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    Brasil é carente em infraestrutura e pode ganhar em acordo com chineses, diz pesquisador da FGV

    Empresas do Brasil e da China firmaram diversas parcerias de intercâmbio em infraestrutura e tecnologia

    Diego MendesTamara Nassifda CNN , São Paulo

    Nesta sexta-feira (14), o governo federal anunciou 20 acordos comerciais entre empresas e entes públicos do Brasil e da China durante a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao país asiático. Um dos destaques são as assinaturas relacionadas à infraestrutura. Segundo Lívio Ribeiro, sócio da BRCG e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV/ IBRE), o Brasil é um país que tem carência em infraestruturas grandes.

    “Se tem uma coisa que os chineses sabem fazer é infraestrutura. Esses acordos trazem uma vantagem corporativa ao Brasil e amplia um estreitamento de intercâmbio de novas tecnologias entre os países”, explica.

    Ribeiro cita também que existe uma predisposição em investimento de obras no exterior, podendo ser financiado pelo Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês), presidido pela ex-presidente Dilma Rousseff.

    “O avanço nos financiamentos pelo banco dos Brics pode trazer a possibilidade de barateamento na produção brasileira com o destino para exportação à China”, pontua Ribeiro.

    Um dos acordos firmados no setor de infraestrutura é da ETERC engenharia (empresa brasileira), com a CITIC Construction Co., estatal chinesa. A parceria visa a atuação conjunta em projetos de infraestrutura e no programa de habitação de interesse social no Brasil.

    Dilma defendeu nesta quinta-feira (13) – dia da posse da presidência do NDB – que o banco priorize ações de combate à pobreza e às desigualdades sociais, usando moedas locais para novos projetos de investimento.

    “Vamos desenvolver modelos de financiamento inovadores, capazes de alavancar recursos públicos e privados para obter o máximo impacto. Captaremos recursos dos mais diversos mercados mundiais, em diferentes moedas, como renminbi, dólar e euro. Buscaremos financiar nossos projetos em moedas locais, privilegiando os mercados domésticos e diminuindo a exposição às variações cambiais. Nosso objetivo é construir alternativas financeiras robustas para os países-membros.”

    Ribeiro explicou que os financiamentos no banco dos Brics têm regras estabelecidas que deverão ser cumpridas. “A ideia apresentada, de expansão do banco além dos países signatários, em moeda local, não é fácil, pois, em termo de custo, precisa de garantia e liquidez. Com menos dinheiro local ao invés de dólar, as transações ficam mais caras. Mas, é bem-vinda, desde que criem condições.”

    Acordos entre empresas privadas

    A Suzano assinou três acordos com parceiras chinesas, como a construção de cinco navios de transporte de celulose e produtos de base biológica; colaboração em materiais de base biológica e carbono e investimentos e P&D; e o anúncio do lançamento do Innovability Hub, na Cidade da Ciência de Zhangjiang, em Xangai.

    A Vale formou sete acordos com parceiros chineses visando intercâmbio de conhecimento técnico; pesquisas científicas em siderurgia de baixo carbono; desenvolvimento da primeira motoniveladora zero emissão do mundo; produção de biocarvão e suas aplicações para a descarbonização na indústria siderúrgica.

    Para Ribeiro, esses acordos não significam que eles serão concretizados. “Na verdade, essas negociações são memorando de entendimentos, ou seja, é o início de um processo de parceria estratégia, podendo não acontecer.”

    De acordo com o pesquisador, num curto prazo, essas parcerias não terão efeito prático, pois é necessária uma interação tecnológica, investimentos e disposição na produção. “Porém, para o futuro pode ser positivo. Os acordos estão sendo assinados pensando para frente, em resultados futuros, uma vez que não há ainda um estudo apresentado em cima deles”, pontua.

    Transição energética

    A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, disse nesta sexta-feira que o Brasil e a China terão uma ampla cooperação na proteção de florestas, transição energética e enfrentamento de ações ilícitas.

    Em sei discurso, a ministra afirmou que os dois países também vão colaborar para atingir os objetivos climáticos do Acordo de Paris.

    Na visão do pesquisador da FGV, a China tem muito a ganhar com o Brasil nos acordos que voltados à tecnologia energética.

    “Para os chineses, o acordo nesta área foi positivo, uma vez que a tecnologia de transmissão de energia brasileira é referência no mundo. Energia renovável, como hidroelétrica, solar, enfim, estão muito à frente no Brasil. O país asiático tem muito que aprender nesse setor, principalmente em como interligar sistema”, destaca.

    Neste setor, a Eletrobras e State Grid fecharam parceria para um projeto de revitalização do sistema de transmissão da hidrelétrica de Itaipu.

    Já a SPIC, gigante chinesa com forte atuação em energias renováveis, assinou um memorando com a Prumo Logística para avaliar a viabilidade financeira e técnica de projetos de energia renovável (eólica offshore, solar, hidrogênio “azul”, a partir de gás natural; e “verde”, de fonte renovável) no Porto do Açu (RJ).

    Em relação aos carros elétricos, Ribeiro acredita ser muito difícil essa parceria seguir adiante. Na quinta-feira (13), o presidente Lula se reuniu com o CEO da empresa de veículos elétricos BYD, Wang Chuanfu. A companhia chinesa negocia uma fábrica de automóveis elétricos em Camaçari, na Bahia.

    “Ainda não há demanda para a produção de carros elétricos. A projeção proposta é astronômica. Para isso ser palpável, será necessária criação de políticas públicas para incentivar a venda, não só no Brasil, mas em outros países parceiros”, esclarece Ribeiro.

    *Com informações da Reuters.

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