Pequim alerta para “impactos” nas relações China-EUA, enquanto presidente de Taiwan desembarca em Nova York
"Taiwan não pode ser isolada", declarou a presidente Tsai Ing-wen após chegar aos Estados Unidos
O relacionamento de Taiwan com os Estados Unidos “nunca foi tão próximo”, disse sua presidente, Tsai Ing-wen, após chegar à cidade de Nova York nesta quarta-feira (30), enquanto Pequim alerta que sua visita poderia levar a um “confronto sério” entre China e Estados Unidos.
Taiwan enfrentou “enormes desafios”, disse Tsai em Nova York, onde está fazendo a primeira das duas escalas planejadas nos Estados Unidos em ambos os lados de uma visita oficial à América Central.
“Sabemos que somos mais fortes quando nos unimos em solidariedade com outras democracias. Taiwan não pode ser isolada e não consideramos a amizade garantida”, disse Tsai em um jantar com membros da comunidade taiwanesa-americana, de acordo com imagens da SET TV, afiliada da CNN em Taiwan.
A visita de Tsai ocorre em um momento de tensões elevadas entre os EUA e a China e já gerou forte condenação de Pequim – que reivindica a democrática Taiwan como seu território, apesar de nunca tê-la controlado.
O trânsito de Tsai nos EUA pode levar a um confronto “sério” no relacionamento entre EUA e China, além de ter um “impacto severo” em seus laços, disse o encarregado de negócios da China, Xu Xueyuan, a repórteres em Washington na quarta-feira (29).
“O que os EUA fizeram prejudica seriamente a soberania e a integridade territorial da China”, disse Xu, acrescentando que os EUA devem arcar com “todas as consequências”.
As viagens de Tsai estão sob escrutínio particular após relatos de que ela se encontrará com o presidente da Câmara dos EUA, Kevin McCarthy, durante uma de suas escalas não oficiais nos EUA – um evento potencial que Pequim prometeu “revidar resolutamente” contra o qual deveria ir adiante.
Taiwan não confirmou tal encontro nem forneceu detalhes sobre o itinerário de Tsai nos Estados Unidos.
Pequim lançou extensos exercícios militares de dias ao redor da ilha em agosto passado, após uma visita da então presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, a Taipei.
Pelosi foi a autoridade americana de mais alto escalão a visitar Taiwan em 25 anos, e a viagem gerou acusações de Pequim de que os EUA estavam mudando a natureza de seu relacionamento com Taiwan – uma afirmação que as autoridades americanas refutaram repetidamente.
Escalas americanas
Tsai disse via Facebook que sua delegação foi recebida por Laura Rosenberger, presidente do Instituto Americano em Taiwan (AIT), a organização que realiza relações não oficiais dos EUA com Taiwan.
Rosenberger e o governador de Nova Jersey, Phil Murphy, fizeram comentários no banquete de boas-vindas a Tsai na noite de quarta.
Falando no evento, Tsai agradeceu ao governo dos EUA por “cumprir seus compromissos de segurança com Taiwan” e mencionou o apoio do Congresso às capacidades de autodefesa de Taiwan, bem como às vendas de armas do governo Biden para o país.
Os EUA são obrigados por lei a vender armas a Taiwan para sua autodefesa, embora tenham encerrado sua relação diplomática formal com Taipei em 1979, quando reconheceram o governo em Pequim.
Devido ao relacionamento não oficial que os EUA têm com Taiwan, o trânsito de Tsai não é caracterizado como uma visita oficial para manter os EUA dentro da política de longa data de “Uma China”.
Sob a política de “Uma China”, os EUA reconhecem a posição da China de que Taiwan faz parte da China, mas nunca reconheceram oficialmente a reivindicação de Pequim à ilha de 23 milhões de habitantes.
As autoridades americanas tentaram minimizar suas escalas como nada incomum e instaram Pequim a não usá-las como desculpa para realizar “atividades agressivas ou coercitivas” destinadas a Taiwan.
Tsai já havia transitado pelos EUA seis vezes enquanto presidente, de acordo com autoridades americanas.
Na quarta-feira, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, enfatizou que tais trânsitos eram “privados” e “não oficiais”.
“A República Popular da China não deve usar este trânsito como pretexto para intensificar qualquer atividade agressiva no Estreito de Taiwan. Os Estados Unidos e a China têm diferenças quando se trata de Taiwan, mas administramos essas diferenças por mais de 40 anos”, disse Kirby.
Nas semanas que antecederam a visita de Tsai, no entanto, Pequim emitiu várias condenações e disse estar entrando em contato com seus colegas americanos sobre relatos de um possível encontro com McCarthy, mesmo que tal encontro em solo americano pudesse ser visto como menos provocativo do que uma visita a Taiwan por um importante legislador dos EUA.
Os atritos entre a China e os EUA sobre o futuro da ilha democrática aumentaram nos últimos anos.
Pequim prometeu tomar a ilha, à força, se necessário, e sob o comando do líder Xi Jinping aumentou a pressão militar, diplomática e econômica sobre a democracia, inclusive atraindo os aliados de Taipei para mudar sua lealdade.
“Pressão externa”
O trânsito de Tsai nos Estados Unidos faz parte de uma viagem internacional mais ampla com visitas de Estado a dois dos aliados diplomáticos de Taiwan, Guatemala e Belize, antes de transitar em Los Angeles para seu retorno em 7 de abril a Taiwan.
Em comentários antes de sua partida, Tsai disse que a “pressão externa” não impediria Taiwan de “se mover em direção à sociedade internacional”.
Guatemala e Belize fazem parte de um punhado de nações que mantêm relações diplomáticas com Taipei.
Esse número caiu para 13 no fim de semana, quando Honduras estabeleceu formalmente relações diplomáticas com a China e as cortou com Taiwan.
Pequim não tem relações diplomáticas com países que reconhecem Taipei.
O presidente hondurenho, Xiomara Castro, visitará a China “em breve” para assinar “acordos auspiciosos”, disse o Ministério das Relações Exteriores de Honduras em um tuíte na quarta-feira, sem especificar uma data.