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    Glória Maria e a força da sua representatividade

    Jornalista morreu nesta quinta-feira (2) no Rio de Janeiro

    Letícia Vidicada CNN , São Paulo

    Há quem ainda questione por que representatividade importa. Representatividade concretiza sonhos de gente como eu – da pele escura – que sonha quando se vê. E em algum dia da minha infância, eu olhei pra televisão e vi uma mulher de pele tão escura quanto a minha: ela era Glória Maria. Aquela imagem mudou a minha vida e fez a pequena Letícia acreditar que, sim, seu sonho era possível. Ali nasceu e se concretizou o sonho de ser jornalista.

    Amanheci nesta quinta, dia 2 de fevereiro, dia de Iemanjá (a rainha do mar) com a notícia da morte de Glória Maria. Paralisei, olhos marejaram e, num dia tão significativo pra mim, minha referência vai embora.

    Glória foi referência para todos os pretos e pretas que sonharam e conseguiram se formar em jornalismo. Ela abriu portas e nos mostrou que podemos. Muito além disso, provou que somos sim capazes, competentes, versáteis e profissionais independente da cor da nossa pele. Que podemos e devemos estar onde quisermos e, mesmo que haja o racismo no meio do caminho, seguiremos.

    Sim, Glória foi pioneira e primeira de muitas coisas. Primeira mulher a entrar ao vivo numa transmissão a cores no Jornal Nacional da TV Globo, mesmo jornal que anos depois, eu trabalharia como produtora e onde teria o prazer de conhecer pessoalmente Glória Maria.

    Nos encontramos numa festa de 50 anos do JN e passei quase a festa toda achando uma estratégia de me aproximar dela. Mas, peças do destino, ela olhou pra mim de longe e disse “quero tirar foto com você”. Uma cena improvável mas real. Com sua grandeza e generosidade, ela veio até mim para me conhecer. Jamais esquecerei esse dia.

    Jamais esquecerei de Glória Maria e de tudo que ela representa. Houve um tempo que seria inimaginável pensar em um jornalista preto na TV. Ainda mais se ele fosse mulher. Mas ela foi lá e fez. Se hoje somos alguns e algumas espalhados pelos veículos de comunicação foi porque a porta foi aberta por ela. Ela que costumava que sempre fugiu dos ativismos mas fez o maior deles. Estando, sendo e ocupando.

    Há pouco mais de um ano, me uni a um grupo de jornalistas pretas de vários veículos de comunicação para nos conhecermos, encontrarmos, fortalecermos e vermos que não estamos sozinhas. Coincidência ou não e, claro, numa bela homenagem demos o nome do grupo de Herdeiras de Glória Maria. Sim, somos e seremos sempre herdeiras. Cada uma na sua individualidade, representatividade, com seu talento, profissionalismo mas sempre honrando esse legado deixado por ela. Legado que fez tanta gente preta, como eu, acreditar que podia.

    Obrigada, Glória!

     

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