Rússia e China não estão criando aliança militar, diz Putin
Presidente russo discursou na televisão estatal neste domingo (26) após visita de Xi Jinping a Moscou
Rússia e China não estão criando uma aliança militar e a cooperação entre suas forças armadas é “transparente”, disse o presidente Vladimir Putin em comentários transmitidos neste domingo, dias depois de receber o líder chinês Xi Jinping no Kremlin.
Putin e Xi professaram amizade e prometeram laços mais estreitos, inclusive na esfera militar, durante a cúpula de 20 e 21 de março, enquanto a Rússia luta para obter ganhos no campo de batalha no que chama de “operação militar especial” na Ucrânia.
“Não estamos criando nenhuma aliança militar com a China”, disse Putin na televisão estatal. “Sim, temos cooperação na esfera da interação técnico-militar. Não estamos escondendo isso.
“Tudo é transparente, não há nada secreto.”
A China e a Rússia assinaram um acordo de parceria “sem limites” no início de 2022, apenas algumas semanas antes de Putin enviar dezenas de milhares de soldados à Ucrânia. Pequim se absteve de criticar a decisão de Putin e divulgou um plano de paz para a Ucrânia.
O Ocidente rejeitou suas propostas uma vez que as avaliou como uma manobra para ganhar mais tempo para Putin reconstruir suas forças na Ucrânia.
Washington disse recentemente que teme que Pequim possa armar a Rússia, algo que a China nega.
Em seus comentários televisionados, Putin rejeitou sugestões de que o aumento dos laços de Moscou com Pequim em áreas como energia e finanças significava que a Rússia estava se tornando excessivamente dependente da China, dizendo que essas eram as opiniões de “pessoas invejosas”.
“Durante décadas, muitos desejaram virar a China contra a União Soviética e a Rússia, e vice-versa”, disse ele. “Entendemos o mundo em que vivemos. Nós realmente valorizamos nossas relações mútuas e o nível que elas atingiram nos últimos anos.”
‘Otan Global’
Putin também acusou os Estados Unidos e a Otan de tentar construir um novo “eixo” global que, segundo ele, tem alguma semelhança com a aliança da Segunda Guerra Mundial entre a Alemanha nazista, a Itália fascista e o Japão imperial.
Putin nomeou a Austrália, a Nova Zelândia e a Coreia do Sul como estando na fila para ingressar em uma “Otan global” e fez referência a um acordo de defesa assinado pela Grã-Bretanha e Japão no início deste ano.
“É por isso que os analistas ocidentais… estão falando sobre o Ocidente começar a construir um novo eixo semelhante ao criado na década de 1930 pelos regimes fascistas da Alemanha e Itália e do Japão militarista”, disse ele.
O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, visitou o Japão e a Coreia do Sul este ano e destacou a importância da aliança atlântica trabalhar em estreita colaboração com parceiros na região do Indo-Pacífico. Ele também falou sobre o aumento das tensões entre o Ocidente e a China e pediu mais apoio militar à Ucrânia.
Putin descreveu as ações da Rússia na Ucrânia como uma reação defensiva contra um Ocidente hostil e agressivo, traçando paralelos com a luta de Moscou contra as forças alemãs nazistas invasoras durante a Segunda Guerra Mundial.
Kiev e seus aliados ocidentais rejeitam tais sugestões como absurdas, dizendo que Moscou está tentando tomar território e prejudicar a capacidade da Ucrânia de funcionar como um estado independente.
A Ucrânia diz que não pode haver negociações de paz até que todas as forças russas se retirem de seu território. A Rússia diz que a Ucrânia deve aceitar a perda de faixas de território que Moscou afirma ter anexado.
Os comentários de Putin foram feitos um dia depois de ele anunciar que a Rússia colocaria armas nucleares táticas na Bielorrússia, em um aparente alerta à Otan sobre seu apoio militar à Ucrânia.
(Escrito por Alexander Marrow e Gareth Jones; Edição por Louise Heavens, Frances Kerry e Hugh Lawson)