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    Queimadas aumentam chances de nascimento de bebês prematuros, aponta estudo

    Pesquisas revelam o impacto das queimadas, da variação climática e da poluição do ar na saúde de bebês recém-nascidos no país

    Lucas Rochada CNN , em São Paulo

    A exposição a queimadas, variações de temperatura e poluição do ar durante os primeiros três meses de gestação favorecem as chances de nascimento de bebês prematuros, com má-formação congênita ou com baixo peso. Os dados são de um estudo realizado por pesquisadores da Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

    Em relação a prematuridade, a região Sudeste registrou o maior impacto considerando a exposição às queimadas. O índice encontrou um aumento de chance em 31% para o bebê nascer prematuro, caso as gestantes também tenham sido expostas a este fenômeno durante o primeiro trimestre da gravidez. Enquanto no Norte do país, a chance de uma criança nascer prematura devido a queimadas aumenta em 5%.

    O aumento de 100 focos de queimadas esteve associado a 18,55% de chance a mais de uma criança nascer com baixo peso na região Sul do Brasil, considerando que as mães tenham sido expostas a esses eventos durante os primeiros três meses. O artigo, que também identificou um aumento de aproximadamente 1% para a região Centro-Oeste, foi publicado na revista científica The Lancet.

    Dentre 12 categorias de má-formação congênita analisadas em outro estudo, as mais relevantes foram na região do palato e nariz, que teve um aumento de 0,7%, doenças no sistema respiratório, que foi de 1,3% e no sistema nervoso com 0,2%. As regiões mais afetadas pelo impacto das queimadas na má-formação congênita dos bebês foram no Norte, Sul e Centro-Oeste.

    Impacto da variação climática

    Os fatores baixo peso, prematuridade e má-formação congênita foram investigados também em associação com as variações climáticas. O professor da FGV e coordenador da pesquisa, Weeberb Réquia, explica que esses três quesitos são alguns dos indicadores para categorizar um nascimento saudável, de acordo com a comunidade médica. Além disso, ele destaca que os três primeiros meses de gravidez são fundamentais para a saúde do bebê, pois é o momento crucial de sua formação.

    “Utilizando a mesma metodologia, identificamos que o efeito do clima sobre o nascimento de crianças com baixo peso somente foi relevante na região Norte, em específico na região Amazônica. Com o aumento de 1°C na temperatura, há 5,16% de chance a mais de uma criança nascer com baixo peso”, disse Réquia, em comunicado.

    Ele destaca que esse efeito é acumulativo, ou seja, a cada grau aumentado na temperatura, é somado mais de 5% de chance de a criança nascer fora do peso ideal. “Em estudos na área de epidemiologia ambiental, geralmente, consideramos a associação entre exposição ambiental e saúde em função de um determinado aumento na exposição, para direcionar a relevância do risco e a futura tomada de decisão”, acrescentou.

    O professor destaca que as pesquisas que investigam o impacto das variações climáticas na prematuridade e na má-formação congênita estão em andamento. Os próximos passos incluem investigar o impacto da poluição do ar, também nesses três fatores: baixo peso ao nascer, nascimento precoce e as anomalias congênitas.

    Cruzando os dados

    Para encontrar os resultados, foram utilizados dados de monitoramento de satélite cruzados aos dados de saúde. No estudo sobre as queimadas, os especialistas avaliaram dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que mapeia diariamente os focos de queimadas no Brasil, além dos dados sobre nascimentos provenientes do DataSUS.

    Já em relação ao estudo das variações climáticas, além do DataSUS, foram utilizados dados sobre clima de sensoriamento remoto, aberto ao público, disponibilizados pela Nasa, agência espacial norte-americana.

    “Hoje em dia, a sociedade vive na era dos dados, e cada vez mais, podemos perceber que o mercado está absorvendo esta realidade. Pois, quem tem dados, tem melhores meios de ação. Além disso, o volume de informações não é o mesmo que antigamente. Agora, contamos com uma quantidade muito grande e é para isso que existe ferramentas como Big Data para melhor analisar o potencial das evidências encontradas nos dados”, disse.

    Os dados de satélite permitem o monitoramento de inúmeros fatores no Brasil e no mundo, de acordo com o especialista. “Ao utilizar esses dados, sua aplicação não somente é viável para estudar aspectos da saúde e meio ambiente, como fizemos nessas pesquisas, mas também para diversas áreas como segurança, transporte e economia. Esses achados podem servir de base para criação de políticas públicas e assim contribuir para o desenvolvimento socioeconômico, no nosso país e no mundo”, pontua.

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