focado apenas no envelhecimento.

    “Não estou dizendo que não é possível, mas precisamos ter ensaios clínicos duplos cegos adequados em pessoas para ver o que acontece”, continuou Lithgow, cujo laboratório realizou a pesquisa sobre vermes incluída no novo estudo.

    Infelizmente, muitos medicamentos, suplementos, ervas e vitaminas que parecem ser benéficos podem falhar espetacularmente uma vez que a ciência termina toda a pesquisa.

    “Veja o caso da vitamina E. As pessoas tomavam vitamina E há décadas e depois descobrimos que ela certamente não faz nada de bom e pode até ser prejudicial”, exemplificou Lithgow. “É preciso esperar pelos dados do ensaio clínico, que é a única medida real na biomedicina”.

    Apesar dessas ressalvas, “é difícil não ficar animado com este estudo”, comemorou. “Temos algo como 400 milhões de anos de separação entre vermes e pessoas, e ainda assim descobrimos efeitos benéficos com a mesma restauração desse metabólito natural (taurina) em vermes e primatas”.

    Uma investigação extensa

    A pesquisa levou dez anos e envolveu mais de 50 cientistas em laboratórios de todo o mundo que investigaram os impactos da taurina em várias espécies: leveduras, vermes, ratos e macacos.

    Os vermes alimentados com taurina viveram mais tempo e pareciam mais saudáveis, mas a taurina “não teve efeito sobre leveduras”, disse Yadav.

    Ratos suplementados com taurina, no entanto, “eram mais magros, tinham um aumento do gasto energético, aumento da densidade óssea, melhora da força muscular, redução dos comportamentos depressivos e ansiosos, melhora da memória, redução da resistência à insulina e um sistema imunológico mais jovem”.

    Como a taurina faz isso? A resposta ainda não está clara, segundo o pesquisador alemão Wackerhage, “mas é minha opinião subjetiva de que taurina de alguma forma parece atingir a sala de máquinas do envelhecimento”.

    Para Yadav, em um nível metabólico, a taurina parece melhorar a saúde das mitocôndrias, a potência celular do corpo que cria “90% da energia necessária para sustentar a vida e apoiar a função dos órgãos”, de acordo com a United Mitocondrial Disease Foundation.

    A análise de tecidos em camundongos suplementados com taurina também mostrou que o aminoácido suprime as chamadas células “zumbi” ou senescentes – células mais antigas e danificadas que se recusam a morrer e começam a excretar fatores inflamatórios que desencadeiam doenças como Alzheimer e apressam o envelhecimento.

    A taurina também aumentou as células-tronco presentes em alguns tecidos, reduziu os danos no DNA e melhorou a capacidade de uma célula para detectar nutrientes, descobriu o estudo.

    “A taurina pisa no freio de envelhecimento. Ela não coloca o veículo em marcha-ré”, comparou Yadav. “Ela retarda o processo de envelhecimento [desses animais], e é por isso que eles estão vivendo mais e de forma mais saudável’.

    Aguarde as provas

    Os primeiros resultados sobre outros potenciais compostos antienvelhecimento – como a droga para diabetes metformina; o antibiótico antifúngico rapamicina; o resveratrol, um antioxidante encontrado nas uvas; e os precursores da NAD, que ajudam no envelhecimento saudável – têm sido vendidos em grande escala para um público jovem, apesar da falta de provas científicas.

    “Não recomendamos a compra sem recomendação médica”, aconselhou Yadav. “Nossa opinião é que as pessoas precisam esperar que os ensaios clínicos humanos sejam concluídos. Os benefícios em oposição aos fatores de risco dependerão da idade da população estudada”.

    Além disso, Yadav acrescentou, os usuários precisam ter certeza de que qualquer suplemento de taurina comprado no mercado é “não adulterado”.

    Essa é uma questão importante porque os suplementos não são regulados pela Food and Drug Administration dos EUA, disse o doutor Pieter Cohen, professor associado de medicina que administra o Centro de Pesquisa Suplementar da Cambridge Health Alliance em Somerville, Massachusetts.

    Muitos suplementos contêm menos ou mais do que está listado no rótulo, enquanto alguns podem ter aditivos desconhecidos. Um estudo recente do doutor Cohen sobre gomas de melatonina, por exemplo, descobriu que uma marca continha 347% da quantidade de melatonina listada no rótulo, enquanto outro continha apenas canabidiol, ou CBD, que não mencionado no rótulo.

    “Ficar empolgado com um medicamento é bom, pois ele deve passar por um rigoroso processo de aprovação da FDA antes de poder acessá-lo”, disse Cohen. “Mas os suplementos não são regulamentados, o que acaba enganando os consumidores. Eles leem sobre o estudo e podem entrar online e comprar taurina e estar ingerindo-o em poucos dias”.

    Então há o perigo de que as pessoas, incluindo adolescentes, usem bebidas energéticas e esportivas cheias de açúcares não saudáveis e cafeína, juntamente com taurina. Os pesquisadores descobriram entre 750 e 1 000 miligramas por porção de taurina em bebidas energéticas e esportivas – a dieta normal geralmente contém 40 a 400 miligramas por dia.

    Altos níveis de taurina, especialmente em combinação com cafeína em bebidas energéticas e esportivas, podem ser tóxicos para o cérebro e corpo adolescentes em desenvolvimento, de acordo com uma revisão de 2017.

    “Os efeitos cardíacos são exacerbados quando a taurina e a cafeína são ingeridas em conjunto, o que pode ser uma preocupação, uma vez que a cafeína sozinha pode aumentar a pressão arterial e a frequência cardíaca”, observou a avaliação.

    “Embora o cérebro envelhecido ou doente possa se beneficiar da suplementação de taurina ou cafeína, parece que os adolescentes não são suscetíveis de se beneficiar da suplementação e podem, de fato, sofrer efeitos nocivos da ingestão crônica de altas doses”, completou.

    Solução múltipla

    O campo do antienvelhecimento está cheio de novidades e a taurina apenas um dos muitos caminhos potenciais para o Santo Graal da vida mais longa. Estudos clínicos estão em andamento para ver se a metformina de medicamentos para diabetes pode reverter o envelhecimento “porque as pessoas que usam metformina parecem ter um menor risco de outras doenças, como doenças cardiovasculares e doenças neurodegenerativas”, disse Lithgow.

    No final, a ciência vai precisar de “cem tipos diferentes de taurina”. “O envelhecimento é altamente complexo, com muitos processos bioquímicos e tecidos interagindo uns com os outros. Não haverá uma solução única para retardar o envelhecimento”, continuou Lithgow.

    “É provável que precisemos de uma combinação de coisas que já temos em nosso corpo, juntamente com algum desenvolvimento de drogas e soluções bem conhecidas, como prática de exercício e nutrição”.

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