COP 30: a chance de recolocar o Brasil no centro da geopolítica do clima
Ao anunciar que a COP 30 deverá ser realizada em novembro de 2025 em Belém, capital do Pará, o Brasil pode vir a assumir uma responsabilidade que recolocará o País no centro da geopolítica do clima. Ao organizar a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, o Brasil tem a oportunidade de estar à frente de um evento histórico em terras nacionais, equiparável somente com a relevância da Rio 92, realizada há mais de trinta anos.
Quando sediamos a Rio 92, o Brasil foi palco da criação da Agenda 21, roteiro que criou bases para o conceito de desenvolvimento sustentável, além das Convenções do Clima, da Biodiversidade e do Combate à Desertificação. Nos anos mais recentes, as COP têm gerado alertas e discussões sobre a urgência da sociedade em avançar na descarbonização, fundamental para a mitigação do aquecimento global, mas é fato que os resultados desses fóruns em termos de celeridade nas ações têm sido habitualmente frustrantes.
Embora a comunidade científica, o setor privado e as organizações empenhadas na agenda ambiental tenham levantado discussões e apontado caminhos para vencer os enormes desafios que já estamos enfrentando, uma ação concertada no âmbito internacional tem sido quase sempre dispersa e carente de agilidade.
É muito simbólico, por vários motivos, vivenciar a realização de uma edição da conferência do clima no coração da Amazônia. O estado do Pará, com mais de 1,2 milhão de quilômetros quadrados de área, é quatro vezes maior que a Alemanha inteira (357 mil quilômetros quadrados). A maior parte desse enorme estado é ocupada pela Floresta Amazônica, um dos biomas mais importantes para o equilíbrio ambiental do planeta.
Quando chegarmos à época da realização da COP 30, o mundo terá emergido de mais uma eleição presidencial norte-americana, que certamente irá gerar reflexos no mundo, pressionando políticos de todos os espectros. A COP 30 não escapará dessas pressões, e o lado positivo desse panorama é justamente intensificar a necessidade de ações.
O Brasil, como anfitrião, estará em uma situação de extrema visibilidade. Seguiremos como um dos países de maior potencial para a produção de energia verde, seja pela presença relevante de fontes renováveis, pelas matérias-primas verdes, pelo plano de reindustrialização em marcha e também pela reconstrução dos biomas brasileiros.
Ao mesmo tempo, lamentavelmente, é muito provável que a COP 30 encontre o Brasil como um dos cinco maiores emissores de gases nocivos à atmosfera. Isso em função de esforços insuficientes para o combate ao desmatamento e a outras formas de agressão aos nossos biomas. A ameaça constante de grupos criminosos na região amazônica tem colocado o Brasil de forma negativa nas manchetes internacionais. Essa realidade precisa ser enfrentada para que a COP 30 de fato seja um ativo para o Brasil.
Fazer a lição de casa pode não ser tarefa simples, mas também está longe de ser impossível. Não faltam dados para endereçar diversas questões da região: projetos como MapBiomas e Amazônia 2030 já fornecem o retrato atual dos principais pontos a serem atacados. Além disso, nos últimos anos, acompanhamos esforços de agricultura biogenerativa, manejo florestal, precificação de carbono e o mercado regulado de carbono como iniciativas que podem perfeitamente nortear ações para endereçar questões ambientais urgentes do País.
Intrinsecamente ligados à questão ambiental estão os direitos humanos de populações nativas e isoladas que acabam por ser violentamente afetadas por esse panorama crítico da região. Em primeiro lugar, vem o valor das vidas ali ameaçadas e, depois dele, o prejuízo à imagem do Brasil diante dessas violações. Decisões como as do marco temporal, por exemplo, que vão na contramão do que é esperado pela comunidade internacional e a sociedade, precisarão ser revistas. Naturalmente, não vamos resolver todas essas questões até novembro de 2025, mas encaminhar soluções factíveis, holísticas e sistêmicas é uma oportunidade valiosa que o País precisa aproveitar.
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