Metade dos alunos da rede pública de São Paulo diz ter sofrido violência, aponta pesquisa
De acordo com a pesquisa, 48% dos 1.250 alunos ouvidos afirmaram ter sido alvo; bullying é a modalidade mais apontada
Metade dos estudantes da rede pública do Estado de São Paulo diz ter sofrido algum tipo de violência no último ano, de acordo com pesquisa do Instituto Locomotiva encomendada pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).
Os dados foram coletados entre 30 de janeiro e 21 de fevereiro e divulgados nesta quarta-feira (29), dois dias após um adolescente de 13 anos ter feito um ataque na Escola Estadual Thomazia Montoro, na zona oeste da capital paulista, no qual morreu a professora Elisabeth Tenreiro, de 71 anos.
De acordo com a pesquisa, 48% dos 1.250 alunos ouvidos pela pesquisa afirmaram ter sido alvo de violência. Bullying, com 33% dos casos, agressão verbal (24%), discriminação (14%), agressão física (12%) e furto (5%) são as modalidades mais apontadas pelos estudantes.
Em todas, há mais respostas afirmativas entre quem frequenta escolas nas periferias do que em áreas centrais.
Entre os professores, 1 em cada 5 docentes afirma ter sofrido violência no trabalho – a modalidade mais apontada é agressão verbal, com 12%. Da mesma forma que entre os alunos, há maior incidência entre os profissionais das unidades situadas nas periferias.
Quando os dados são projetados para toda a comunidade da rede de ensino, o Locomotiva estima que 1,1 milhão de estudantes e 40 mil professores teriam sido alvo de algum tipo de violência no último ano.
A pesquisa também questionou alunos, professores e familiares dos estudantes sobre a percepção de violência nas escolas estaduais, e todos os grupos registraram índices elevados: 69% dos estudantes, 68% dos docentes e 75% dos pais disseram ver alto grau de violência nas unidades de ensino em geral.
Em relação à unidade que frequentam, 55% dos alunos consideram o grau de violência elevado, percentual que chega a 61% entre os professores e 70% entre os familiares dos estudantes.
Mais uma vez, esses indicadores aumentam quando é feito o recorte para unidades de bairros periféricos, chegando a 86% entre quem leciona nessas escolas e 68% entre os jovens matriculados.
“Faltam funcionários nas escolas, o policiamento no entorno das unidades escolares é deficiente e, sobretudo, não existem políticas de prevenção que envolvam a comunidade escolar”, afirma a presidente da Apeoesp e deputada estadual pelo PT, Professora Bebel.
Renato Meirelles, do Instituto Locomotiva, destaca que também é preciso olhar atento à saúde mental de estudantes e professores – o levantamento mostra que 9 em cada 10 entrevistados, em todos os grupos, concordam que questões como esgotamento e ansiedade se tornaram mais frequentes no retorno às aulas pós-pandemia.
“É necessário um movimento amplo de toda a sociedade para construir uma cultura de paz. precisamos de investimento humano e tecnológico para prevenção e enfrentamento da violência, começando pelos colégios de periferia”, diz Meirelles.